terça-feira, 15 de setembro de 2015

Jesus Cristo no Antigo Testamento - aula 06 - José (Gn 37, 39-41)


- José vendido como escravo
- José na casa de Potifar
- José como governador do Egito
- Conclusão
- Referências bibliográficas


JOSÉ VENDIDO COMO ESCRAVO1

Esta é a história de Jacó. Tendo José dezessete anos, apascentava os rebanhos com seus irmãos; sendo ainda jovem, acompanhava os filhos de Bila e os filhos de Zilpa, mulheres de seu pai; e trazia más notícias deles a seu pai. Ora, Israel amava mais a José que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica talar de mangas compridas. Vendo, pois, seus irmãos que o pai o amava mais que a todos os outros filhos, odiaram-no e já não podiam lhe falar pacificamente. Gn 37.2-4


Este texto narra o início da história de José. Ele é apresentado como um adolescente de 17 anos imaturo, aprendiz de pastor e delator dos seus irmãos. Não parecia ser uma pessoa agradável de lidar.

Apesar disso, o texto diz que seu pai o amava mais do que os demais filhos, por ser “o filho da sua velhice”. Essa expressão indica que José era o tão esperado filho dado a Jacó por Raquel. Dez filhos depois, finalmente Jacó viu seu desejo realizado: ter um filho com sua amada esposa.

E Jacó não tinha receio de demonstrar esse favoritismo. Apesar de ter 11 filhos homens, ele fez uma roupa especial apenas para José, uma túnica talar de mangas compridas.

“(...) a túnica era provavelmente uma vestimenta especial – diferenciada das túnicas normais por ser muito longa e de mangas compridas. Tal roupa era provavelmente mais do que um símbolo do amor especial de Jacó por José. A locução adjetiva “talar de mangas compridas” só aparece em outro lugar no antigo testamento, onde é usada para descrever o vestuário da princesa Tamar. Por isso, “muitos comentaristas sugerem que ela em algo a ver com a realeza... Mediante esse traje real (ver 2Sm 13.18-19) Jacó, publicamente, designa José como governador sobre a família”. (...)”
WALTKE, B.K. Genesis: A Commentary. Grand Rapids: Zondervan, 2001, in: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 391.


Apesar de idoso, Jacó não demonstrava sabedoria ao distinguir seu filho mais novo dos demais de maneira tão explícita. Essa preferência gerou ódio nos irmãos de José, que nem mais conversavam com ele.

Um adolescente imaturo e delator, um pai idoso e insensato e irmãos com ódio no coração. Definitivamente não parecia uma família ideal.

Teve José um sonho e o relatou a seus irmãos; por isso, o odiaram ainda mais. Pois lhes disse: Rogo-vos, ouvi este sonho que tive: Atávamos feixes no campo, e eis que o meu feixe se levantou e ficou em pé; e os vossos feixes o rodearam e se inclinavam perante o meu. Então, lhes disseram seus irmãos: Reinarás, com efeito, sobre nós? E sobre nós dominarás realmente? E com isso tanto mais o odiavam, por causa dos seus sonhos e das suas palavras. Teve ainda outro sonho e o referiu a seus irmãos, dizendo: Sonhei também que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam perante mim. Contando-o a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o o pai e lhe disse: Que sonho é este que tivesse? Acaso, viremos, eu e tua mãe e teus irmãos a inclinar-te perante ti em terra? Seus irmãos lhe tinham ciúmes; o pai, no entanto, considerava o caso consigo mesmo. Gn 37.5-11


A falta de sabedoria de José ia adiante. Além de constantemente acusar seus irmãos pelas suas práticas incorretas, ele também contou dois sonhos que teve. O fato de sonhar não era o problema, pois ele não tinha controle sobre isso. A insensatez estava no fato de relatar publicamente esses sonhos, nos quais ele era exaltado até mesmo acima do pai, o que era completamente inadmissível na cultura antiga.

O relato dos sonhos serviu para piorar a situação familiar: os irmãos o odiavam cada vez mais, por ciúmes, e até mesmo o pai o repreendeu pelo relato do segundo sonho.
Apesar de tudo isso, o texto relata que Jacó “considerava o caso consigo mesmo”.

37.11 considerava o caso consigo mesmo. Jacó levou o sonho a sério.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 52, comentário de Gn 37.11.

