domingo, 20 de setembro de 2015

Jesus Cristo no Antigo Testamento - aula 07 - O êxodo (Ex 14)


- Introdução
- O que deixamos para trás: a escravidão
- Como saímos: pela graça
- Por que saímos: pela intervenção do Mediador
- Conclusão
- Referências bibliográficas


INTRODUÇÃO

Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do SENHOR que, hoje, vos fará; porque os egípcios, que hoje vedes, nunca mais os tornareis a ver. Ex 14.13b


A saída do Egito foi um dos momentos mais importantes da história do povo de Israel. Certamente houve uma mistura de sentimentos ali, de um lado pela alegria advinda da libertação da escravidão após 400 anos, e por outro da angústia e incerteza quanto ao que aconteceria com eles, já que os egípcios foram ao seu encalço.

Apesar de ter vivenciado as pragas, o grande milagre da salvação dos primogênitos e de ter participado da instituição da Páscoa, o povo temeu pela própria vida e reclamou duramente com Moisés no momento de perigo, desejando, inclusive, ter permanecido no Egito. Era uma reclamação contra o próprio Senhor Deus.

Mas Deus agiu com poder através de Moisés, a fim de libertar seu povo escolhido e iniciar a caminhada rumo à terra prometida, o que se tornou um claro ensinamento quanto ao que ficou para trás, à forma e ao meio da saída, o que se resume no objetivo da vida cristã ao longo da história.


O QUE DEIXAMOS PARA TRÁS: A ESCRAVIDÃO

Sendo, pois, anunciado ao rei do Egito que o povo fugia, mudou-se o coração de Faraó e dos seus oficiais contra o povo, e disseram: Que é isto que fizemos, permitindo que Israel nos deixasse de servir? Ex 14.5

  
Pouco tempo depois de ter permitido a saída do povo de Israel do Egito, o faraó voltou atrás e percebeu que aquela não havia sido uma boa decisão de sua parte.

O texto relata que ele se arrepende de ter permitido que Israel deixasse de “servi-lo”. Esta é uma palavra muito branda para definir a situação, pois na verdade os israelitas foram escravos dos egípcios por muitos anos. O faraó logo percebeu que a decisão de libertar seus escravos não foi boa. Diante disso, ele resolveu persegui-los para reavê-los.

E qual foi a reação do povo de Israel naquele momento?

E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram os olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então, os filhos de Israel clamaram ao SENHOR. Disseram a Moisés: Será, por não haver sepulcros no Egito, que nos tiraste de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos trataste assim, fazendo-nos sair do Egito? Não é isso o que te dissemos no Egito: deixa-nos, para que sirvamos os egípcios? Pois melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto. Ex 14.10-12


O povo de Israel temeu muito e clamou ao Senhor, por intermédio de Moisés. Entretanto, o que deveria ter sido um clamor por libertação e confiança no Deus que já havia dado tantos sinais de poder e soberania, foi uma reclamação quanto à situação que demonstrava a falta de confiança do povo em Deus.

E a reclamação foi acompanhada de uma afirmação falsa. O povo alegou a Moisés que preferia ter ficado no Egito, e que clamou por isso quando o Senhor apresento o plano de libertação. Mas, será que eles realmente pediram para permanecerem na condição de escravos?

O que a narrativa bíblica diz?

Então, se foram Moisés e Arão e ajuntaram todos os anciãos dos filhos de Israel. Arão falou todas as palavras que o SENHOR tinha dito a Moisés, e este fez os sinais à vista do povo. E o povo creu; e, tendo ouvido que o SENHOR havia visitado os filhos de Israel e lhes vira a aflição, inclinaram-se e o adoraram. Ex 4.29-31


O relato bíblico conta que o povo creu e adorou o Senhor, logo após Moisés e Arão terem apresentado o plano de libertação da escravidão do Egito. Eles não queriam ficar no Egito, eles creram na libertação. Porém, no momento de dificuldade, a fé do povo fraquejou.

