- Introdução
- O que deixamos
para trás: a escravidão
- Como saímos:
pela graça
- Por que saímos:
pela intervenção do Mediador
- Conclusão
- Referências
bibliográficas
INTRODUÇÃO
Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do SENHOR que, hoje, vos
fará; porque os egípcios, que hoje vedes, nunca mais os tornareis a ver. Ex
14.13b
A saída do Egito
foi um dos momentos mais importantes da história do povo de Israel. Certamente
houve uma mistura de sentimentos ali, de um lado pela alegria advinda da
libertação da escravidão após 400 anos, e por outro da angústia e incerteza
quanto ao que aconteceria com eles, já que os egípcios foram ao seu encalço.
Apesar de ter
vivenciado as pragas, o grande milagre da salvação dos primogênitos e de ter
participado da instituição da Páscoa, o povo temeu pela própria vida e reclamou
duramente com Moisés no momento de perigo, desejando, inclusive, ter
permanecido no Egito. Era uma reclamação contra o próprio Senhor Deus.
Mas Deus agiu com
poder através de Moisés, a fim de libertar seu povo escolhido e iniciar a
caminhada rumo à terra prometida, o que se tornou um claro ensinamento quanto
ao que ficou para trás, à forma e ao meio da saída, o que se resume no objetivo
da vida cristã ao longo da história.
O QUE DEIXAMOS PARA TRÁS: A ESCRAVIDÃO
Sendo, pois, anunciado ao rei do Egito que o povo fugia, mudou-se o
coração de Faraó e dos seus oficiais contra o povo, e disseram: Que é isto que
fizemos, permitindo que Israel nos deixasse de servir? Ex 14.5
Pouco tempo
depois de ter permitido a saída do povo de Israel do Egito, o faraó voltou
atrás e percebeu que aquela não havia sido uma boa decisão de sua parte.
O texto relata
que ele se arrepende de ter permitido que Israel deixasse de “servi-lo”. Esta é
uma palavra muito branda para definir a situação, pois na verdade os israelitas
foram escravos dos egípcios por muitos anos. O faraó logo percebeu que a
decisão de libertar seus escravos não foi boa. Diante disso, ele resolveu
persegui-los para reavê-los.
E qual foi a
reação do povo de Israel naquele momento?
E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram os olhos, e eis que
os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então, os filhos de Israel
clamaram ao SENHOR. Disseram a Moisés: Será, por não haver sepulcros no Egito,
que nos tiraste de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos trataste
assim, fazendo-nos sair do Egito? Não é isso o que te dissemos no Egito: deixa-nos,
para que sirvamos os egípcios? Pois melhor nos fora servir aos egípcios do que
morrermos no deserto. Ex 14.10-12
O povo de Israel
temeu muito e clamou ao Senhor, por intermédio de Moisés. Entretanto, o que
deveria ter sido um clamor por libertação e confiança no Deus que já havia dado
tantos sinais de poder e soberania, foi uma reclamação quanto à situação que
demonstrava a falta de confiança do povo em Deus.
E a reclamação
foi acompanhada de uma afirmação falsa. O povo alegou a Moisés que preferia ter
ficado no Egito, e que clamou por isso quando o Senhor apresento o plano de
libertação. Mas, será que eles realmente pediram para permanecerem na condição
de escravos?
O que a narrativa
bíblica diz?
Então, se foram Moisés e Arão e ajuntaram todos os anciãos dos filhos
de Israel. Arão falou todas as palavras que o SENHOR tinha dito a Moisés, e
este fez os sinais à vista do povo. E o povo creu; e, tendo ouvido que o SENHOR
havia visitado os filhos de Israel e lhes vira a aflição, inclinaram-se e o
adoraram. Ex 4.29-31
O relato bíblico
conta que o povo creu e adorou o Senhor, logo após Moisés e Arão terem
apresentado o plano de libertação da escravidão do Egito. Eles não queriam
ficar no Egito, eles creram na libertação. Porém, no momento de dificuldade, a
fé do povo fraquejou.
“(...) Os
israelitas são uma imagem do que somos. Eram escravos, mas essa escravidão
tinha camadas. Eles foram libertos da escravidão, mas, embora já estivessem
livres, os senhores de escravos disseram: “Não! Queremos que vocês voltem”.