“(...) É melhor prevenir, nunca se sabe no que vão dar esses sonhos. Em Betel, o próprio Jacó encontrou-se com o Senhor em um sonho (28.12-17). E Jacó sabia que o Senhor poderia declarar como seu plano que “o mais velho servirá o mais moço” (25.23). Ele mesmo tinha vivido isso, e José agora tinha dois sonhos assim. Em vez de desconsiderar tais sonhos, é melhor esperar e ver o que acontece. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 393.


Jacó sabia por experiência própria que os planos do Senhor Deus poderiam ser diferentes da “ordem natural das coisas”. Ele viveu isso desde o nascimento e teve experiências pessoais como Deus ao longo da vida, logo, os sonhos de José não foram totalmente desconsiderados por Jacó. Quem saberia o que aqueles sonhos significavam? Eram apenas sonhos sem sentido ou não? Na dúvida, era melhor guardar aquelas coisas no coração.

De longe o viram e, antes que chegasse, conspiraram contra ele para o matar. E dizia um ao outro: Vem lá o tal sonhador! Vinde, pois, agora, matemo-lo e lancemo-lo numa dessas cisternas; e diremos: um animal selvagem o comeu; e vejamos em que lhe darão os sonhos. Mas Rúben, ouvindo isso, livrou-o das mãos deles e disse: Não lhe tiremos a vida. Também lhes disse Rúben: Não derrameis sangue; lançai-o nesta cisterna que está no deserto. E não ponhais mão sobre ele; isto disse para o livrar deles, a fim de o restituir ao pai. Mas, logo que chegou José a seus irmãos, despiram-no da túnica, a túnica talar de mangas compridas que trazia. E, tomando-o, o lançaram na cisterna, vazia, sem água. Gn 37.18-24


A narrativa relata que José foi enviado por seu pai para verificar se seus irmãos estavam bem em Siquém, que ficava cerca de 70 quilômetros de distância. Ao chegar lá, não encontrou os irmãos e foi informado que eles foram para Dotã. Seriam mais 25 quilômetros de viagem.

Os irmãos de José o avistaram de longe, muito provavelmente por causa da odiosa túnica que ele vestia. Então, surgiu a brilhante ideia naqueles corações transbordantes de ódio: matar o filho preferido. Ele estava muito longe de casa, era indefeso e poderia muito bem ter sido atacado por um animal selvagem. Tal como Caim planejou o assassinado de Abel, este também parecia o plano perfeito.

Neste ponto, é importante questionar: E se José tivesse sido assassinado pelos irmãos? Além do sofrimento do pai, existiria alguma outra consequência? Qual seria a importância da morte de um jovem sonhador, insensato e delator dos irmãos?

E mais: onde estava Deus nessa narrativa, já que seu nome não é citado sequer uma vez? Será que o Deus de Jacó se importava com o que estava para acontecer?

Esta narrativa deve ser lida, estudada e entendida com base nas promessas de Deus já feitas aos seus filhos. As promessas feitas a Adão (Gn 3.15), Abraão (Gn 12.2-3) e mesmo ao próprio Jacó (Gn 25.23) ainda não haviam sido cumpridas. E, como Deus é fiel à Sua Palavra, Ele conduzia a história da humanidade de acordo com Sua vontade e para o cumprimento dos Seus planos. Deus é soberano.

Deus também é onisciente. Ele sabia os tempos difíceis que estavam por vir, a extrema carência de alimentos que assolaria a terra. E Ele encaminhou a vida de um jovem odiado pelos próprios irmãos para livrar Seu povo amado da morte.

Apenas para efeito didático, com a permissão do nosso Senhor, é possível imaginar o que poderia ter acontecido caso José tivesse sido assassinado. Ele não seria vendido aos midianitas, não seria vendido a Potifar, não seria preso injustamente, não interpretaria sonhos na prisão e na presença do Faraó, não seria elevado a governador do Egito e não seria o responsável por salvar a vida da sua própria família, o povo escolhido por Deus, da fome extrema que viria. E, sem o povo escolhido por Deus, não haveria o cumprimento das promessas divinas.

A morte de José representaria a morte da esperança do povo de Israel e, consequentemente, a morte da esperança da semente da mulher. Era um momento muito importante na história daquelas pessoas.