“(...) Os israelitas são uma imagem do que somos. Eram escravos, mas essa escravidão tinha camadas. Eles foram libertos da escravidão, mas, embora já estivessem livres, os senhores de escravos disseram: “Não! Queremos que vocês voltem”. Embora os israelitas já estivessem objetivamente libertos da escravidão, os senhores os queriam de volta; e no coração, subjetivamente, eles ainda não estavam libertos. Ainda agiam como escravos. É possível tirar as pessoas da escravidão, mas não é fácil tirar a escravidão de dentro das pessoas. (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 43


Naquele momento de apreensão, os israelitas demonstraram a Moisés quem ainda eram. Objetivamente eles já não eram mais escravos, e sim pessoas livres, mas subjetivamente ainda se viam como escravos.

Objetivamente, os israelitas já haviam sido libertos da escravidão; eram livres, não estavam mais debaixo das leis egípcias. Semelhantemente, os cristãos eram escravos do pecado e estavam debaixo da condenação imposta pela lei de Deus e executada por meio da sua ira.

Por intermédio de Jesus Cristo, os cristãos foram libertos da escravidão do pecado e da punição da lei de Deus, ou seja, foram libertos da ira de Deus. Objetivamente, os israelitas foram libertos da escravidão do Egito, o que apontava para a libertação dos cristãos da escravidão do pecado.

Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça. Rm 6.14

Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Rm 8.1


Apesar disso, muitas vezes os cristãos agem como escravos da lei e tentam justificar-se pelas obras. Assim como o povo de Israel, na primeira dificuldade os cristãos se “esquecem” de sua condição livre, fraquejam na fé e desejam retornar aos “benefícios” da escravidão (as panelas de carne).

Ao desejar retornar à condição de escravo, os cristãos se colocam novamente debaixo da lei de Deus, e tentam justificar-se pelas suas boas obras. Esse é o segundo estágio da derrocada espiritual. Para essas pessoas, a fé não é mais suficiente, elas mesmas tem que fazer algo para apresentar diante de Deus, afim de agradá-lo.

O terceiro estágio da derrocada espiritual em meio às dificuldades é a comparação entre suas “boas obras” e as realizadas pelas outras pessoas, a fim de demonstrar sua superioridade para Deus, como forma de “pressioná-lo” a providenciar uma recompensa generosa por tanto “esforço espiritual”. Cria-se um “ranking de beneficiários diante de Deus”.

Porém, como essas pessoas não conseguem cumprir a lei, os breves momentos de euforia espiritual não são suficientes para superar o constante e imenso sentimento de culpa que elas carregam. Elas ainda são escravas em seus corações.

Outro ponto importante é que muitas pessoas ainda são escravas de sua natureza pecaminosa. Apesar de libertas objetivamente, elas vivem cometendo os mesmos pecados, em um constante retorno à escravidão.

“(...) O pecado é o suicídio lento, garantido e eterno da vontade humana. (...)”
W.G.T. SHEDD, Sermons to the natural man (New York: Scribner’s, 1871), p. 343, in: CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 46


Cada vez que uma pessoa peca, torna-se mais fácil cometer esse pecado novamente e, consequentemente, mais difícil resistir a ele. Apesar da culpa objetiva já ter sido paga por Cristo, subjetivamente essa pessoa vive como escrava do pecado, da mesma forma que costumava viver anteriormente.

A libertação do povo no Egito aponta para a nossa libertação em Cristo. Por isso, devemos viver com a seguinte esperança:

- Já fomos justificados (passado): somos libertos da penalidade do pecado
- Estamos sendo santificados (presente): estamos nos libertando do poder do pecado
- Seremos glorificados (futuro): estaremos livres da presença do pecado


COMO SAÍMOS: PELA GRAÇA

Pensemos por um momento na situação: de um lado, os egípcios se aproximavam perigosamente para retomar seus escravos; por outro, o povo murmurava e desejava retornar à escravidão; e havia um mar à frente. O que se passava na mente de Moisés?