Embora os israelitas já estivessem objetivamente libertos da escravidão, os
senhores os queriam de volta; e no coração, subjetivamente, eles ainda não
estavam libertos. Ainda agiam como escravos. É possível tirar as pessoas da
escravidão, mas não é fácil tirar a escravidão de dentro das pessoas. (...)”
CARSON, D.A. As
Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento;
tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 43
Naquele momento
de apreensão, os israelitas demonstraram a Moisés quem ainda eram.
Objetivamente eles já não eram mais escravos, e sim pessoas livres, mas
subjetivamente ainda se viam como escravos.
Objetivamente, os
israelitas já haviam sido libertos da escravidão; eram livres, não estavam mais
debaixo das leis egípcias. Semelhantemente, os cristãos eram escravos do pecado
e estavam debaixo da condenação imposta pela lei de Deus e executada por meio
da sua ira.
Por intermédio de
Jesus Cristo, os cristãos foram libertos da escravidão do pecado e da punição
da lei de Deus, ou seja, foram libertos da ira de Deus. Objetivamente, os
israelitas foram libertos da escravidão do Egito, o que apontava para a
libertação dos cristãos da escravidão do pecado.
Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da
lei, e sim da graça. Rm 6.14
Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo
Jesus. Rm 8.1
Apesar disso,
muitas vezes os cristãos agem como escravos da lei e tentam justificar-se pelas
obras. Assim como o povo de Israel, na primeira dificuldade os cristãos se
“esquecem” de sua condição livre, fraquejam na fé e desejam retornar aos
“benefícios” da escravidão (as panelas de carne).
Ao desejar
retornar à condição de escravo, os cristãos se colocam novamente debaixo da lei
de Deus, e tentam justificar-se pelas suas boas obras. Esse é o segundo estágio
da derrocada espiritual. Para essas pessoas, a fé não é mais suficiente, elas
mesmas tem que fazer algo para apresentar diante de Deus, afim de agradá-lo.
O terceiro
estágio da derrocada espiritual em meio às dificuldades é a comparação entre
suas “boas obras” e as realizadas pelas outras pessoas, a fim de demonstrar sua
superioridade para Deus, como forma de “pressioná-lo” a providenciar uma
recompensa generosa por tanto “esforço espiritual”. Cria-se um “ranking de
beneficiários diante de Deus”.
Porém, como essas
pessoas não conseguem cumprir a lei, os breves momentos de euforia espiritual
não são suficientes para superar o constante e imenso sentimento de culpa que
elas carregam. Elas ainda são escravas em seus corações.
Outro ponto
importante é que muitas pessoas ainda são escravas de sua natureza pecaminosa.
Apesar de libertas objetivamente, elas vivem cometendo os mesmos pecados, em um
constante retorno à escravidão.
“(...) O pecado é
o suicídio lento, garantido e eterno da vontade humana. (...)”
W.G.T. SHEDD,
Sermons to the natural man (New York: Scribner’s, 1871), p. 343, in: CARSON,
D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo
Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p.
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Cada vez que uma
pessoa peca, torna-se mais fácil cometer esse pecado novamente e,
consequentemente, mais difícil resistir a ele. Apesar da culpa objetiva já ter
sido paga por Cristo, subjetivamente essa pessoa vive como escrava do pecado,
da mesma forma que costumava viver anteriormente.
A libertação do
povo no Egito aponta para a nossa libertação em Cristo. Por isso, devemos viver
com a seguinte esperança:
- Já fomos
justificados (passado): somos libertos da penalidade do pecado
- Estamos sendo
santificados (presente): estamos nos libertando do poder do pecado
- Seremos
glorificados (futuro): estaremos livres da presença do pecado
COMO SAÍMOS: PELA GRAÇA
Pensemos por um
momento na situação: de um lado, os egípcios se aproximavam perigosamente para
retomar seus escravos; por outro, o povo murmurava e desejava retornar à
escravidão; e havia um mar à frente. O que se passava na mente de Moisés?
Moisés, porém, respondeu ao povo: Não temais; aquietai-vos e vede o
livramento do SENHOR que, hoje, vos fará; porque os egípcios, que hoje vedes,
nunca mais os tornareis a ver. O SENHOR pelejará por vós, e vós vos calareis.
