sábado, 15 de agosto de 2015

Jesus Cristo no Antigo Testamento - aula 02 - O protoevangelho (Gn 3.8-4.25)


- Explicação do termo
- Revelação divina
- Deus não se afastou dos pecadores
- Maldições pronunciadas e mitigadas
- Respostas humanas
- A revelação das virtudes de Deus
- Integridade
- Justiça
- Misericórdia
- Graça
- O estabelecimento da antítese (oposição)
- Conclusão
- Referências bibliográficas


EXPLICAÇÃO DO TERMO

1. Protoevangelho

Proto = Início, primeiro.
Evangelho = Do Grego (evangelion), significa "Boa Notícia", "Boa Nova", "Boa Mensagem", "comunicação de Deus aos homens".

A palavra proto-evangelho define a primeira comunicação de Deus com os homens em Gênesis 3:15.

Extraído de: http://www.dicionarioinformal.com.br/protoevangelho/. Acessado em 15 de agosto de 2015.


“(...) A mensagem tem sido considerada a primeira revelação redentora (ou evangelho) no Antigo Testamento embora muitos escritores críticos não concordem e alguns escritores evangélicos tenham expressado alguma incerteza. A primeira mensagem da redenção não foi somente a respeito da atividade redentora messiânica e da vitória assegurada, mas também incluiu a revelação com respeito à antítese divinamente estabelecida, concernente ao juízo certo que aguarda Satanás. (...)”
VAN GRONINGEN, G. Criação e Consumação. Volume I; tradução de Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p.134


“(...) O texto de Gênesis 3.15 pode ser considerado a mais antiga promessa de Deus ao homem caído. Depois do pecado e antes de qualquer outra providência histórica, o Senhor Deus prometeu ao homem e à mulher que o seu resgate viria do seu Descendente. (...)”
Extraído de: http://www.monergismo.com/textos/teologia_pacto/cristo_adamico_nepomuceno.htm. Acessado em 15 de agosto de 2015.


REVELAÇÃO DIVINA1

Deus não se afastou dos pecadores

Gn 3.1-7 apresenta o relato da queda do homem e da mulher, ao desobedecerem a ordem de Deus e comerem do fruto da árvore do bem e do mal. Eles perceberam que estavam nus e se esconderam.

Apesar disso, Deus não se afastou do jardim e das suas criaturas. Como fazia regularmente, Deus foi ao encontro do homem e da mulher.

“O jardineiro não abandonou o seu jardim.”
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p.15, comentário sobre Gn 3.8


Maldições pronunciadas e mitigadas

Como consequência do pecado, Deus pronunciou maldições para o homem, a mulher e a serpente.

“(...) Quando Deus Yahweh pronunciou uma maldição, ele reteve aqueles que estavam sob sua ira e os removeu da esfera de bênção ou removeu as bênçãos deles. (...) Mas a maldição não era absoluta em todos os casos; na verdade, era uma maldição mitigada na maioria dos casos. (...)”
VAN GRONINGEN, G. Criação e Consumação. Volume I; tradução de Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p.137

Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o teu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. Gn 3.14-15.


A serpente foi condenada a mover-se sobre o seu próprio ventre e a ter a cabeça próxima ao chão, tendo que suportar o pó em sua boca e narinas.

O pó é apresentado como símbolo de humilhação nas Escrituras.

Pois a nossa alma está abatida até ao pó, e o nosso corpo, como que pegado ao chão. Sl 44.25


Apesar de terrível, essa maldição não era absoluta. Embora a serpente não pudesse evitá-la, a maldição era mitigada porque a serpente ainda teria vida, alimento e movimento.

A maldição também foi dirigida a Satanás, que no tempo devido seria completamente dominado e derrotado. Mas, até lá, haveria uma inimizade crescente entre as descendências da mulher e da serpente.

Posteriormente, veremos como a descendência da serpente tentou eliminar a descendência da mulher, a fim de evitar que O descendente prometido viesse ao mundo. Essas tentativas foram frustradas, e o Messias nasceu, sofreu como nenhum outro (teve o calcanhar ferido), mas triunfou em sua obra redentora e esmagou a cabeça da serpente.