Moisés, porém, respondeu ao povo: Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do SENHOR que, hoje, vos fará; porque os egípcios, que hoje vedes, nunca mais os tornareis a ver. O SENHOR pelejará por vós, e vós vos calareis. Ex 14.13-14


“Não temais, aquietai-vos”. Certamente essas eram as últimas palavras que o povo esperava ouvir. Como ficar quieto enquanto o inimigo estava cada vez mais perto?

Mas Moisés foi firme: “Deus é quem fará algo grandioso, vocês verão e se calarão”. No momento de crise, a ordem era para que o povo ficasse parado e observasse a grande obra que seria feita pelo Senhor.

E foi exatamente o que aconteceu. Deus agiu com mão poderosa através de seu servo Moisés e livrou o povo miraculosamente.

Assim, o SENHOR livrou Israel, naquele dia, da mão dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar. E viu Israel o grande poder que o SENHOR exercitara contra os egípcios; e o povo temeu ao SENHOR e confiou no SENHOR e em Moisés, seu servo. Ex 14.30-31


Deus livrou o povo de Israel por sua graça. O povo não merecia e não colaborou de nenhuma forma, apenas Deus agiu e exclusivamente por seu amor. A salvação do povo de Israel foi por amor e de graça, ou por graça.

Semelhantemente, a salvação de todos os cristãos ocorre pelo grande amor de Deus e por sua maravilhosa graça. Nenhuma pessoa colabora para a salvação, é Deus quem planeja e executa toda a obra no coração e na mente das pessoas.

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Ef 2.8-9

“(...) Essa é uma das razões pelas quais nossa religião é absolutamente diferente de todas as outras. (...) todas as outras religiões são como construir uma ponte. Para construir uma ponte, você primeiro lança os pilares e depois constrói a ponte sobre eles. Se o dinheiro acaba, a ponte não leva a lugar nenhum. Existem algumas pontes assim. E todas as outras religiões são assim. São processos, tentativas de chegar ao outro lado. As pessoas nunca sentem que chegaram, mas estão tentando. Em todas as outras religiões, as pessoas estão tentando fazer a travessia. (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 51


A Bíblia nos ensina que a ponte já existe e ela vem até nós, ela nos conduz até o Pai. Essa ponte é Jesus. Não há um processo, uma construção humana para se chegar a Deus. O único meio é Cristo. Em um momento você é um não regenerado, mas no momento seguinte é um regenerado, apto a ouvir, entender e obedecer a voz de Deus.

Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Jo 5.24


O povo de Israel foi salvo pela fé nas palavras de Moisés, servo de Deus. Os cristãos são salvos pela fé em Cristo Jesus, o Servo Sofredor que cumpriu fielmente o plano de redenção elaborado por Deus Pai.

Então, Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o SENHOR, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez retirar-se o mar, que se tornou terra seca, e as águas foram divididas. Os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram qual muro à sua direita e à sua esquerda. Ex 14.21-22

Pela fé, atravessaram o mar Vermelho como por terra seca; tentando-o os egípcios, foram tragados de todo. Hb 11.29


Uma das características do processo de amadurecimento na vida cristã é saber ficar quieto nos momentos de dificuldade. Antes de empreender várias obras, é necessário aquietar-se e esperar pela ação de Deus, o soberano Senhor que controla todas as coisas conforme a sua vontade e para o bem dos Seus filhos.

“(...) Quando o povo de Israel saiu do Egito, o Senhor foi pessoalmente adiante deles em sua shekinah glória (a glória da sua presença), uma coluna de nuvem de dia e uma coluna de fogo a noite. A presença e o poder de Deus protegeu seu povo dos inimigos e o conduziu através de todos os perigos. Quando os levou até o Mar Vermelho, nem um só israelita pereceu quando Deus dividiu as águas e os conduziu a salvo para o outro lado. Este livramento milagroso demonstrou dramaticamente a graça preservadora de Deus na proteção dos escolhidos. Deus os conduziu pessoalmente através deste mundo perigoso rumo à glória. Nenhum dos eleitos perecerá. (...)”
LAWSON, S.J. Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de vultos piedosos: volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, 2012. p. 118.