Ex 14.13-14
“Não temais,
aquietai-vos”. Certamente essas eram as últimas palavras que o povo esperava
ouvir. Como ficar quieto enquanto o inimigo estava cada vez mais perto?
Mas Moisés foi
firme: “Deus é quem fará algo grandioso, vocês verão e se calarão”. No momento
de crise, a ordem era para que o povo ficasse parado e observasse a grande obra
que seria feita pelo Senhor.
E foi exatamente
o que aconteceu. Deus agiu com mão poderosa através de seu servo Moisés e
livrou o povo miraculosamente.
Assim, o SENHOR livrou Israel, naquele dia, da mão dos egípcios; e
Israel viu os egípcios mortos na praia do mar. E viu Israel o grande poder que
o SENHOR exercitara contra os egípcios; e o povo temeu ao SENHOR e confiou no
SENHOR e em Moisés, seu servo. Ex 14.30-31
Deus livrou o
povo de Israel por sua graça. O povo não merecia e não colaborou de nenhuma
forma, apenas Deus agiu e exclusivamente por seu amor. A salvação do povo de
Israel foi por amor e de graça, ou por graça.
Semelhantemente,
a salvação de todos os cristãos ocorre pelo grande amor de Deus e por sua
maravilhosa graça. Nenhuma pessoa colabora para a salvação, é Deus quem planeja
e executa toda a obra no coração e na mente das pessoas.
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é
dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Ef 2.8-9
“(...) Essa é uma
das razões pelas quais nossa religião é absolutamente diferente de todas as
outras. (...) todas as outras religiões são como construir uma ponte. Para
construir uma ponte, você primeiro lança os pilares e depois constrói a ponte
sobre eles. Se o dinheiro acaba, a ponte não leva a lugar nenhum. Existem
algumas pontes assim. E todas as outras religiões são assim. São processos,
tentativas de chegar ao outro lado. As pessoas nunca sentem que chegaram, mas
estão tentando. Em todas as outras religiões, as pessoas estão tentando fazer a
travessia. (...)”
CARSON, D.A. As
Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento;
tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 51
A Bíblia nos
ensina que a ponte já existe e ela vem até nós, ela nos conduz até o Pai. Essa
ponte é Jesus. Não há um processo, uma construção humana para se chegar a Deus.
O único meio é Cristo. Em um momento você é um não regenerado, mas no momento
seguinte é um regenerado, apto a ouvir, entender e obedecer a voz de Deus.
Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê
naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da
morte para a vida. Jo 5.24
O povo de Israel
foi salvo pela fé nas palavras de Moisés, servo de Deus. Os cristãos são salvos
pela fé em Cristo Jesus, o Servo Sofredor que cumpriu fielmente o plano de
redenção elaborado por Deus Pai.
Então, Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o SENHOR, por um forte
vento oriental que soprou toda aquela noite, fez retirar-se o mar, que se
tornou terra seca, e as águas foram divididas. Os filhos de Israel entraram
pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram qual muro à sua direita e à sua
esquerda. Ex 14.21-22
Pela fé, atravessaram o mar Vermelho como por terra seca; tentando-o os
egípcios, foram tragados de todo. Hb 11.29
Uma das
características do processo de amadurecimento na vida cristã é saber ficar
quieto nos momentos de dificuldade. Antes de empreender várias obras, é
necessário aquietar-se e esperar pela ação de Deus, o soberano Senhor que
controla todas as coisas conforme a sua vontade e para o bem dos Seus filhos.
“(...) Quando o povo de Israel saiu do Egito, o Senhor foi pessoalmente
adiante deles em sua shekinah glória (a glória da sua presença), uma coluna de
nuvem de dia e uma coluna de fogo a noite. A presença e o poder de Deus
protegeu seu povo dos inimigos e o conduziu através de todos os perigos. Quando
os levou até o Mar Vermelho, nem um só israelita pereceu quando Deus dividiu as
águas e os conduziu a salvo para o outro lado. Este livramento milagroso
demonstrou dramaticamente a graça preservadora de Deus na proteção dos
escolhidos. Deus os conduziu pessoalmente através deste mundo perigoso rumo à
glória. Nenhum dos eleitos perecerá. (...)”