Mas, como dito, Deus estava no controle. Sua Mão providente moveu o coração de Rúben, o primogênito de Jacó, para salvar a vida de José. Ele agiu como rapidez e proibiu a morte do jovem. O texto relata que suas intenções eram boas, ele pretendia resgatar José e devolvê-lo em segurança a Jacó.

Os irmãos respeitaram a opinião de Rúben e lançaram José numa cisterna vazia.

“(...) O narrador mais uma vez nos faz lembrar da providência de Deus quando, no final do versículo 24, enfatiza que a cisterna estava “vazia, sem água”. José continua vivo, não se afoga na cisterna usada para coletar água. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 395.


Porém, Rúben não conseguiu concretizar seu plano de resgate, pois os irmãos resolveram vender José como escravo aos midianitas.

Então, tomaram a túnica de José, mataram um bode e a molharam no sangue. E enviaram a túnica talar de mangas compridas, fizeram-na levar a seu pai e lhe disseram: Achamos isto; vê se é ou não a túnica de teu filho. Ele a reconheceu e disse: É a túnica de meu filho; um animal selvagem o terá comido, certamente José foi despedaçado. Então, Jacó rasgou as suas vestes, e se cingiu de pano de saco, e lamentou o filho por muitos dias. Levantaram-se todos os seus filhos e todas as suas filhas, para o consolarem; ele, porém, recusou ser consolado e disse: Chorando, descerei a meu filho até a sepultura. E de fato o chorou seu pai. Entrementes, os midianitas venderam José no Egito a Potifar, oficial de Faraó, comandante da guarda. Gn 37.31-36


Jacó, o antigo trapaceiro, foi enganado pelos próprios filhos, e naquele momento chorava angustiadamente a falsa morte de seu filho querido. Não havia esperança para aquele pai. Seu filho estava morto.

37.31 bode. Assim como Jacó havia enganado o seu pai com pele de cabritos e com a roupa de Esaú (27.9,16), agora também estava sendo enganado com o sangue de bode sobre as roupas do filho.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 52, comentário de Gn 37.31.

37.35 até a sepultura. A paz familiar estava destruída. Os irmãos podiam eliminar o filho preferido, mas não podiam evitar o amor do pai ou o seu doloroso pesar por José.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 52, comentário de Gn 37.35.


Mas o que parecia o fim da esperança para Jacó, na verdade era apenas o começo do cumprimento do plano divino para salvação do seu povo. Deus estava no controle da situação.


JOSÉ NA CASA DE POTIFAR2

José foi levado ao Egito, e Potifar, oficial de Faraó, comandante da guarda, egípcio, comprou-o dos ismaelitas que o tinham levado para lá. O SENHOR era com José, que veio a ser homem próspero; e estava na casa do seu senhor egípcio. Vendo Potifar que o SENHOR era com ele e que tudo o que ele fazia o SENHOR prosperava em suas mãos, logrou José mercê perante ele, a quem servia; e ele o pôs por mordomo de sua casa e lhe passou às mãos tudo o que tinha. E, desde que o fizera mordomo de sua casa e sobre tudo o que tinha, o SENHOR abençoou a casa do egípcio por amor de José, a bênção do SENHOR estava sobre tudo o que tinha, tanto em casa como no campo. Potifar tudo o que tinha confiou às mãos de José, de maneira que, tendo-o por mordomo, de nada sabia, além do pão com que se alimentava. Gn 39.1-6a


O texto apresenta José como escravo comprado por Potifar, homem importante na terra do Egito. Aparentemente, alguém poderia pensar que Deus estava ausente da vida de José, por ter permitido toda a atrocidade cometida contra ele. Mas, é certo que Deus estava no controle da situação e estava ao lado de José, o que é destacado pelo escritor já no início do capítulo 39 de Gênesis.

A presença do Senhor na vida de José era tão evidente que foi percebida até mesmo por Potifar, que resolveu promover o escravo a mordomo de todos os seus bens. E a partir daí, a bênção de Deus, que estava sobre José, foi estendida aos bens de Potifar.

39.5 abençoou. O poder do Senhor fluiu por meio do semita José até os camitas egípcios, como o Senhor havia prometido a Abraão (veja nota sobre 12.3).
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 52, comentário de Gn 39.5.