E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará. Gn 3.16


A mulher recebeu um castigo e uma repreensão dados por Deus. O castigo foi sofrer grande dor na gestação e no nascimento dos filhos, o que se estenderia no processo de criação deles. Esse castigo foi mitigado porque a mulher ainda podia ter filhos e porque um dos descendentes da mulher seria o Messias prometido, que esmagaria a cabeça da serpente. Cada filho que nascia era a renovação da esperança de ser este o Prometido. Por isso, a esterilidade também era vista como maldição da parte de Deus para a mulher.

A mulher foi criada para ser auxiliadora do homem, mas não agiu dessa forma na queda. Por isso, ela foi repreendida por Deus a retomar a função para o qual havia sido criada.

E a Adão disse: Visto que atendeste a voz da tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadiga obterás dela o sustento durante os dias da tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó voltarás. Gn 3.17-19


Adão recebeu uma repreensão por ter ouvido a voz da mulher em lugar da voz de Deus, que ordenara não comer do fruto daquela árvore.

O local de trabalho de Adão (a terra) foi amaldiçoado, e a partir de então o sustento seria obtido com dificuldade, com trabalho doloroso. O trabalho não seria uma maldição, mas sim o sofrimento e a frustração no trabalho.

As Escrituras afirmam que todo o cosmos, toda a criação sofreria com os efeitos dessa maldição.

Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. Rm 8.22


Apesar de duras, tais maldições também foram mitigadas, pois o homem não foi separado do seu local de trabalho e da sua fonte de sustento.

“(...) Resumindo, nossa discussão sobre as maldições que Deus Yahweh pronunciou quando Adão, Eva e Caim o desobedeceram, podemos dizer que Deus deu uma sentença de morte para Satanás, a mulher, o homem e o filho. A morte deve ser entendida no sentido de ser colocado sob a ira de Yahweh contra o pecado; a morte representava graus de separação da fonte da vida e das bênçãos enriquecedoras; a morte representava eventualmente a separação final e total de Deus Yahweh. Esta morte, i.e., a separação e sua destruição resultante, é a sentença que Deus Yahweh, o Senhor soberano, pronunciou como Juiz. Esta sentença de julgamento seria sobre todo o cosmos e seus habitantes até que a pena completa exigida para a remoção do julgamento fosse paga.  (...)”
VAN GRONINGEN, G. Criação e Consumação. Volume I; tradução de Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p.140


Respostas humanas

O protoevangelho não caiu em ouvidos surdos. Apesar de não terem respondido diretamente a Deus, tanto o homem como a mulher tiveram atitudes que expressaram gratidão a Deus pela redenção prometida no momento mais terrível da história humana.

E deu o homem o nome de Eva a sua mulher; por ser mãe de todos os seres humanos. Gn 3.20

3.20 E deu... o nome. Adão acrescentou um nome pessoal à designação genérica “varoa” que definiu o destino dela. Eva. Quando Adão chamou a sua esposa de “varoa”, ele, implicitamente, reconheceu a igualdade entre eles (2.23). Aqui, ao chamá-la Eva, Adão novamente exerceu sua autoridade sobre ela, mas o nome dado honrou-a como a mãe de toda a humanidade. Adão exerceu a sua autoridade duas vezes para exaltar sua esposa e não para subjugá-la. seres humanos. Adão mostrou a sua restauração a Deus ao crer na promessa de que a mulher teria filhos, incluindo o descendente que derrotaria Satanás.”
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p.16, comentário sobre Gn 3.20


Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR. Gn 4.1

Semelhantemente a Adão, Eva fez uma declaração de fé na promessa divina de redenção quando teve seu primogênito. Ela reconheceu que a manutenção da semente da mulher era o cumprimento da promessa de Gn 3.15, e louvou a Deus na esperança de que aquele filho fosse o Messias prometido.

Como dito, essa era a esperança de todas as filhas de Deus ao darem à luz a seus filhos.


