sábado, 19 de julho de 2014

O Batismo e a Ceia do Senhor - Aula 10 - A Ceia do Senhor: instituição e presença de Cristo


AULA 10


A CEIA DO SENHOR:
Instituição e presença de Cristo




INTRODUÇÃO

- Quais os significados da Páscoa?

- Como a Páscoa apontava para o sacrifício substitutivo de Cristo?

- O que significa dizer que a Ceia do Senhor foi instituída em substituição da Páscoa?

- Qual é a natureza da presença de Cristo na Ceia?



Significados da Páscoa (Ex 12:1-28):

Significação simbólica: o sacrifício cruento (derramamento de sangue) era necessário para a remissão dos pecados.

Significação típica: apontava para o grande sacrifício futuro de Cristo.

Significação nacional: memorial da libertação do povo de Israel.


A Páscoa apontava para o sacrifício substitutivo de Cristo
Cordeiro macho e sem defeito (v. 5) 
Cristo é o nosso cordeiro pascal (I Co 5:7) 
Exigia sangue para salvação
(v. 13, 27) 
O sangue de Cristo é a nossa salvação
Pães asmos e ervas
amargas (v. 8) 
Devemos lançar fora o velho fermento (I Co 5:8) 
Não deveriam quebrar os ossos do animal (v. 9) 
Cristo não teve ossos quebrados (Jo 19:36)
Lombos cingidos, sandálias nos pés, cajado na mão (v. 11) 
O sacrifício de Cristo é nossa libertação (Rm 6:11) 
Celebração por todas as gerações (v. 14) 
A salvação é a nossa maior alegria 



A Ceia do Senhor foi instituída em substituição da Páscoa.

Cristo é o Cordeiro Pascal (I Co 5:7), Ele cumpriu e superou de forma muito mais excelente todos os significados da Páscoa:

Significação simbólica: não há mais símbolos, o sacrifício de Cristo é único e suficiente para remir todos os pecados.

Significação típica: não há mais tipos, o nascimento de Cristo é o cumprimento da promessa.

Significação nacional: não há mais restrição a uma nação, as bênçãos da salvação foram estendidas por Cristo a pessoas de todo o mundo.



Qual é a natureza da presença de Cristo na Ceia?

Historicamente existem quatro conceitos sobre este tema:

- Católico-romano
- Luterano
- Zwingliano
- Calvinista ou reformado



Conceito católico-romano:

A Igreja de Roma concebe a união sacramental num sentido físico. Quando o sacerdote profere a fórmula “isto é o meu corpo”, o pão e vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo (transubstanciação).

Admite que, mesmo após a mudança, os elementos têm aparência e gosto de pão e vinho. Conquanto a substância seja transformada, as suas propriedades permanecem as mesmas.

Base bíblica (interpretação literal):
Mt 26:26: “isto é o meu corpo”
Jo 6:50: “este é o pão que desce do céu”



Equívocos do conceito católico-romano:

A interpretação literal não é adequada, pois as expressões utilizadas pelo Senhor Jesus são figuradas. Jo 6:63, 10:9, 14:6, 15:1.

Se a interpretação literal fosse correta, então:
- todos os participantes da Ceia do Senhor seriam salvos (ver Jo 6:50, 53-54)
- quem não participasse da Ceia do Senhor, ao menos uma vez, não seria salvo.

É evidente que os próprios católicos-romanos rejeitam expressamente a primeira afirmação. Logo, sua interpretação, por si só, não se sustenta.

É impossível conceber: o pão que Jesus partiu como sendo o corpo que o manipulava; que o que tem sabor de pão e vinho seja carne e sangue; que o corpo físico de Jesus está presente em vários lugares simultaneamente. Tal interpretação violenta os sentidos e a razão humanos.

A Bíblia chama o elemento de pão, mesmo após supostamente ter se tornado corpo de Cristo. I Co 10:17, 11:26-28


“A doutrina geralmente chamada transubstanciação, que ensina a mudança da substância do pão e do vinho na substância do corpo e do sangue de Cristo, mediante a consagração por um sacerdote ou por qualquer outro meio, é algo repugnante, não só à vista das Escrituras, mas também ao senso comum e à razão; destrói a natureza do sacramento, e tem sido a causa de muitas superstições e até de grosseira idolatria.”
Confissão de Fé de Westminster, XXIX, VI


“Tampouco jamais teriam sido tão ignobilmente enganados pelas artimanhas de Satanás, se não se deixassem fascinar por este erro: que o corpo de Cristo é encerrado sob o pão; e que pela boca física é transmitido ao ventre. A causa de tão grosseira imaginação foi que entre eles a consagração equivalia à mágica encantação. Mas lhes era oculto o princípio de que o pão é sacramento somente para os homens a quem a Palavra se dirige; assim como a água do batismo em si não se muda, mas começa a ser o que não era antes assim que a promessa lhe foi anexada.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 356



Conceito luterano:

O pão e o vinho continuam sendo o que são, mas há na Ceia do Senhor uma misteriosa e miraculosa presença real da pessoa completa de Cristo, corpo e sangue, nos elementos, sob eles e junto deles (consubstanciação).