POR QUE SAÍMOS: PELA INTERVENÇÃO DO MEDIADOR

A grande maioria dos leitores da narrativa de Êxodo 14 não vê qualquer problema com a salvação dos israelitas e a morte dos egípcios. Afinal de contas, os egípcios eram o povo mau, os senhores de escravos, e os israelitas eram o povo bom, perseguido e maltratado. Correto?

Definitivamente não. Se alguém tem essa ideia na mente é porque não entendeu ainda a ideia central da narrativa.

Assim como os egípcios, os israelitas eram um povo mau, desobediente e assassino. A história de seus pais e a história posterior à passagem pelo Mar Vermelho comprova isso. Sendo assim, por que eles foram salvos e os egípcios não?

O único motivo pelo qual os israelitas foram salvos é porque eles tinham um Mediador, enquanto os egípcios não tinham.

Disse o SENHOR a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. Ex 14.15


No momento da dificuldade, Moisés clamou ao Senhor. Mas o Senhor disse a Moisés que agisse, que tomasse as providências necessárias para a libertação do povo.

Moisés era o Mediador entre Deus e os israelitas naquele momento histórico. Ele foi o servo utilizado pelo Senhor para abrir o mar e providenciar o caminho necessário à salvação do povo.

É importante perceber que Moisés apontava para o Grande Mediador, Jesus Cristo, o Deus-homem que era e é o único caminho para a salvação da humanidade.

Os israelitas foram salvos somente por um motivo: eles tinham Moisés como mediador. Os cristãos são salvos por um único motivo: eles têm Jesus Cristo como mediador.

Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Jo 14.6


CONCLUSÃO

A saída do Egito foi um momento magnífico de libertação do povo de Israel. Eles não eram mais escravos, não estavam mais sob o domínio dos egípcios. Apesar disso, no primeiro momento de dificuldade, agiram como escravos, desejaram ser escravos e reclamaram diante de Deus e de Moisés.

Semelhantemente, os cristãos já foram libertos do domínio do pecado, mas por vezes vivem ainda como escravos, na tentativa de agradar a Deus com suas obras. Além de não conseguirem, esse modo de vida leva-os ao aumento do vazio espiritual e da angústia.

A narrativa bíblica mostra que Moisés mandou o povo ficar quieto e observar a salvação que viria do Senhor. Era um momento de crise, mas o povo não deveria fazer nada, apenas olhar para Deus.

As religiões criadas pelos homens se apresentam como pontes para o homem alcançar Deus. São versões modernas da torre de Babel. O homem deve trabalhar, se esforçar bastante para um dia alcançar a divindade.

Mas o Deus da Bíblia não requer isso do homem, ao contrário, o homem deve ficar quieto e observar a grande obra planejada e executada pelo Senhor. Os israelitas foram salvos pela graça e os cristãos também são salvos pela graça.

Por fim, os israelitas foram salvos somente porque tinham um mediador, Moisés, o servo escolhido por Deus para executar o plano divino de salvação naquele momento histórico. Da mesma forma, os cristãos são salvos por um único motivo: Cristo executou a obra de salvação perfeitamente, ele morreu e ressuscitou, a fim de pagar a dívida e dar vida aos seus filhos.

A saída do Egito representa a libertação do povo rumo à terra prometida e aponta diretamente para Cristo, o libertador do seu povo, o único capaz de dar vida e levar seus filhos pelo caminho da salvação, rumo à pátria celestial prometida por Deus Pai.


1Extraído e adaptado de: CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 37-61.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. 1920p.

CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. 224 p.

LAWSON, S.J. Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de vultos piedosos: volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, 2012. 805 p.


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