sábado, 5 de setembro de 2015

Jesus Cristo no Antigo Testamento - aula 05 - Jacó e Esaú (Gn 25.19-34)


- A ascendência de Isaque
- A esterilidade de Rebeca: ameaça à manutenção da descendência da mulher?
- As dificuldades da gestação, a consulta de Rebeca e a resposta do Senhor
- O direito de primogenitura e o início do cumprimento da promessa
- Conclusão
- Referências bibliográficas


A ASCENDÊNCIA DE ISAQUE

São estas as gerações de Isaque, filho de Abraão. Abraão gerou a Isaque; Gn 25.19


Este trecho da narrativa bíblica se inicia com o objetivo de informar o leitor a respeito das gerações (descendência) de Isaque. Porém, ao contrário dos textos anteriores, que de imediato já descrevem os descendentes de cada primogênito (fulano gerou beltrano, beltrano gerou ciclano etc), este texto tem a preocupação de relembrar, antes de mais nada, qual era a ascendência de Isaque.

“Isaque, filho de Abraão. Abraão gerou a Isaque”.

Por que esta recordação é importante? Por que o texto bíblico que se propõe a apresentar a descendência de Isaque, se importa, primeiramente, e com destacada ênfase (duas citações seguidas), em deixar claro quem era o pai de Abraão?

“(...) Mas aqui o narrador nos lembra primeiramente que Isaque era “filho de Abraão”. E para enfatizar diz uma vez mais: “Abraão gerou a Isaque”. O narrador quer que Israel e nós relembremos a história de Abraão: como o Senhor o chamou para a terra de Canaã; como o Senhor lhe fez ricas promessas de terra; como o Senhor, acima de tudo, prometeu ser o seu Deus e o Deus da sua descendência; e como o Senhor começou a cumprir essas promessas com o nascimento milagroso de Isaque, a oportunidade de comprar um pequeno lote da Terra Prometida, e finalmente como o Senhor guiou o servo na busca de uma esposa para Isaque. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 291.


O texto bíblico não quer deixar dúvidas quanto à origem de Isaque: ele era o filho da promessa, o filho por meio do qual o Senhor multiplicaria a descendência de Abraão.

Disse mais Abrão: SENHOR Deus, que me haverás de dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa  é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro. A isto respondeu logo o SENHOR, dizendo: Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti será o teu herdeiro. Então, conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade. Gn 15.2-5
Isaque era o descendente da mulher, que manteria viva a promessa de que “um dia, o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente”.

Naquele mesmo dia, fez o SENHOR aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates; Gn 15.18


Por meio dele também estava viva a promessa feita por Deus de dar a Abraão a terra de Canaã, promessa essa que começou a ser cumprida com a compra do terreno que serviu como sepultura para Sara, e que seria integralmente cumprida muitos anos mais tarde.

Portanto, em Isaque, o Senhor Deus mantinha vivas as promessas feitas a Adão e a Abraão:

- A descendência da mulher, de onde viria o Messias;
- A descendência de Abraão, em quem seriam benditas todas as famílias da terra;
- A promessa de dar a terra de Canaã a Abraão.


A ESTERILIDADE DE REBECA: AMEAÇA À MANUTENÇÃO DA DESCENDÊNCIA DA MULHER?

era Isaque de quarenta anos, quando tomou por esposa a Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padã-Arã, e irmã de Labão, o arameu. Isaque orou ao SENHOR por sua mulher, porque ela era estéril; e o SENHOR lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu. Gn 25.20-21


Em seguida, são destacados dois fatos: o casamento de Isaque e a esterilidade de Rebeca.

A recordação do casamento de Isaque é animadora, pois relembra ao leitor que Deus utilizou sua Divina Providência e deu a Isaque a esposa escolhida, que daria filhos a ele, por meio dos quais todas as promessas permaneceriam vivas na mente e no coração do povo.

Contudo, já na sequência o texto apresenta um problema de certa forma inesperado e certamente assustador. Como a esposa do filho da promessa poderia ser estéril? Como a descendência da mulher e de Abraão seriam mantidas?