LAWSON, S.J. Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de
vultos piedosos: volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São
Paulo: Editora Fiel, 2012. p. 118.
POR QUE SAÍMOS: PELA INTERVENÇÃO DO MEDIADOR
A grande maioria
dos leitores da narrativa de Êxodo 14 não vê qualquer problema com a salvação
dos israelitas e a morte dos egípcios. Afinal de contas, os egípcios eram o
povo mau, os senhores de escravos, e os israelitas eram o povo bom, perseguido
e maltratado. Correto?
Definitivamente
não. Se alguém tem essa ideia na mente é porque não entendeu ainda a ideia
central da narrativa.
Assim como os
egípcios, os israelitas eram um povo mau, desobediente e assassino. A história
de seus pais e a história posterior à passagem pelo Mar Vermelho comprova isso.
Sendo assim, por que eles foram salvos e os egípcios não?
O único motivo
pelo qual os israelitas foram salvos é porque eles tinham um Mediador, enquanto
os egípcios não tinham.
Disse o SENHOR a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de
Israel que marchem. Ex 14.15
No momento da
dificuldade, Moisés clamou ao Senhor. Mas o Senhor disse a Moisés que agisse,
que tomasse as providências necessárias para a libertação do povo.
Moisés era o
Mediador entre Deus e os israelitas naquele momento histórico. Ele foi o servo
utilizado pelo Senhor para abrir o mar e providenciar o caminho necessário à
salvação do povo.
É importante
perceber que Moisés apontava para o Grande Mediador, Jesus Cristo, o Deus-homem
que era e é o único caminho para a salvação da humanidade.
Os israelitas
foram salvos somente por um motivo: eles tinham Moisés como mediador. Os
cristãos são salvos por um único motivo: eles têm Jesus Cristo como mediador.
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém
vem ao Pai senão por mim. Jo 14.6
CONCLUSÃO
A saída do Egito
foi um momento magnífico de libertação do povo de Israel. Eles não eram mais
escravos, não estavam mais sob o domínio dos egípcios. Apesar disso, no
primeiro momento de dificuldade, agiram como escravos, desejaram ser escravos e
reclamaram diante de Deus e de Moisés.
Semelhantemente,
os cristãos já foram libertos do domínio do pecado, mas por vezes vivem ainda
como escravos, na tentativa de agradar a Deus com suas obras. Além de não
conseguirem, esse modo de vida leva-os ao aumento do vazio espiritual e da
angústia.
A narrativa
bíblica mostra que Moisés mandou o povo ficar quieto e observar a salvação que
viria do Senhor. Era um momento de crise, mas o povo não deveria fazer nada,
apenas olhar para Deus.
As religiões
criadas pelos homens se apresentam como pontes para o homem alcançar Deus. São
versões modernas da torre de Babel. O homem deve trabalhar, se esforçar
bastante para um dia alcançar a divindade.
Mas o Deus da
Bíblia não requer isso do homem, ao contrário, o homem deve ficar quieto e
observar a grande obra planejada e executada pelo Senhor. Os israelitas foram
salvos pela graça e os cristãos também são salvos pela graça.
Por fim, os
israelitas foram salvos somente porque tinham um mediador, Moisés, o servo
escolhido por Deus para executar o plano divino de salvação naquele momento
histórico. Da mesma forma, os cristãos são salvos por um único motivo: Cristo
executou a obra de salvação perfeitamente, ele morreu e ressuscitou, a fim de
pagar a dívida e dar vida aos seus filhos.
A saída do Egito
representa a libertação do povo rumo à terra prometida e aponta diretamente
para Cristo, o libertador do seu povo, o único capaz de dar vida e levar seus
filhos pelo caminho da salvação, rumo à pátria celestial prometida por Deus
Pai.
1Extraído e
adaptado de: CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o
evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo:
Vida Nova, 2015. p. 37-61.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÍBLIA DE ESTUDO
DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª
edição, 2009. 1920p.
CARSON, D.A. As
Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento;
tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. 224 p.
LAWSON, S.J.
Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de vultos piedosos:
volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São Paulo: Editora
Fiel, 2012. 805 p.
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