sábado, 29 de agosto de 2015

Jesus Cristo no Antigo Testamento - aula 04 - A sepultura de Sara (Gn 23.1-20)


- A morte de Sara
- Abraão: sua condição na terra e seu pedido
- A resposta dos filhos de Hete:
- Reconhecimento da bênção de Deus sobre Abraão
- Oferta do empréstimo (uso) de sepulturas
- A insistência de Abraão e a negociação com Efrom
- Conclusão: A fidelidade de Deus à Sua Palavra e o início do cumprimento da promessa
- Referências bibliográficas


A MORTE DE SARA

Tendo Sara vivido cento e vinte e sete anos, morreu em Quiriate-Arba, que é Hebrom, na terra de Canaã; veio Abraão lamentar Sara e chorar por ela. Gn 23.1-2


A narrativa começa com a descrição da morte de Sara. Os dois primeiros versículos relatam o tempo de vida de Sara, o local de sua morte e o lamento de Abraão.

A inclusão do tempo de vida de Sara demonstra sua importância para o povo de Israel, pois ela foi a única mulher na Bíblia que teve esse relato registrado.

O local de sua morte também é relevante, pois ao contrário dos parentes de Abraão, que permaneceram em Harã, ele e sua família foram morar na terra de Canaã.

Abraão lamentou grandemente a morte da sua esposa, e esse ritual incluía, provavelmente, rasgar as próprias vestes, desgrenhar os cabelos, cortar a barba, jogar terra sobre a cabeça e jejuar.


ABRAÃO: SUA CONDIÇÃO NA TERRA E SEU PEDIDO

Levantou-se, depois, Abraão da presença de sua morta e falou aos filhos de Hete: Sou estrangeiro e morador entre vós; dai-me a posse de sepultura convosco, para que eu sepulte a minha morta. Gn 23.3-4


Passado o período de lamentação pela morte de Sara, Abraão refletiu sobre um local adequado para sepultá-la. Mas ele sabia que era estrangeiro na terra de Canaã, e, por isso, não era possuidor de terras.

O que Abraão faria? As opções mais lógicas seriam:

1- Retornar à terra de Harã; o problema é que provavelmente a viagem seria muito longa (cerca de 650 km), demoraria vários dias, e não haveria tempo hábil para chegar até lá e sepultar o corpo.
2- Sepultar sua amada esposa em terra estrangeira (Canaã); também não era uma boa opção, pois Sara seria sepultada em uma cova dos cananeus, onde brevemente seria esquecida.

Abraão não se agradou dessas opções e teve outra ideia: adquirir na terra de Canaã uma “posse de sepultura”, ou seja, um lugar que seria seu perpetuamente, onde poderia sepultar sua esposa e seus descendentes.


A RESPOSTA DOS FILHOS DE HETE

Responderam os filhos de Hete a Abraão, dizendo: Ouve-nos, senhor: tu és príncipe de Deus entre nós; sepulta numa das nossas melhores sepulturas a tua morta; nenhum de nós te vedará a sua sepultura, para sepultares a tua morta. Gn 23.5-6


A resposta dos filhos de Hete, que eram os donos da terra de Canaã, pode ser dividida em duas partes:

1- Eles reconheciam que a bênção de Deus estava sobre Abraão, que, apesar de estrangeiro e peregrino, era possuidor de grande fortuna e bens. Apesar de não pertencer àquela terra, Abraão era grandemente respeitado pelas pessoas.

2- Apesar de parecerem extremamente gentis e prestativos, os filhos de Hete ofereceram apenas o uso das sepulturas, mas não a posse perpétua, como desejava Abraão.

O que parece uma “pequena” diferença é, na verdade, um contraste grandioso entre o pretendido por Abraão e o oferecido pelos filhos de Hete. A oferta do uso das sepulturas permitiria a Abraão sepultar Sara com todas as honras e rituais da época, porém, passado o tempo devido, os ossos seriam retirados ou varridos para o canto da cova, para possibilitar o sepultamento de outras pessoas. Sara seria sepultada em uma cova comum, que logo seria utilizada para acomodar outras pessoas da terra de Canaã.

Por outro lado, Abraão pretendia obter a posse perpétua, que lhe permitiria sepultar Sara e seus descendentes em um local definitivo.

A oferta dos filhos de Hete não agradou Abraão, que não desistiu do seu objetivo.