Após um momento terrível, ao ser vendido como escravo pelos irmãos, a situação de José começava a melhorar. Apesar de ainda ser escravo, ele era o governante da casa de um importante homem do Egito. À primeira vista, poder-se-ia pensar que Deus estava “corrigindo” o mal que os irmãos de José haviam feito, “compensando” aquele grande mal como benefícios e uma porção de prosperidade na vida de José.

Mas não era isso. Deus estava encaminhando a história de José para algo muito maior, conquanto que, para isso, ele tivesse que passar ainda por momentos difíceis.

José era formoso de porte e de aparência. Aconteceu, depois destas coisas, que a mulher de seu senhor pôs os olhos em José e lhe disse: Deita-te comigo. Ele, porém, recusou e disse à mulher do seu senhor: Tem-me por mordomo o meu senhor e não sabe do que há em casa, pois tudo o que tem me passou ele às minhas mãos. Ele não é maior do que eu nesta casa e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porque és sua mulher; como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus? Gn 39.6b-9


Assim como sua mãe, Raquel (Gn 29.17), o texto bíblico relata que José era bonito, formoso. Mas, o que parecia ser algo bom se tornou um grande problema. A mulher de Potifar passou a assediá-lo.

O que José faria? Ele era um escravo próspero na casa de um homem importante, e, naquele momento, poderia ter também a esposa do seu senhor. O que o impediria de fazer isso?

O texto não deixa margem para especulações. José recusou firmemente a proposta indecente, e expôs as razões para isso: ele não pecaria contra o seu Deus, não quebraria a confiança conquistada e não desobedeceria uma ordem de Potifar. José era temente a Deus e um trabalhador honesto e digno.

Falando ela a José todos os dias, e não lhe dando ele ouvidos, para se deitar com ela e estar com ela, sucedeu que, certo dia, veio ele a casa, para atender aos negócios; e ninguém dos de casa se achava presente. Então, ela o pegou pelas vestes e lhe disse: Deita-te comigo; ele, porém, deixando as vestes nas mãos dela, saiu, fugindo para fora. Vendo ela que ele fugira para fora, mas havia deixado as vestes nas mãos dela, chamou pelos homens de sua casa e lhes disse: Vede, trouxe-nos meu marido este hebreu para insultar-nos; veio até mim para se deitar comigo; mas eu gritei em alta voz. Ouvindo ele que eu levantava a voz e gritava, deixou as vestes ao meu lado e saiu, fugindo para fora. Gn 39.10-15


A mulher de Potifar não desistira. Ela insistia todos os dias. Quem sabe ele não seria vencido pelo cansaço?

Mas José era homem firme, temente a Deus e que se desviava do mal. Ele não cederia.

A narrativa prossegue com a trama da mulher de Potifar para conseguir seu intento maligno. Ela aproveita-se de um dia em que os demais funcionários não estão na casa e vai ao encontro de José. A proposta foi a mesma: “Deita-te comigo”. José, aflito com a situação, fugiu desesperadamente para evitar a tentação.

“(...) A fuga de José não apenas enfurece, mas também compromete a sua Senhora. Ele bem pode denunciá-la por ataque sexual. Astutamente, ela chama juntamente as testemunhas potenciais, distorce os fatos e tenta conquistar a empatia deles. (...)”
STERNBERG, M. The Poetics os Biblical Narrative: Ideological Literature and the Drama os Reading. Bloomington, IN: Indiana University Press, 1985, in: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 437.


Após ser rejeitada, a mulher de Potifar contou uma versão totalmente distorcida dos fatos para ser vista como vítima e incriminar José.

Conservou ela junto de si as vestes dele, até que seu senhor tornou a casa. Gn 39.16

“(...) Antes, a túnica de José suja de sangue serviu como a (falsa) prova da sua morte; aqui as suas vestes deverão servir como a (falsa) prova do seu delito. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 437.

Então, lhe falou, segundo as mesmas palavras, e disse: O servo hebreu, que nos trouxeste, veio ter comigo para insultar-me; quando, porém, levantei a voz e gritei, ele, deixando as vestes ao meu lado, fugiu para fora. Tendo o senhor ouvido as palavras de sua mulher, como lhe tinha dito: Desta maneira me fez o teu servo; então, se lhe acendeu a ira. E o senhor de José o tomou e o lançou no cárcere, no lugar onde os presos do rei estavam encarcerados; ali ficou ele na prisão. Gn 39.10-20


A mulher repetiu a falsa história para o marido. E faz questão de relembrar Potifar que José era apenas um servo, um escravo. Ela queria destruir a vida de José.