Defende a presença local do corpo e sangue físicos de Cristo nos sacramentos.

Os participantes da Ceia do Senhor comem e bebem o corpo e o sangue de Cristo.



Equívocos do conceito luterano:

Interpreta a expressão “isto é o meu corpo” (Mt 26:26) com o sentido de “isto acompanha o meu corpo”, o que não encontra amparo bíblico ou gramatical.

É forçado a admitir a doutrina da ubiquidade (onipresença) da natureza glorificada de Cristo, o que também não encontra amparo bíblico. Muitos luteranos se esforçam para rejeitar tal doutrina.

Não se afasta muito do conceito católico, mas apenas no que diz respeito à mudança (transformação) de substância dos elementos da Ceia.


“Ora, pois, como estamos longe de disputar que, de conformidade com a perpétua consistência do corpo humano, o corpo de Cristo seja finito e se mantém no céu, onde foi uma vez recebido, até que retorne para Juízo (At 3:20,21), assim julgamos ser absolutamente absurdo trazê-lo de volta sob esses elementos corruptíveis ou imaginá-lo por toda parte presente.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 353



Conceito zwingliano:

Defendia que a Ceia do Senhor é um simples sinal ou símbolo, uma comemoração da morte do Senhor como representação do que Cristo fez pelos pecadores.

Refutava a presença corporal e defendia a presença espiritual de Cristo, conforme a apreensão do participante.

A ênfase da Ceia recai no que o crente promete no sacramento, e não no que Deus promete.



Equívocos do conceito zwingliano:

Permite que a ideia do que o crente faz no sacramento obscureça a dádiva de Deus ao crente.

Vê no ato de comer do corpo de Cristo nada mais, nem mais elevado, que a fé no seu nome e a segura confiança em sua morte.

Valoriza excessivamente:
- o participante, ao invés do Senhor da Ceia;
- a obra de Cristo até sua morte (passado), ao invés da obra completa de Cristo (passado, presente e promessas).



Conceito calvinista ou reformado:

   Cristo está presente espiritualmente nos elementos.
   A Ceia é uma dádiva e uma ordem dada por Deus aos seus filhos.
   A Ceia relembra a obra completa de Cristo (passado, presente e promessas).
   O cristão é alimentado pela fé quando participa da Ceia.
   A Ceia é meio de graça ao cristão, pois aumenta sua fé, comunhão e intimidade com Cristo.


“De antemão já chamamos a atenção para o seguinte: que somos conduzidos das coisas corpóreas que se apresentam no sacramento, por meio de certa analogia, às coisas espirituais. Assim, quando o pão nos é dado como símbolo do corpo de Cristo, imediatamente se deve imaginar esta similitude: como o pão nutre, sustenta, conserva a vida de nosso corpo, assim o corpo de Cristo é o alimento único para revigorar e vivificar a alma. Quando vemos o vinho proposto como símbolo do sangue, deve-se ter em mente quais benefícios o vinho traz para o corpo, para que reflitamos que os mesmos nos são espiritualmente conferidos pelo sangue de Cristo.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 345



CONCLUSÕES


- A Páscoa tinha significação simbólica, típica e nacional;

- A Páscoa apontava para o sacrifício substitutivo de Cristo;

- O sacrifício de Cristo cumpriu e superou todos os significados da Páscoa;

- Existem quatro conceitos sobre a natureza de Cristo na Ceia: católico-romano, luterano, zwingliano e calvinista ou reformado;

- Equívocos do conceito católico-romano: a interpretação literal não possui amparo bíblico, não se sustenta por si só e violenta os sentidos e a razão humanos;

- Equívocos do conceito luterano: não se distancia muito do conceito católico-romano, utiliza-se de interpretação antibíblica e antigramatical e é forçado a admitir a onipresença da natureza glorificada de Cristo;

- Equívocos do conceito zwingliano: valoriza excessivamente o participante e a obra pretérita de Cristo, ao invés do Senhor da Ceia e da obra completa de Cristo;

- Conceito calvinista ou reformado: Cristo está presente espiritualmente nos elementos; a Ceia relembra a obra completa de Cristo; a Ceia é meio de graça ao cristão.

Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 598-605


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