A INSISTÊNCIA DE ABRAÃO E A NEGOCIAÇÃO COM EFROM

Então, se levantou Abraão e se inclinou diante do povo da terra, diante dos filhos de Hete. E lhes falou, dizendo: Se é do vosso agrado que eu sepulte a minha morta, ouvi-me e intercedei por mim junto a Efrom, filho de Zoar, para que ele me dê a caverna de Macpela, que tem no extremo do seu campo; que ma dê pelo devido preço em posse de sepultura entre vós. Gn 23.7-9


Abraão não se satisfez com a oferta de uso feita pelos filhos de Hete. Ele se dirigiu novamente a eles e insistiu em poder adquirir um local por possessão perpétua. Ele se adiantou em sua fala e indicou o local pretendido, parte de uma propriedade de Efrom.

Abraão estava convicto do que queria, e, para que não restassem dúvidas de sua intenção de adquirir um terreno por posse perpétua, ele afirmou que pagaria o “preço devido”.

Ora, Efrom, o heteu, sentando-se no meio dos filhos de Hete, respondeu a Abraão, ouvindo-o os filhos de Hete, a saber, todos os que entravam pela porta da sua cidade: De modo nenhum, meu senhor; ouve-me: dou-te o campo e também a caverna que nele está; na presença dos filhos do meu povo te dou; sepulta a tua morta. Gn 23.10-11


Efrom respondeu prontamente e com generosidade ao pedido de Abraão. Ele se comprometeu a dar-lhe a caverna e todo o campo. Abraão pretendia pagar por uma pequena parte da terra de Efrom, mas Efrom se dispôs a dar (gratuitamente) toda aquela terra a Abraão.

23.10 Efrom...respondeu. A resposta direta de Efrom indicava que ele tinha dado a caverna e o campo de livre e espontânea vontade, sem nenhuma pressão da sociedade, tornado o pedido de propriedade feito por Abraão ainda mais incontestável. ouvindo-o. Os detalhes asseguravam que a transação era correta e legal, devidamente testemunhada. porta. As transações legais ocorriam nos portões da cidade (Rt 4.1).
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p.47, comentário sobre Gn 23.10


Então, se inclinou Abraão diante do povo da terra; e falou a Efrom, na presença do povo da terra, dizendo: Mas, se concordas, ouve-me, peço-te: darei o preço do campo, toma-o de mim, e sepultarei ali a minha morta. Respondeu-lhe Efrom: Meu senhor, ouve-me: um terreno que vale quatrocentos siclos de prata, que é isso entre mim e ti? Sepulta ali a tua morta. Gn 23.12-15


Abraão concordou com a oferta de Efrom sobre adquirir todo o campo e a caverna, mas insistiu em pagar por eles. Em resposta, Efrom utilizou uma forma sutil para indicar o preço pretendido pela propriedade.

Um siclo pesava cerca de 11,4 gramas de prata, logo, 400 siclos correspondiam a 4,5 kg de prata.

O preço sugerido (400 ciclos de prata) parece muito alto se comparado a outros textos bíblicos que apresentam narrativas de compras de terrenos: Jeremias comprou um terreno por dezessete siclos (Jr 32.9) e Onri comprou o monte de Samaria por dois talentos de prata (6.000 siclos) (1 Rs 16.24).

“(...) Quatrocentos siclos por um campo pequeno e uma caverna? Quatrocentos siclos “seria mais do que 4,5 quilos de prata. Davi pagou somente um oitavo dessa quantia – 50 siclos de prata – ao comprar de Araúna o terreno do templo (2Sm 24.24)”. Abraão sabe com certeza que Efrom está tirando vantagem da sua necessidade desesperada de uma sepultura. Será que ele a comprará a esse preço exorbitante? Seguirá o costume e regateará o preço até chegar a uma fração do valor pedido? Mas isso dará a Efrom a chance de desfazer o trato. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 256.


Efrom estava se aproveitando da situação. O que faria Abraão?

Tendo Abraão ouvido isso a Efrom, pesou-lhe a prata, de que este lhe falara diante dos filhos de Hete, quatrocentos siclos de prata, moeda corrente entre os mercadores. Gn 23.16


23.16 Abraão... pesou-lhe. Abraão não tentou negociar; ele queria uma venda incontestável.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p.48, comentário sobre Gn 23.16


Assim, o campo de Efrom, que estava em Macpela, fronteiro a Manre, o campo, a caverna, e todo o arvoredo que nele havia, e todo o limite ao redor se confirmaram por posse a Abraão, na presença dos filhos de Hete, de todos os que entravam pela porte de sua cidade. Depois, sepultou Abraão a Sara, sua mulher, na caverna do campo de Macpela, fronteiro a Manre, que é Hebrom, na terra de Canaã. E assim, pelos filhos de Hete, se confirmou a Abraão o direito do campo e da caverna que nele estava, em posse de sepultura. Gn 23.17-20


A negociação chegou ao fim com o pagamento integral do valor proposto por Efrom e aceito por Abraão que, a partir daquele momento, era dono do terreno e da caverna, em possessão perpétua.