José estava em grandes apuros, pois o castigo para o crime de adultério era a execução. Contudo, neste ponto da narrativa, Deus demonstrou sua grande bondade e livrou José da morte.

“(...) Afortunadamente, José não foi executado por ordem do seu amo – o castigo usual para o adultério no Egito e também em Israel (cf. Lv 20.10; Dt 22.23-27). Talvez o seu senhor não acreditou muito na história da esposa. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 438.


39.20 o lançou no cárcere... Onde os presos dos reis estavam encarcerados. Uma tentativa de estupro exigia uma sentença de morte. A branda punição de colocar José com os prisioneiros do rei sugere que Potifar não acreditou em sua esposa.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 52, comentário de Gn 39.20.


O que parecia um momento de prosperidade na vida de José terminou de forma terrível. Antes, ele passara de filho preferido a escravo de povos estrangeiros; naquele momento, de mordomo abençoado por Deus a um prisioneiro real.

O SENHOR, porém, era com José, e lhe foi benigno, e lhe deu mercê perante o carcereiro; o qual confiou às mãos de José todos os presos que estavam no cárcere; e ele fazia tudo quanto se devia fazer ali. E nenhum cuidado tinha o carcereiro de todas as coisas que estavam nas mãos de José, porquanto o SENHOR era com ele, e tudo o que ele fazia o SENHOR prosperava. Gn 39.21-23


Entretanto, a narrativa ainda não acabou. O momento era difícil, mas o texto continua a afirmar que Deus estava com José. Deus não o havia abandonado em nenhum momento.

“(...) O Senhor estava com José quando prosperava na casa de Potifar e agora o Senhor ainda está com ele quando é acusado falsamente e termina na prisão. O Senhor está com José não só na prosperidade, mas também na adversidade. (...) Mesmo nas profundezas do desespero, o Senhor mostra a José o seu amor imutável. José descansa à sombra da bondade de Deus. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 439.


O jovem que foi vendido como escravo, tentado, permaneceu fiel a Deus e ao seu senhor terminou essa narrativa preso injustamente. Mas, como já dito, Deus era com ele mesmo nos momentos difíceis.

O plano de Deus para a vida de José estava em curso, e caminhando para um desfecho surpreendente.


JOSÉ COMO GOVERNADOR DO EGITO3

José foi abençoado por Deus no cárcere, sendo promovido a “governador da prisão”. Ainda assim, ele permaneceu preso por alguns anos.

Neste período, o capítulo 40 de Gênesis relata que o copeiro-chefe (mordomo) e o padeiro-chefe de Faraó foram presos por terem afrontado o seu senhor.

Um dia, ambos estavam intrigados por não conseguirem entender o significado dos sonhos. José prontamente se ofereceu para tentar interpretar os sonhos, ciente de que somente o seu Deus era capaz de fazê-lo.

“Porventura, não pertencem a Deus as interpretações?” (Gn 40.8). José tinha intimidade com Deus. Ele conhecia Deus.

Deus deu a José a capacidade de interpretar os dois sonhos, e suas palavras se cumpriram integralmente três dias depois. O padeiro-chefe foi enforcado e o copeiro-chefe readmitido, porém, José foi esquecido e permaneceu preso.

Passados dois anos, Faraó teve dois sonhos, os quais não puderam ser interpretados por nenhum dos sábios do Egito.

Então, disse a Faraó o copeiro-chefe: Lembro-me hoje das minhas ofensas. Estando Faraó mui indignado contra os seus servos e pondo-me sob prisão na casa do comandante da guarda, a mim e ao padeiro-chefe, tivemos um sonho na mesma noite, eu e ele; sonhamos, e cada sonho com a sua própria significação. Achava-se conosco um jovem hebreu, servo do comandante da guarda; contamos-lhe os nossos sonhos, e ele no-los interpretou, a cada um segundo o seu sonho. E como nos interpretou, assim mesmo se deu: eu fui restituído ao meu cargo, o outro foi enforcado. Gn 41.9-13


Neste momento de crise, o copeiro-chefe se lembrou de José. Dois anos depois, ele se lembrou de José e contou a Faraó que havia um homem que era capaz de interpretar sonhos.

