AULA 10
A CEIA DO SENHOR:
Instituição e
presença de Cristo
INTRODUÇÃO
- Quais os
significados da Páscoa?
- Como a Páscoa
apontava para o sacrifício substitutivo de Cristo?
- O que significa
dizer que a Ceia do Senhor foi instituída em substituição da Páscoa?
- Qual é a
natureza da presença de Cristo na Ceia?
Significados da Páscoa (Ex 12:1-28):
Significação simbólica: o sacrifício cruento
(derramamento de sangue) era necessário para a remissão dos pecados.
Significação típica: apontava para o grande
sacrifício futuro de Cristo.
Significação nacional: memorial da libertação
do povo de Israel.
A Páscoa apontava para o
sacrifício substitutivo de Cristo
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Cordeiro macho e sem defeito
(v. 5)
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Cristo é o nosso cordeiro
pascal (I Co 5:7)
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Exigia sangue para salvação
(v. 13, 27)
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O sangue de Cristo é a
nossa salvação
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Pães asmos e ervas
amargas (v. 8)
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Devemos lançar fora o velho
fermento (I Co 5:8)
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Não deveriam quebrar os ossos do
animal (v. 9)
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Cristo não teve ossos
quebrados (Jo 19:36)
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Lombos cingidos, sandálias
nos pés, cajado na mão (v. 11)
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O sacrifício de Cristo é nossa
libertação (Rm 6:11)
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Celebração por todas as
gerações (v. 14)
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A salvação é a nossa maior alegria
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A Ceia do Senhor foi instituída em
substituição da Páscoa.
Cristo é o Cordeiro Pascal (I Co 5:7), Ele
cumpriu e superou de forma muito mais excelente todos os significados da
Páscoa:
Significação simbólica: não há mais símbolos,
o sacrifício de Cristo é único e suficiente para remir todos os pecados.
Significação típica: não há mais tipos, o
nascimento de Cristo é o cumprimento da promessa.
Significação nacional: não há mais restrição a
uma nação, as bênçãos da salvação foram estendidas por Cristo a pessoas de todo
o mundo.
Qual é a natureza da presença de Cristo na Ceia?
Historicamente existem quatro conceitos sobre
este tema:
- Católico-romano
- Luterano
- Zwingliano
- Calvinista ou
reformado
Conceito católico-romano:
A Igreja de Roma concebe a união sacramental
num sentido físico. Quando o sacerdote profere a fórmula “isto é o meu corpo”,
o pão e vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo
(transubstanciação).
Admite que, mesmo após a mudança, os elementos
têm aparência e gosto de pão e vinho. Conquanto a substância seja transformada,
as suas propriedades permanecem as mesmas.
Base bíblica (interpretação literal):
Mt 26:26: “isto é o meu corpo”
Jo 6:50: “este é o pão que desce do céu”
Equívocos do conceito católico-romano:
A interpretação literal não é adequada, pois
as expressões utilizadas pelo Senhor Jesus são figuradas. Jo 6:63, 10:9, 14:6,
15:1.
Se a interpretação literal fosse correta,
então:
- todos os
participantes da Ceia do Senhor seriam salvos (ver Jo 6:50, 53-54)
- quem não
participasse da Ceia do Senhor, ao menos uma vez, não seria salvo.
É evidente que os próprios católicos-romanos
rejeitam expressamente a primeira afirmação. Logo, sua interpretação, por si
só, não se sustenta.
É impossível conceber: o pão que Jesus partiu
como sendo o corpo que o manipulava; que o que tem sabor de pão e vinho seja
carne e sangue; que o corpo físico de Jesus está presente em vários lugares
simultaneamente. Tal interpretação violenta os sentidos e a razão humanos.
A Bíblia chama o elemento de pão, mesmo após
supostamente ter se tornado corpo de Cristo. I Co 10:17, 11:26-28
“A doutrina
geralmente chamada transubstanciação, que ensina a mudança da substância do pão
e do vinho na substância do corpo e do sangue de Cristo, mediante a consagração
por um sacerdote ou por qualquer outro meio, é algo repugnante, não só à vista
das Escrituras, mas também ao senso comum e à razão; destrói a natureza do
sacramento, e tem sido a causa de muitas superstições e até de grosseira
idolatria.”
Confissão de Fé
de Westminster, XXIX, VI
“Tampouco jamais
teriam sido tão ignobilmente enganados pelas artimanhas de Satanás, se não se
deixassem fascinar por este erro: que o corpo de Cristo é encerrado sob o pão;
e que pela boca física é transmitido ao ventre. A causa de tão grosseira
imaginação foi que entre eles a consagração equivalia à mágica encantação. Mas
lhes era oculto o princípio de que o pão é sacramento somente para os homens a
quem a Palavra se dirige; assim como a água do batismo em si não se muda, mas começa
a ser o que não era antes assim que a promessa lhe foi anexada.”