CONCLUSÃO:
A FIDELIDADE DE DEUS À SUA PALAVRA E O INÍCIO DO CUMPRIMENTO DA PROMESSA

Mas, por que esta narrativa é importante para o povo de Israel? Por que o autor se preocupou em descrever com mais detalhes a negociação de um pequeno terreno (17 versículos) do que a própria morte de Sara (3 versículos)?

Os capítulos anteriores de Gênesis relatam que Deus prometeu dar à Abraão e a seus descendentes a terra de Canaã.

Apareceu o SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra. Ali edificou Abrão um altar ao SENHOR, que lhe apareceu. Gn 12.7

Levanta-te, percorre esta terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu ta darei. Gn 13.17

Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te por herança esta terra. Gn 15.7


Esse texto é extremamente importante porque nele Deus começa a cumprir a promessa feita a Abraão vários anos antes, em fidelidade à Sua Palavra.

Abraão vivia há algum tempo na terra de Canaã, mas não era dono de propriedades. Com a morte de Sara, ele se preocupou em obter um lugar definitivo para o sepultamento de sua amada esposa e de seus descendentes. A posse da terra passou a ser uma questão importante para Abraão.

Na narrativa de Gênesis 23.1-20 é possível perceber a mão de Deus conduzindo a situação de acordo com Seu propósito. No início da conversa com os filhos de Hete, Abraão tinha ciência da impossibilidade de obter terras em Canaã, por ser “estrangeiro e peregrino”. Mas isso não o impediu de tentar. Ele se aproximou dos donos da terra e fez sua petição: a posse de sepultura, a posse definitiva de uma terra.

A resposta dos filhos de Hete já demonstrou a ação de Deus na vida de Abraão. Apesar de ser estrangeiro, ele era muito bem visto pelo povo da terra. Ele era um homem honrado no meio dos estranhos.

Essa posição de destaque fez com que os filhos de Hete oferecessem as melhores sepulturas por empréstimo. A oferta parecia generosa, mas Abraão confiou em Deus e insistiu no seu pedido: posse definitiva. Ele foi além: indicou o lugar desejado.

Neste ponto da narrativa é possível perceber a ação de Deus novamente. Efrom prontamente ofereceu a doação de todo o terreno e da caverna a Abraão. Deus move os corações e as mentes de todos, até mesmo dos ímpios, para o cumprimento dos seus propósitos.

Abraão insistiu em pagar pelo terreno. Efrom sutilmente apresentou um preço absurdo. Mas o que parecia um grande empecilho para o êxito do negócio, na verdade, era somente mais um passo positivo para a conquista de Abraão. O preço não era problema para ele, pois Deus o havia abençoado com muitos bens e riquezas. Abraão podia pagar pelo terreno.

Abraão não pensou duas vezes e pagou o preço sugerido. O negócio estava fechado, ele era o dono da propriedade. O que se iniciou como uma total impossibilidade foi concluído com a obtenção do pretendido.

“(...) Pela primeira vez na vida, Abraão é o dono legal de uma propriedade na Terra Prometida. Ele agora pode sepultar esperançosamente a sua esposa Sara – na esperança de que algum dia toda essa terra pertencerá à descendência de Abraão e Sara. (...) Ele a pôde sepultar na sua propriedade, na terra de Canaã. Sara, a mãe de Israel, pôde ser sepultada na própria herança; podendo descansar em paz, aguardando o cumprimento das promessas de Deus. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 256-257.


Deus iniciou ali, naquele momento histórico, o cumprimento da promessa de dar a Abraão a terra prometida. Com a compra do terreno, Abraão passou a ter a primeira porção da terra de Canaã. Deus moveu as pessoas e as situações para dar a Abraão a primeira porção de terra em Canaã.

“(...) Mais tarde, Abraão será sepultado na sua possessão na Terra Prometida (25.9,10), e bem depois dele, Isaque, Rebeca, Lia e Jacó (49.29-32). Durante séculos esse sepulcrário dos antepassados em Canaã, tanto de homens quanto de mulheres, foi para Israel um testemunho silencioso de que o Senhor havia começado a cumprir a sua promessa de dar uma pátria ao seu povo. Até mesmo José, cuja esposa era egípcia, fez os israelitas no Egito jurarem: “Certamente Deus vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui” (Gn 50.25). José quer ser sepultado na Terra Prometida. Pode-se confiar plenamente no Senhor; ele cumpre a promessa de dar uma pátria a Israel. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 257.


Deus é fiel à Sua Palavra. Ele cumpre Suas promessas.

Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras que o SENHOR falara à casa de Israel; tudo se cumpriu. Js 21.44


1Extraído e adaptado de: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 244-259.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. 1920p.

GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 824 p.


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