“(...) Mesmo num acontecimento modesto e demasiadamente humano pode-se perceber o governo silencioso de Deus. O mordomo-chefe, que havia se esquecido totalmente de José, lembra-se dele por causa dos sonhos de faraó. (...)”
WESTERMANN, C. Joseph: Eleven Bible Studies on Genesis. Trad. Omar Kaste. Minneapolis: Fortress, 1996, in: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 453.


Então, Faraó mandou chamar a José, e o fizeram sair à pressa da masmorra; ele se barbeou, mudou de roupa e foi apresentar-se a Faraó. Este lhe disse: Tive um sonho, e não há quem o interprete. Ouvi dizer, porém, a teu respeito que, quando ouves um sonho, podes interpretá-lo. Respondeu-lhe José: Não está isso em mim; mas Deus dará resposta favorável a Faraó. Gn 41.14-16


Faraó mandou chamar José. Ele queria a interpretação dos sonhos. E o que faria José? Aproveitaria a oportunidade para impressionar Faraó e melhorar sua situação? Após vários anos na prisão por um crime que não cometeu, seria essa a oportunidade de dar a volta por cima?

Não. José foi fiel a Deus. Ele deu toda a glória a Deus: “Não está isso em mim; mas Deus dará resposta favorável a Faraó.”

“(...) José é rápido em mostrar a faraó que ele está olhando para a pessoa errada. José, por si mesmo, assim como os sábios de faraó, também não pode interpretar sonhos. “Porém”, esclarece confiantemente, “Deus dará resposta favorável a Faraó”. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 453.


Na sequência da narrativa, Faraó relatou os sonhos a José, que esclareceu tratar-se de apenas um sonho, com uma interpretação. Viriam sete anos de fartura e, posteriormente, sete longos anos de fome extrema sobre a terra.

Agora, pois, escolha Faraó um homem ajuizado e sábio e o ponha sobre a terra do Egito. Faça isso Faraó, e ponha administradores sobre a terra, e tome a quinta parte dos frutos da terra do Egito nos sete anos de fartura. Ajuntem os administradores toda a colheita dos bons anos que virão, recolham cereal debaixo do poder de Faraó, para mantimento nas cidades, e o guardem. Assim, o mantimento será para abastecer a terra nos sete anos da fome que haverá no Egito; para que a terra não pereça de fome. O conselho foi agradável a Faraó e a todos os seus oficiais. Gn 41.33-37


Além de interpretar o sonho, José “sugeriu” a Faraó que escolhesse um homem sábio para cuidar de tudo.

E esse conselho foi bem recebido por Faraó. Após a interpretação dos sonhos, Faraó estava em paz, satisfeito. O momento era de ouvir as palavras de José e tomar as providências necessárias enquanto havia tempo.

Disse Faraó aos seus oficiais: Acharíamos, porventura, homem como este, em quem há o Espírito de Deus? Depois, disse Faraó a José: Visto que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão ajuizado e sábio como tu. Administrarás a minha casa, e à tua palavra obedecerá todo o meu povo; somente no trono eu serei maior do que tu. Disse mais Faraó a José: Vês que te faço autoridade sobre toda a terra do Egito. Então, tirou Faraó o seu anel de sinete da mão e o pôs na mão de José, fê-lo vestir roupas de linho fino e lhe pôs ao pescoço um colar de ouro. E fê-lo subir ao seu segundo carro, e clamavam diante dele: Inclinai-vos! Desse modo, o constituiu sobre toda a terra do Egito. Disse ainda Faraó a José: Eu sou Faraó, contudo sem a tua ordem ninguém levantará mão ou pé em toda a terra do Egito. E a José chamou Faraó de Zafenate-Panéia e lhe deu por mulher a Asenate, filha de Potífera, sacerdote de Om; e percorreu José toda a terra do Egito. Era José da idade de trinta anos quando se apresentou a Faraó, rei do Egito, e andou por toda a terra do Egito. Gn 41.38-46


Assim como havia feito Potifar, Faraó reconheceu que a bênção de Deus estava sobre José, e que ele era o homem indicado para organizar tudo que era necessário para salvar o povo da fome.