João Calvino. As
Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura
Cristã. 2006. p. 356
Conceito luterano:
O pão e o vinho continuam sendo o que são, mas
há na Ceia do Senhor uma misteriosa e miraculosa presença real da pessoa
completa de Cristo, corpo e sangue, nos elementos, sob eles e junto deles
(consubstanciação).
Defende a presença local do corpo e sangue
físicos de Cristo nos sacramentos.
Os participantes da Ceia do Senhor comem e
bebem o corpo e o sangue de Cristo.
Equívocos do conceito luterano:
Interpreta a expressão “isto é o meu corpo”
(Mt 26:26) com o sentido de “isto acompanha o meu corpo”, o que não encontra
amparo bíblico ou gramatical.
É forçado a admitir a doutrina da ubiquidade
(onipresença) da natureza glorificada de Cristo, o que também não encontra
amparo bíblico. Muitos luteranos se esforçam para rejeitar tal doutrina.
Não se afasta muito do conceito católico, mas
apenas no que diz respeito à mudança (transformação) de substância dos
elementos da Ceia.
“Ora, pois, como
estamos longe de disputar que, de conformidade com a perpétua consistência do
corpo humano, o corpo de Cristo seja finito e se mantém no céu, onde foi uma
vez recebido, até que retorne para Juízo (At 3:20,21), assim julgamos ser
absolutamente absurdo trazê-lo de volta sob esses elementos corruptíveis ou
imaginá-lo por toda parte presente.”
João Calvino. As
Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura
Cristã. 2006. p. 353
Conceito zwingliano:
Defendia que a Ceia do Senhor é um simples
sinal ou símbolo, uma comemoração da morte do Senhor como representação do que
Cristo fez pelos pecadores.
Refutava a presença corporal e defendia a
presença espiritual de Cristo, conforme a apreensão do participante.
A ênfase da Ceia recai no que o crente promete
no sacramento, e não no que Deus promete.
Equívocos do conceito zwingliano:
Permite que a ideia do que o crente faz no
sacramento obscureça a dádiva de Deus ao crente.
Vê no ato de comer do corpo de Cristo nada
mais, nem mais elevado, que a fé no seu nome e a segura confiança em sua morte.
Valoriza excessivamente:
- o participante,
ao invés do Senhor da Ceia;
- a obra de Cristo
até sua morte (passado), ao invés da obra completa de Cristo (passado, presente
e promessas).
Conceito calvinista ou reformado:
Cristo está presente espiritualmente nos elementos.
A
Ceia é uma dádiva e uma ordem dada por Deus aos seus filhos.
A
Ceia relembra a obra completa de Cristo (passado, presente e promessas).
O
cristão é alimentado pela fé quando participa da Ceia.
A
Ceia é meio de graça ao cristão, pois aumenta sua fé, comunhão e intimidade com
Cristo.
“De antemão já
chamamos a atenção para o seguinte: que somos conduzidos das coisas corpóreas
que se apresentam no sacramento, por meio de certa analogia, às coisas
espirituais. Assim, quando o pão nos é dado como símbolo do corpo de Cristo,
imediatamente se deve imaginar esta similitude: como o pão nutre, sustenta,
conserva a vida de nosso corpo, assim o corpo de Cristo é o alimento único para
revigorar e vivificar a alma. Quando vemos o vinho proposto como símbolo do
sangue, deve-se ter em mente quais benefícios o vinho traz para o corpo, para
que reflitamos que os mesmos nos são espiritualmente conferidos pelo sangue de
Cristo.”
João Calvino. As
Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura
Cristã. 2006. p. 345
CONCLUSÕES
- A Páscoa tinha
significação simbólica, típica e nacional;
- A Páscoa
apontava para o sacrifício substitutivo de Cristo;
- O sacrifício de
Cristo cumpriu e superou todos os significados da Páscoa;
- Existem quatro
conceitos sobre a natureza de Cristo na Ceia: católico-romano, luterano,
zwingliano e calvinista ou reformado;
- Equívocos do
conceito católico-romano: a interpretação literal não possui amparo bíblico,
não se sustenta por si só e violenta os sentidos e a razão humanos;
- Equívocos do
conceito luterano: não se distancia muito do conceito católico-romano,
utiliza-se de interpretação antibíblica e antigramatical e é forçado a admitir
a onipresença da natureza glorificada de Cristo;
- Equívocos do
conceito zwingliano: valoriza excessivamente o participante e a obra pretérita
de Cristo, ao invés do Senhor da Ceia e da obra completa de Cristo;
- Conceito
calvinista ou reformado: Cristo está presente espiritualmente nos elementos; a
Ceia relembra a obra completa de Cristo; a Ceia é meio de graça ao cristão.
Louis Berkhof, Teologia
Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo:
Cultura Cristã. 2012. p. 598-605
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