“(...) Depois de sermos lembrados da providência de Deus ao guiar o servo até uma esposa apropriada para Isaque e o casamento de Isaque e Rebeca, ficamos na expectativa de ouvir acerca do nascimento de filhos. Mas para nossa surpresa, o narrador nos informa que Rebeca é estéril. Brueggemann comenta que “Há aqui outra incongruência. O pai é especial, é o filho da promessa (21.1-7), e a mãe é de boa descendência (25.20). Mas eis que há esterilidade na melhor combinação possível. Não há garantiras naturais quanto ao futuro e nada que garanta a herança da família. Ela tem que confiar unicamente no poder de Deus”. (...)”
BRUEGGEMANN, W. Genesis: A Bible Commentary for Teaching and Preaching. Atlanta: John Knox, 1982, p. 212, in: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 291.


Mas o texto não dá espaço para que o leitor perca a esperança. A estrutura da frase apresenta a correta atitude de Isaque antes mesmo de relatar o problema: “Isaque orou ao Senhor por sua mulher”. Ele buscou resposta na única fonte confiável, o Deus de seu pai Abraão.

“(...) Com seu poder de operar milagres, o fiel Senhor da aliança dá continuidade à linhagem da semente da mulher. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 292.


AS DIFICULDADES DA GESTAÇÃO, A CONSULTA DE REBECA E A RESPOSTA DO SENHOR

Os filhos lutavam no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E consultou ao SENHOR. Respondeu-lhe o SENHOR: Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço. Gn 25.22-23


Deus atendeu a oração de Isaque e permitiu que Rebeca concebesse. Apesar disso, a gestação foi muito difícil, pois os filhos lutavam em seu ventre. A dor era tamanha que fez Rebeca questionar o sentido da vida: “Por que vivo eu?” Mas, ao invés de buscar respostas em lugares diversos, ela buscou o Deus Verdadeiro.

E o benevolente Senhor esclareceu o motivo dessa gestação incomum, tão sofrida: a luta dos dois filhos representava a luta de duas nações, na qual a lei de primogenitura seria invertida pelo decreto divino relevado a Sara: “o mais velho servirá ao mais moço”.

A resposta de Deus continha duas promessas: 1- de Isaque, o filho da promessa, nasceriam duas nações distintas, divididas; 2- o filho mais velho serviria o filho mais novo.

A narrativa bíblica mostra que Esaú deu origem ao povo de Edom e que Jacó deu origem ao povo de Israel. Essas duas nações cresceram e se multiplicaram grandemente, assim como também cresceram a rivalidade e as disputas entre elas.

A segunda promessa era incomum, pois ia de encontro à lei de primogenitura, aos direitos especiais que os primogênitos tinham em relação aos demais irmãos.

Mas ao filho da aborrecida reconhecerá por primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto possuir, porquanto aquele é o primogênito do seu vigor; o direito da primogenitura é dele. Dt 21.17

“(...) primogenitura. O filho mais velho tinha o direito de ser o herdeiro principal da fortuna da família (27.33; Dt 21.17; 1Cr 5.1-2). A herança paterna era dividida pelo número de filhos, e o primeiro sempre tinha direito a duas partes. Por exemplo, se fossem nove filhos, o primeiro receberia duas partes e os outro oitos dividiriam as sete partes restantes. Se fossem apenas dois filhos, o primeiro herdava as duas partes sem deixar nada para o irmão. Ao primogênito também cabia a responsabilidade de ser o protetor da família. Na família da aliança, essa fortuna incluía a promessa do Senhor de dar a Abraão uma descendência na terra que abençoaria todas as nações. A primogenitura era transferível, como nos casos de Judá/Rubén, Efraim/Manassés e Salomão/Adonias.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 52, comentário de Gn 25.31.


Somente Deus, por seu decreto eterno, poderoso e imutável, poderia determinar que Esaú, o primogênito, serviria a Jacó, o filho mais novo. Tal ordem, apesar de incomum, fazia parte do eterno plano redentor divino, prometido em Gênesis 3.15 e mantido pela Sua providência.

