- A morte de Sara
- Abraão: sua
condição na terra e seu pedido
- A resposta dos
filhos de Hete:
- Reconhecimento
da bênção de Deus sobre Abraão
- Oferta do
empréstimo (uso) de sepulturas
- A insistência de
Abraão e a negociação com Efrom
- Conclusão: A
fidelidade de Deus à Sua Palavra e o início do cumprimento da promessa
- Referências
bibliográficas
A MORTE DE SARA
Tendo Sara vivido cento e vinte e sete anos, morreu em Quiriate-Arba,
que é Hebrom, na terra de Canaã; veio Abraão lamentar Sara e chorar por ela. Gn
23.1-2
A narrativa
começa com a descrição da morte de Sara. Os dois primeiros versículos relatam o
tempo de vida de Sara, o local de sua morte e o lamento de Abraão.
A inclusão do
tempo de vida de Sara demonstra sua importância para o povo de Israel, pois ela
foi a única mulher na Bíblia que teve esse relato registrado.
O local de sua
morte também é relevante, pois ao contrário dos parentes de Abraão, que
permaneceram em Harã, ele e sua família foram morar na terra de Canaã.
Abraão lamentou
grandemente a morte da sua esposa, e esse ritual incluía, provavelmente, rasgar
as próprias vestes, desgrenhar os cabelos, cortar a barba, jogar terra sobre a
cabeça e jejuar.
ABRAÃO: SUA CONDIÇÃO NA TERRA E SEU PEDIDO
Levantou-se, depois, Abraão da presença de sua morta e falou aos filhos
de Hete: Sou estrangeiro e morador entre vós; dai-me a posse de sepultura
convosco, para que eu sepulte a minha morta. Gn 23.3-4
Passado o período
de lamentação pela morte de Sara, Abraão refletiu sobre um local adequado para
sepultá-la. Mas ele sabia que era estrangeiro na terra de Canaã, e, por isso,
não era possuidor de terras.
O que Abraão
faria? As opções mais lógicas seriam:
1- Retornar à
terra de Harã; o problema é que provavelmente a viagem seria muito longa (cerca
de 650 km), demoraria vários dias, e não haveria tempo hábil para chegar até lá
e sepultar o corpo.
2- Sepultar sua
amada esposa em terra estrangeira (Canaã); também não era uma boa opção, pois
Sara seria sepultada em uma cova dos cananeus, onde brevemente seria esquecida.
Abraão não se
agradou dessas opções e teve outra ideia: adquirir na terra de Canaã uma “posse
de sepultura”, ou seja, um lugar que seria seu perpetuamente, onde poderia
sepultar sua esposa e seus descendentes.
A RESPOSTA DOS FILHOS DE HETE
Responderam os filhos de Hete a Abraão, dizendo: Ouve-nos, senhor: tu
és príncipe de Deus entre nós; sepulta numa das nossas melhores sepulturas a tua
morta; nenhum de nós te vedará a sua sepultura, para sepultares a tua morta. Gn
23.5-6
A resposta dos
filhos de Hete, que eram os donos da terra de Canaã, pode ser dividida em duas
partes:
1- Eles reconheciam que a bênção de Deus
estava sobre Abraão, que, apesar de estrangeiro e peregrino, era possuidor de
grande fortuna e bens. Apesar de não pertencer àquela terra, Abraão era
grandemente respeitado pelas pessoas.
2- Apesar de
parecerem extremamente gentis e prestativos, os filhos de Hete ofereceram
apenas o uso das sepulturas, mas não a posse perpétua, como
desejava Abraão.
O que parece uma
“pequena” diferença é, na verdade, um contraste grandioso entre o pretendido
por Abraão e o oferecido pelos filhos de Hete. A oferta do uso das sepulturas
permitiria a Abraão sepultar Sara com todas as honras e rituais da época,
porém, passado o tempo devido, os ossos seriam retirados ou varridos para o
canto da cova, para possibilitar o sepultamento de outras pessoas. Sara seria
sepultada em uma cova comum, que logo seria utilizada para acomodar outras
pessoas da terra de Canaã.
Por outro lado,
Abraão pretendia obter a posse perpétua, que lhe permitiria sepultar Sara e
seus descendentes em um local definitivo.
A oferta dos
filhos de Hete não agradou Abraão, que não desistiu do seu objetivo.
A INSISTÊNCIA DE ABRAÃO E A NEGOCIAÇÃO COM EFROM
Então, se levantou Abraão e se inclinou diante do povo da terra, diante
dos filhos de Hete. E lhes falou, dizendo: Se é do vosso agrado que eu sepulte
a minha morta, ouvi-me e intercedei por mim junto a Efrom, filho de Zoar, para
que ele me dê a caverna de Macpela, que tem no extremo do seu campo; que ma dê
pelo devido preço em posse de sepultura entre vós. Gn 23.7-9
Abraão não se
satisfez com a oferta de uso feita pelos filhos de Hete. Ele se dirigiu
novamente a eles e insistiu em poder adquirir um local por possessão perpétua.