A REVELAÇÃO DAS VIRTUDES DE DEUS1

Como dito na aula anterior, Deus se revela ao homem no transcurso da história de forma progressiva. O relato da criação transcrito em Gênesis 1 e 2 revela alguns atributos de Deus, quais sejam: majestade, soberania, infinidade, santidade, onipotência, liberdade, sabedoria, bondade e amor.

A passagem de Gn 3.8-4.25 revela atributos divinos até então desconhecidos dos homens: integridade, justiça, misericórdia e graça.

“(...) As virtudes de Yahweh, conforme reveladas por meio do que ele prometeu e fez, ajudam seu povo crente a entender de forma mais completa o que Yahweh pretendeu e, realmente introduziu no decurso da história após a entrada da rebelião e do pecado. (...)”
VAN GRONINGEN, G. Criação e Consumação. Volume I; tradução de Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p.145


Integridade:

Em Gênesis 1 e 2, Deus revelou sua vontade para a humanidade, que pode ser resumida em três mandatos*:

- Mandato Cultural: relacionamento com a criação
- Mandado Social: constituição e criação da família
- Mandato Espiritual:  adoração a Deus e obediência à sua Palavra


Adão e Eva sabiam perfeitamente qual era a vontade de Deus para eles, não havia dúvida. Apesar disso, eles desobedeceram.

A integridade de Deus é revelada pelo fato de o próprio Criador ter garantido a manutenção da sua lei e da sua Palavra, ou seja, a queda do homem não provocou mudanças nos planos divinos.


Justiça:

“mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comerdes, certamente morrerás” Gn 2.17

Deus se revelou como Justo Juiz ao punir o homem, a mulher e a serpente após a queda. Da forma como havia sido advertido, o homem realmente morreu após a queda: foi excluído da comunhão com seu Criador (morte espiritual) e iniciou o processo de envelhecimento (morte física).

“(...) A justiça de Deus é a característica de sua natureza que o leva a manter a ideia da sua santidade. A justiça preserva intacta a noção de que Deus é absolutamente santo e não pode ser manchado ou provocado pelos seres humanos e angélicos sem que haja uma resposta punitiva da sua parte. (...)”
CAMPOS, H.C. O Ser de Deus e seus atributos. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p. 340

“(...) Deus não aplicou a lei caprichosamente e com zelo exagerado, nem mostrou parcialidade por meio de uma aplicação limitada. Ele cumpriu sua vontade revelada; ele executou o que havia avisado que iria acontecer. Adão e Eva morreram espiritualmente; seu relacionamento de vida/amor com Deus Yahweh estava quebrado; eles foram alienados dele. Demonstraram este relacionamento quebrado e a separação por meio do reconhecimento da sua nudez, sentindo-se envergonhados, ficando com medo e até escondendo-se. E, fisicamente, o processo de retorno ao pó havia começado. Desse modo, Deus revelou sua justiça; ele atuou de acordo com sua própria natureza e vontade revelada (lei) e levou a efeito as consequências da desobediência a essa vontade. (...)”
VAN GRONINGEN, G. Criação e Consumação. Volume I; tradução de Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p.146


Misericórdia:

A compreensão popular da misericórdia divina é expressa da seguinte forma: “Deus não deu ao homem aquilo que ele merecia”. Deus revelou sua misericórdia ao homem durante toda a narrativa da Queda:

- ao ir encontrar-se com o homem, que estava envergonhado, temeroso e escondido após o pecado;
- ao manter a mulher fértil;
- ao prometer o Salvador que nasceria da descendência da mulher;
- ao assegurar ao homem o trabalho como forma de se sustentar e de cumprir o mandato social de povoar a terra.

Como resumo, tem-se que todas as maldições anunciadas por Deus foram mitigadas exatamente pela revelação da sua misericórdia.


Graça:

A graça é definida como “o favor imerecido de Deus para com as criaturas caídas”. Enquanto por misericórdia Deus não nos dá o que merecemos (= condenação), por graça Deus nos dá aquilo que não merecemos (= perdão e salvação).

Deus se revelou gracioso após o pecado do homem, pois prometeu que O descendente da mulher suportaria a ira divina como consequência da Queda, e, por meio desse sofrimento, tornaria seus filhos livres e santos, aptos a viverem a vida com gratidão e em obediência ao Senhor.