Essas promessas são o ponto central do texto. Assim como a vida de Adão foi marcada e guiada pela promessa de Gn 3.15 e a vida de Abraão pela promessa de Gn 12.2-3, as vidas de Jacó e Esaú foram marcadas e guiadas pela promessa de Gn 25.23.


PERSONAGEM
TEXTO BÍBLICO
PROMESSA
Adão
Gn 3.15
Descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente.
Abraão
Gn 12.2-3
De ti farei uma grande nação; em ti serão benditas todas as famílias da terra.
Jacó e Esaú
Gn 25.23
Duas nações distintas; o mais velho servirá o mais moço.


Cumpridos os dias para que desse à luz, eis que se achavam gêmeos no seu ventre. Saiu o primeiro, ruivo, todo revestido de pelo; por isso, lhe chamaram Esaú. Depois, nasceu o irmão; segurava com a mão o calcanhar de Esaú; por isso, lhe chamaram Jacó. Era Isaque de sessenta anos de idade, quando Rebeca lhos deu à luz. Gn 25.22-26


Vinte anos após o casamento, Rebeca deu à luz dois filhos. Enquanto Esaú foi descrito por sua aparência física, Jacó o foi por sua atitude. Esaú era o homem ruivo e peludo. Jacó era o “agarrador de calcanhar”.

“(...) Se estivéssemos sob a total influência dos filmes de caubói, poderíamos pensar em Esaú como o mocinho: o sujeito bronzeado, caçador peludo, homem do campo, honesto e franco; e pensaríamos em Jacó como o bandido: ladino, enganador, filhinho da mamãe. Mas nossas avaliações estão erradas. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 293.


Esaú é descrito como ruivo e peludo. Essas duas características não eram tidas como elogios, pois naquela época havia certo preconceito com pessoas ruivas, e ser peludo poderia significar uma marca de incivilidade, rudeza.

Jacó também não recebeu elogios no nascimento. Sua atitude de agarrar o calcanhar do irmão demonstrava, desde o ventre materno, sua luta para superar o irmão, para ser o primeiro. Essa luta continuaria durante toda a vida deles e dos povos que seriam formados por eles.

As promessas do Senhor reveladas a Rebeca se cumpririam no devido tempo.


O DIREITO DE PRIMOGENITURA E O INÍCIO DO CUMPRIMENTO DA PROMESSA

Cresceram os meninos. Esaú saiu perito caçador, homem do campo; Jacó, porém, homem pacato, habitava em tendas. Isaque amava a Esaú, porque se saboreava da sua caça; Rebeca, porém, amava a Jacó. Gn 25.27-28


Os meninos cresceram e as diferenças entre eles ficaram ainda mais evidentes. Esaú se tornou caçador, homem do campo, muito provavelmente aquilo que se esperava dele, que como dito antes era ruivo e peludo, rude, grosseiro.

Por outro lado, as descrições do adulto Jacó são muito diferentes da descrição do recém-nascido Jacó. Quando bebê, ele foi descrito como o “agarrador de calcanhar”, aquele que queria superar o irmão, passá-lo para trás. Na idade adulta, a narrativa bíblica o descreve como “pacato” e “habitante de tendas”.

O termo “pacato” tem sido descrito como “completo” ou “íntegro”. À primeira vista, isto não parece coerente, pois a mesma narrativa que o chama de homem “completo” e “íntegro” apresenta Jacó como trapaceiro e que toma do irmão o direito de primogenitura. Como entender isso?

Para entender a importância dessa característica de Jacó, é necessário relembrar a ascendência de Jacó e as promessas de Deus dadas a seus pais. Quando Deus mudou o nome de Abrão para Abraão, ele se apresentou como o Todo-Poderoso Criador do Universo, e exigiu que o ainda Abrão andasse na Sua presença e fosse perfeito.

Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito. Gn 17.1


Essa perfeição exigida por Deus é exatamente a integridade descrita como característica de Jacó. Não que Jacó já fosse íntegro naquele momento histórico, mas era isso que ele deveria ser como continuidade da semente da mulher.