Ele se adiantou em sua fala e indicou o local pretendido, parte de uma
propriedade de Efrom.
Abraão estava
convicto do que queria, e, para que não restassem dúvidas de sua intenção de
adquirir um terreno por posse perpétua, ele afirmou que pagaria o “preço
devido”.
Ora, Efrom, o heteu, sentando-se no meio dos filhos de Hete, respondeu
a Abraão, ouvindo-o os filhos de Hete, a saber, todos os que entravam pela
porta da sua cidade: De modo nenhum, meu senhor; ouve-me: dou-te o campo e
também a caverna que nele está; na presença dos filhos do meu povo te dou;
sepulta a tua morta. Gn 23.10-11
Efrom respondeu
prontamente e com generosidade ao pedido de Abraão. Ele se comprometeu a
dar-lhe a caverna e todo o campo. Abraão pretendia pagar por uma pequena parte
da terra de Efrom, mas Efrom se dispôs a dar (gratuitamente) toda aquela terra
a Abraão.
23.10 Efrom...respondeu. A resposta direta de Efrom indicava que ele
tinha dado a caverna e o campo de livre e espontânea vontade, sem nenhuma
pressão da sociedade, tornado o pedido de propriedade feito por Abraão ainda
mais incontestável. ouvindo-o. Os detalhes asseguravam que a transação
era correta e legal, devidamente testemunhada. porta. As transações
legais ocorriam nos portões da cidade (Rt 4.1).
BÍBLIA DE ESTUDO
DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª
edição, 2009. p.47, comentário sobre Gn 23.10
Então, se inclinou Abraão diante do povo da terra; e falou a Efrom, na
presença do povo da terra, dizendo: Mas, se concordas, ouve-me, peço-te: darei
o preço do campo, toma-o de mim, e sepultarei ali a minha morta. Respondeu-lhe
Efrom: Meu senhor, ouve-me: um terreno que vale quatrocentos siclos de prata,
que é isso entre mim e ti? Sepulta ali a tua morta. Gn 23.12-15
Abraão concordou
com a oferta de Efrom sobre adquirir todo o campo e a caverna, mas insistiu em
pagar por eles. Em resposta, Efrom utilizou uma forma sutil para indicar o
preço pretendido pela propriedade.
Um siclo pesava
cerca de 11,4 gramas de prata, logo, 400 siclos correspondiam a 4,5 kg de
prata.
O preço sugerido
(400 ciclos de prata) parece muito alto se comparado a outros textos bíblicos
que apresentam narrativas de compras de terrenos: Jeremias comprou um terreno
por dezessete siclos (Jr 32.9) e Onri comprou o monte de Samaria por dois
talentos de prata (6.000 siclos) (1 Rs 16.24).
“(...) Quatrocentos siclos por um campo pequeno e uma caverna? Quatrocentos
siclos “seria mais do que 4,5 quilos de prata. Davi pagou somente um oitavo
dessa quantia – 50 siclos de prata – ao comprar de Araúna o terreno do templo
(2Sm 24.24)”. Abraão sabe com certeza que Efrom está tirando vantagem da sua
necessidade desesperada de uma sepultura. Será que ele a comprará a esse preço
exorbitante? Seguirá o costume e regateará o preço até chegar a uma fração do
valor pedido? Mas isso dará a Efrom a chance de desfazer o trato. (...)”
GREIDANUS, S.
Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de
Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 256.
Efrom estava se
aproveitando da situação. O que faria Abraão?
Tendo Abraão ouvido isso a Efrom, pesou-lhe a prata, de que este lhe
falara diante dos filhos de Hete, quatrocentos siclos de prata, moeda corrente
entre os mercadores. Gn 23.16
23.16 Abraão... pesou-lhe. Abraão não tentou negociar; ele queria uma
venda incontestável.
BÍBLIA DE ESTUDO
DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª
edição, 2009. p.48, comentário sobre Gn 23.16
Assim, o campo de Efrom, que estava em Macpela, fronteiro a Manre, o
campo, a caverna, e todo o arvoredo que nele havia, e todo o limite ao redor se
confirmaram por posse a Abraão, na presença dos filhos de Hete, de todos os que
entravam pela porte de sua cidade. Depois, sepultou Abraão a Sara, sua mulher,
na caverna do campo de Macpela, fronteiro a Manre, que é Hebrom, na terra de
Canaã. E assim, pelos filhos de Hete, se confirmou a Abraão o direito do campo
e da caverna que nele estava, em posse de sepultura. Gn 23.17-20
A negociação
chegou ao fim com o pagamento integral do valor proposto por Efrom e aceito por
Abraão que, a partir daquele momento, era dono do terreno e da caverna, em
possessão perpétua.
CONCLUSÃO:
A FIDELIDADE DE DEUS À SUA PALAVRA E O INÍCIO DO CUMPRIMENTO DA
PROMESSA
Mas, por que esta
narrativa é importante para o povo de Israel? Por que o autor se preocupou em
descrever com mais detalhes a negociação de um pequeno terreno (17 versículos)
do que a própria morte de Sara (3 versículos)?