O antigo escravo e prisioneiro havia se tornado o segundo homem mais importante da nação mais importante da época.

Passados os sete anos de abundância, que houve na terra do Egito, começaram a vir os sete anos de fome, como José havia predito; e havia fome em todas as terras, mas em toda a terra do Egito havia pão. Sentindo toda a terra do Egito a fome, clamou o povo a Faraó por pão; e Faraó dizia a todos os egípcios: Ide a José; o que ele vos disser fazei. Havendo, pois, fome sobre toda a terra, abriu José todos os celeiros e vendia aos egípcios; porque a fome prevaleceu na terra do Egito. E todas as terras vinham ao Egito, para comprar de José, porque a fome prevaleceu em todo o mundo. Gn 41.53-57


O restante do texto relata o grandioso trabalho empreendido por José para estocar alimentos durante os anos de fartura, e como essas providências foram essenciais para garantir a sobrevivência de milhares de pessoas nos anos de fome.

Entre os povos que foram comprar alimentos no Egito estavam o povo de Israel. Os últimos capítulos de Gênesis relatam o reencontro de José com sua família, o que foi motivo de muita alegria principalmente para seu pai, mas também de reconciliação com seus irmãos.

Após a morte de Jacó, os irmão de José passaram a temer por todo o mal que haviam feito ao seu irmão enquanto jovem. Mas José fez um linda declaração de confiança na providência do seu Deus, que moveu todas as coisas a fim de fazer cumprir um propósito muito maior do que todos eles poderiam imaginar.

Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. Gn 50.20


Deus é soberano, é o Senhor da história. Ele moveu todas as situações para salvar seu povo escolhido da fome extrema.


CONCLUSÃO

A história de José é mais uma demonstração da providência de Deus com seu povo. Quando jovem, José era imaturo e delator dos irmãos, que o odiavam por ser o preferido do pai. Essa não era o exemplo de uma família bem-sucedida nos relacionamentos.

Esse ódio fez com que seus irmãos pensassem em matá-lo, mas a mão de Deus, através de Rúben, impediu tal fato. Ele acabou vendido como escravo para um povo estrangeiro.

No Egito, foi comprado por um homem importante. Deus estava com José, que passou a prosperar até ser promovido a governador da cada de Potifar. Parecia que os momentos difíceis haviam ficado para trás. Porém, o plano de Deus era bem maior que isso.

O período de prosperidade foi interrompido após a negativa de cometer pecado sexual com a esposa de Potifar. Como “recompensa” por sua fidelidade a Deus e ao seu senhor, ele foi preso.

Ao contrário do que parece, a mão de Deus também estava ali, pois José mais uma vez foi liberto da morte.

Deus estava com ele, e, por isso, José foi promovido a governador da prisão. Algum tempo depois, interpretou dois sonhos de pessoas importantes na realeza, mas permaneceu no esquecimento por mais dois anos.

Por fim, no tempo de Deus, foi lembrado pela capacidade de interpretar sonhos e colocado diante do Faraó. José manteve-se fiel a Deus, dando toda glória a Ele, interpretou os sonhos e deu acertadas sugestões a Faraó.

Essa longa história de José, com altos e baixos sob a ótica humana, mas sempre debaixo da poderosa mão de Deus, terminou com sua promoção a governador do Egito, a fim de salvar a vida de muitas pessoas da fome, incluindo sua própria família, o povo de Israel.

José foi o instrumento de Deus para a salvação do Seu povo.

“(...) A história de José falou a Israel da soberana direção de Deus para o seu povo e da sua fidelidade à aliança. “Rendei graças ao SENHOR, invocai o seu nome, fazei conhecidos, entre os povos, os seus feitos” (Sl 105.1). (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 399.

“(...) Na sua providência, o Deus soberano exaltou o prisioneiro José para governar o Egito a fim de salvar o mundo da fome. Deus tinha prometido a Abraão: “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (12.3). Vemos aqui um cumprimento dessa promessa, quando, por meio de José, Deus abençoa “o mundo” com mantimento. (...)”
GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 458.



1Extraído e adaptado de: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 377-400.

2Extraído e adaptado de: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 424-441.

3Extraído e adaptado de: GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 442-458.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. 1920p.

GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir de Gênesis; tradução de Marcos José Soares de Vasconcelos. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 824 p.


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