A segunda característica de Jacó é que ele “habitava em tendas”. Essa parece ser um alusão a Abraão e Isaque, que também habitavam em tendas em Canaã. Mais do que simplesmente fornecer informações sobre Jacó, as duas características parecem indicá-lo como a semente da mulher, que deveria dar prosseguimento à fé de seus pais nas promessas de Deus e viver de forma a agradá-Lo.

O texto também apresenta o conflito familiar, já que cada um dos pais amava um dos filhos, e por motivos diferentes. Isaque amava Esaú pela comida que ele lhe dava. Rebeca amava Jacó, mas o texto não apresenta um motivo adicional para isso, o que pode indicar que ela o amava na esperança do cumprimento da profecia revelada a ela por Deus: “o mais velho servirá ao mais moço”.

25.28 Isaque amava... Rebeca, porém, amava. O favoritismo paternal promoveu a desavença na família. O favoritismo de Isaque tinha como base o instinto natural; o de Rebeca, a virtude espiritual (cap. 27). A graça soberana de Deus teve de prevalecer sobre o apetite e a apatia de Isaque porque somente Deus tinha autoridade para transferir a bênção e a herança de família (24.36; 25.5). Isaque... se saboreava de sua caça. Adão pecou ao comer, Noé ao beber e Isaque ao saborear.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 52, comentário de Gn 25.28.


O início do cumprimento da promessa estava próximo.

Tinha Jacó feito um cozinhado, quando, esmorecido, veio do campo Esaú e lhe disse: Peço-te que me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido. Daí chamar-se Edom. Disse Jacó: Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura. Ele respondeu: Estou a ponto de morrer; de que me aproveitará o direito de primogenitura? Então, disse Jacó: Jura-me primeiro. Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó. Deu, pois, Jacó a Esaú pão e o cozinhado de lentilhas; ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim, desprezou Esaú o seu direito de primogenitura. Gn 25.29-34


Em um dia comum, talvez como qualquer outro, Esaú chegou do campo, seu local de trabalho, como deveria fazer costumeiramente. Ele estava cansado, o que também não deveria ser nenhuma novidade, pois trabalhava como caçador, um trabalho braçal. Porém, o que parecia ser apenas o final de mais um dia qualquer foi o cenário para um acontecimento singular na história do povo de Deus.

Ao ver uma comida, Esaú pediu grosseiramente a Jacó que lhe desse de comer daquela “coisa vermelha”. Esaú é rude desde o nascimento e fala ao irmão também com rudeza.
25.30 Peço-te que me deixes comer. Esaú era impulsivo. desse cozinhado vermelho. O termo hebraico aqui é grosseiro: “a coisa vermelha, aquela coisa vermelha”.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 52, comentário de Gn 25.30.


Jacó se aproveitou da situação para apresentar sua proposta: a venda do direito de primogenitura. O imediatismo da resposta parece revelar que Jacó estava tramando este plano há muito tempo e estava aguardando a oportunidade perfeita. E ela chegou.

Por mais que Esaú fosse rude, áspero no trato e nas palavras, sua resposta surpreende. Ele não pensou, não considerou na importância do acordo proposto pelo irmão. Só lhe importou a satisfação do desejo imediato, a resolução do problema presente, custasse o que custasse.

Esaú demonstrou que a necessidade física era mais importante para ele do que as promessas do Deus de seu pai e de seu avô.

“(...) A fala e a atitude de Esaú marcam-no como uma pessoa primitiva. Seu interesse está na satisfação imediata de suas necessidades físicas e é incapaz de pensar em coisas abstratas como um direito de primogenitura. Ele nem sabe o que está comendo – ‘desse guisado vermelho’ (ARC) – só sabe que precisa comer logo porque ‘Estou a ponto de morrer’. Os verbos no v. 34 vêm numa sequência sem flexão, enfatizando a natureza simplória do homem. (...)”
BERLIN, A. Poetics and Interpretation of Biblical Narrative. Sheffield: Almond, 1983, in: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 295.