Os capítulos
anteriores de Gênesis relatam que Deus prometeu dar à Abraão e a seus
descendentes a terra de Canaã.
Apareceu o SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra.
Ali edificou Abrão um altar ao SENHOR, que lhe apareceu. Gn 12.7
Levanta-te, percorre esta terra no seu comprimento e na sua largura;
porque eu ta darei. Gn 13.17
Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos caldeus, para
dar-te por herança esta terra. Gn 15.7
Esse texto é
extremamente importante porque nele Deus começa a cumprir a promessa feita a
Abraão vários anos antes, em fidelidade à Sua Palavra.
Abraão vivia há
algum tempo na terra de Canaã, mas não era dono de propriedades. Com a morte de
Sara, ele se preocupou em obter um lugar definitivo para o sepultamento de sua
amada esposa e de seus descendentes. A posse da terra passou a ser uma questão
importante para Abraão.
Na narrativa de
Gênesis 23.1-20 é possível perceber a mão de Deus conduzindo a situação de
acordo com Seu propósito. No início da conversa com os filhos de Hete, Abraão
tinha ciência da impossibilidade de obter terras em Canaã, por ser “estrangeiro
e peregrino”. Mas isso não o impediu de tentar. Ele se aproximou dos donos da
terra e fez sua petição: a posse de sepultura, a posse definitiva de uma terra.
A resposta dos
filhos de Hete já demonstrou a ação de Deus na vida de Abraão. Apesar de ser
estrangeiro, ele era muito bem visto pelo povo da terra. Ele era um homem
honrado no meio dos estranhos.
Essa posição de
destaque fez com que os filhos de Hete oferecessem as melhores sepulturas por
empréstimo. A oferta parecia generosa, mas Abraão confiou em Deus e insistiu no
seu pedido: posse definitiva. Ele foi além: indicou o lugar desejado.
Neste ponto da
narrativa é possível perceber a ação de Deus novamente. Efrom prontamente
ofereceu a doação de todo o terreno e da caverna a Abraão. Deus move os
corações e as mentes de todos, até mesmo dos ímpios, para o cumprimento dos
seus propósitos.
Abraão insistiu
em pagar pelo terreno. Efrom sutilmente apresentou um preço absurdo. Mas o que
parecia um grande empecilho para o êxito do negócio, na verdade, era somente
mais um passo positivo para a conquista de Abraão. O preço não era problema
para ele, pois Deus o havia abençoado com muitos bens e riquezas. Abraão podia
pagar pelo terreno.
Abraão não pensou
duas vezes e pagou o preço sugerido. O negócio estava fechado, ele era o dono
da propriedade. O que se iniciou como uma total impossibilidade foi concluído
com a obtenção do pretendido.
“(...) Pela primeira vez na vida, Abraão é o dono legal de uma
propriedade na Terra Prometida. Ele agora pode sepultar esperançosamente a sua
esposa Sara – na esperança de que algum dia toda essa terra pertencerá à
descendência de Abraão e Sara. (...) Ele a pôde sepultar na sua propriedade, na
terra de Canaã. Sara, a mãe de Israel, pôde ser sepultada na própria herança;
podendo descansar em paz, aguardando o cumprimento das promessas de Deus.
(...)”
GREIDANUS, S.
Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de
Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 256-257.
Deus iniciou ali,
naquele momento histórico, o cumprimento da promessa de dar a Abraão a terra
prometida. Com a compra do terreno, Abraão passou a ter a primeira porção da
terra de Canaã. Deus moveu as pessoas e as situações para dar a Abraão a
primeira porção de terra em Canaã.
“(...) Mais
tarde, Abraão será sepultado na sua possessão na Terra Prometida (25.9,10), e
bem depois dele, Isaque, Rebeca, Lia e Jacó (49.29-32). Durante séculos esse
sepulcrário dos antepassados em Canaã, tanto de homens quanto de mulheres, foi
para Israel um testemunho silencioso de que o Senhor havia começado a cumprir a
sua promessa de dar uma pátria ao seu povo. Até mesmo José, cuja esposa era
egípcia, fez os israelitas no Egito jurarem: “Certamente Deus vos visitará, e
fareis transportar os meus ossos daqui” (Gn 50.25). José quer ser sepultado na
Terra Prometida. Pode-se confiar plenamente no Senhor; ele cumpre a promessa de
dar uma pátria a Israel. (...)”
GREIDANUS, S.
Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de
Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 257.
Deus é fiel à Sua
Palavra. Ele cumpre Suas promessas.
Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras que o SENHOR falara à
casa de Israel; tudo se cumpriu. Js 21.44
1Extraído e
adaptado de: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de
Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 244-259.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÍBLIA DE ESTUDO
DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª
edição, 2009. 1920p.
GREIDANUS, S.
Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de
Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 824 p.
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