O momento mais terrível da história da humanidade foi também o momento de maior esperança, pois o Salvador do mundo foi anunciado pela primeira vez ao homem, única e exclusivamente pela graça soberana de Deus.


O ESTABELECIMENTO DA ANTÍTESE (OPOSIÇÃO)1

Como vimos, após o pecado, Deus revelou “novos” atributos ao homem e prometeu o Redentor que esmagaria a cabeça da serpente. Entretanto, até o cumprimento dessa promessa, os descendentes da mulher e da serpente deveriam “conviver” no mesmo espaço do cosmos criado por Deus.

Apesar de terem que dividir o mesmo espaço geográfico, as duas sementes foram separadas por uma linha divisória extremamente grande, um verdadeiro abismo:

- Descendentes da mulher: maldições mitigadas, Redentor prometido, salvação futura e certa.

- Descendentes da serpente: maldições mitigadas, sem redenção, condenação futura e certa.

Essa divisão existente entre as duas sementes é chamada de antítese (oposição). Esses dois grupos são absolutamente opostos e não há possibilidade de que um componente seja transferido ou consiga por si próprio mudar de um grupo para o outro.

E exatamente por não haver salvação para a semente da serpente é que ela tenta a todo custo destruir a semente da mulher, o que pode ser visto ao longo de todo o Antigo Testamento.

Essa também é a realidade vivida pelo povo de Deus atualmente. Apesar de Jesus Cristo já ter se encarnado, morrido e ressuscitado, a semente da serpente ainda tenta prejudicar a semente da mulher de todas as formas possíveis, a fim de atrapalhar seu relacionamento com o Senhor Deus.

“(...) O protoevangelho incluiu a confirmação de Deus Yahweh de que a inimizade dividiria a humanidade e que os grupos opositores dentro da humanidade seriam tão antitéticos um ao outro com Deus Yahweh era a Satanás. O protoevangelho também incluiu uma declaração definitiva a respeito do envolvimento da humanidade na situação antitética. Receber a graça e a misericórdia salvadoras envolveria receber uma “ferida no calcanhar” à medida que a maldição mitigada sobre Adão, Eva e o solo era executada. E o protoevangelho proclamava a vitória certa da semente da mulher e a continuidade assegurada do reino cósmico de Deus Yahweh, dentro do qual o reino parasita de Satanás existiria e seria ativo. O protoevangelho também implicava aquilo que seria o fator principal no curso assegurado da história – a tensão, a batalha e o resultado da história que Deus determinava. (...)”
VAN GRONINGEN, G. Criação e Consumação. Volume I; tradução de Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p.159


1Extraído e adaptado de: VAN GRONINGEN, G. Criação e Consumação. Volume I; tradução de Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p.133-161


CONCLUSÃO

O protoevangelho é a primeira revelação divina sobre o Redentor que nasceria da semente da mulher e esmagaria a semente da serpente.

Deus não abandonou o homem após a Queda, pois Ele foi ao seu encontro. Deus proferiu maldições à serpente, a Satanás, à mulher, ao homem e ao solo. Apesar de terríveis, as maldições foram mitigadas, ou seja, não foram tão duras como poderiam ter sido.

Apesar de não terem respondido diretamente a Deus no momento das maldições, posteriormente Adão e Eva demonstraram fé na promessa divina da redenção.

As ações de Deus nesse momento histórico revelaram ao homem atributos até então “desconhecidos”: integridade, justiça, misericórdia e graça.

O protoevangelho revela a existência de duas sementes totalmente distintas: a semente da mulher, que passou a viver na esperança do Redentor e vive hoje na esperança da redenção final, e a semente da serpente, para a qual nunca houve esperança, e que tenta a qualquer custo prejudicar o relacionamento de Deus com seus filhos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. 1920p.

CAMPOS, H.C. O Ser de Deus e seus atributos. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. 432 p.

VAN GRONINGEN, G. Criação e Consumação. Volume I; tradução de Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. 654 p.




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