Esaú não era a semente da mulher.

nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu seu direito de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado. Hb 12.16-17

Eu vos tenho amado, diz o SENHOR; mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Não foi Esaú irmão de Jacó? – disse o SENHOR; todavia, amei a Jacó, porém aborreci a Esaú; e fiz dos seus montes uma assolação e dei a sua herança aos chacais do deserto. Ml 1.2-3

“(...) o episódio deixa claro que Esaú não está espiritualmente habilitado para ser o veículo da eleição divina, o portador do direito de primogenitura da semente de Abraão. É também, de maneira geral e demasiada, escravo do momento e da tirania do corpo para vir a ser o progenitor do povo prometido pela aliança divina com um grande destino histórico para cumprir. O fato de vender seu direito de primogenitura nas circunstâncias aqui descritas é em si mesmo uma prova de não merecer conservar o direito de primogenitura. Esaú não é digno. (...)”
ALTER, R. The Art of Biblical Narrative. Nova York: Basic Books, 1981, in: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 296.


Por outro lado, apesar da promessa de Deus e de ter sido escolhido por Ele para ser a continuidade da semente da mulher, Jacó sofreu duramente por suas trapaças, a ponto de reconhecer que sua vida foi marcada por lutas e dias difíceis.

Jacó lhe respondeu: Os dias dos anos das minhas peregrinações são cento e trinta anos; poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida e não chegaram aos dias dos anos da vida de meus pais, nos dias das suas peregrinações. Gn 47.9


CONCLUSÃO

A história de Jacó e Esaú revela a soberania e a graça de Deus na escolha de pessoas indignas para serem o Seu povo. Jacó não tinha o direito legal e grande parte das suas atitudes não foram corretas; ele tentou trapacear desde o nascimento, o fez durante a vida, algumas vezes levou vantagem e em outras obteve prejuízo. Certamente ele não era o padrão humano para dar continuidade à semente da mulher. Mas Deus escolheu Jacó, o conduziu durante toda a sua vida, conforme os propósitos divinos, a fim de cumprir as promessas feitas a Adão e a Abraão, no devido tempo.

As promessas de Deus dadas a Rebeca também foram cumpridas. Os irmãos cresceram, se multiplicaram e deram origem a dois povos rivais, Israel e Edom. O ódio entre eles cresceu a ponto do povo de Israel ser impedido de passar pelas terras de Edom, sob pena de ser iniciada uma guerra (Nm 20.14-21).

Foi Davi quem conquistou completamente o povo de Edom (2Sm 8.13-14). Mas Edom reconquistou sua independência e se aliou à Babilônia para destruir o povo de Israel (Sl 137.7).

O Novo Testamento também apresenta a luta entre essas duas nações. Jesus Cristo é o descendente de Jacó (Mt 1.2), o Messias Prometido. Quando Jesus nasceu, Herodes era o governante de Israel, nomeado por Roma. Herodes tentou matar Jesus, o “rei dos judeus”. Um detalhe interessante nesta história é que Herodes era idumeu, um edomita*. Um filho de Edom tentou de todas as formas matar O filho de Jacó.

Como havia prometido a Adão, Deus garantiu a sobrevivência da semente da mulher. Jesus Cristo nasceu, cresceu, cumpriu sua obra redentora, esmagou a cabeça da serpente e retornou ao céu, de onde reina com poder e de onde voltará para buscar a sua Igreja.

Deus cumpriu as promessas feitas a Adão, Abraão e Jacó. Deus é fiel à Sua Palavra e sempre cumpre suas promessas. A Deus seja toda a glória.


*Para mais informações, ver o texto “A família Herodes”, de E.M. Blaiklock, disponível em: Manual Bíblico SBB; tradução de Lailah de Noronha. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008, p. 627.

1Extraído e adaptado de: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 280-298.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. 1920p.

GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 824 p.

MANUAL BÍBLICO SBB; tradução de Lailah de Noronha. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2008, 815 p.

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