sábado, 12 de julho de 2014

O Batismo e a Ceia do Senhor - Aula 09 - O batismo infantil


AULA 09


O BATISMO INFANTIL




INTRODUÇÃO


- Existe base bíblica para o batismo infantil?

- Quais as principais objeções ao batismo infantil?

- Qual a posição dos padrões confessionais reformados?

- O batismo é meio de graça também para as crianças?

- O batismo deve ser ministrado a filhos de descrentes?



Existe base bíblica para o batismo infantil?

“Pode-se dizer de início que não há nenhuma ordem bíblica expressa para batizar crianças, e que não há um único exemplo no qual se nos diga claramente que crianças foram batizadas. Mas isto não torna necessariamente antibíblico o batismo.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 584



Fundamentos bíblicos para a ministração do batismo infantil:

1- A aliança feita com Abraão era primariamente espiritual, da qual a circuncisão era sinal e selo.
Ex 2:24, Dt 10:16, Sl 105:9, Rm 4:16-18, Gl 3:8


2- A aliança feita com Abraão é idêntica à “nova aliança” da nova dispensação.
   - mesmo Mediador: Jesus Cristo. At 4:12, 10:43, Gl 3:16, I Tm 2:5-6, I Pe 1:9-12
   - mesma condição: Fé. Gn 15:6, Sl 32:10, At 10:43, Rm 4:3, Hb 11
   - mesmas bênçãos: Justificação, regeneração, fé, vida eterna. Dt 30:6, Is 1:18, Rm 4:9, Hb 4:9, 11:10


3- Pela determinação de Deus, as crianças participavam dos benefícios da aliança e, portanto, recebiam a circuncisão como sinal e selo.

- O povo de Deus também é apresentado como nação no Novo Testamento. Mt 21:43, Rm 9:25,26 (ver Os 2:23)

- As crianças eram circuncidadas por ordem divina. Gn 17:9-14

- As crianças estavam presentes na renovação da aliança. Dt 29:10-13, Js 8:35, II Cr 20:13

- As crianças tinham seu lugar na congregação de Israel e participavam das assembleias religiosas. II Cr 20:13, Jl 2:16

- As promessas de Deus foram feitas às famílias. Is 54:13, Jr 31:34, Jl 2:28

- Jesus e os apóstolos não excluíram as crianças. Mt 19:14, At 2:39, I Co 7:14


“Objetam que o batismo é dado para a remissão dos pecados. Quando isso é concebido, nosso ponto de vista é fortemente corroborado. Pois uma vez que nascemos pecadores, temos a necessidade de remissão e perdão já desde o ventre materno. Ora, como o Senhor afirma que quer ser misericordioso para com esta idade, por que vamos privá-los do sinal da mesma, que é muito menos importante que a realidade que ele significa? Por isso, o que se empenham em arremessar contra nós, precisamente isso fazemos voltar contra eles mesmos: os pequeninos são agraciados com a remissão dos pecados; por isso não devem ser privados do sinal.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 330


4- Na nova dispensação, o batismo, por autoridade divina, substituiu a circuncisão.

- A Bíblia afirma que a circuncisão não pode mais servir como sinal e selo da aliança. At 15:1,2, 21:21, Gl 2:3-5, 5:2-6, 6:12,13,15

- Jesus Cristo instituiu o batismo como substituto da circuncisão. Mt 28:19-20, Mc 16:15-16

- O sentido espiritual do batismo corresponde ao da circuncisão (limpeza, purificação do pecado e renovação espiritual). Dt 10:16, Jr 4:4, Ez 44:7,9, Rm 6:4, Gl 3:27,29, Cl 2:11-12

Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 584-587


“Dizemos, pois que, uma vez que Deus conferiu às crianças a circuncisão como sacramento de arrependimento e fé, não parece absurdo se elas se fazem agora participantes do batismo; a não ser que queiram investir-se, com prazer e abertamente, contra a instituição divina.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 328



Quais as principais objeções ao batismo infantil?

1- A circuncisão era apenas uma ordem carnal e típica, destinada a extinguir-se.
            Alguns teólogos sustentam que o batismo se relaciona com o Reino, e que somente o batismo do Espírito tem lugar próprio na Igreja.
            Tal objeção não tem amparo bíblico:

- Cristo instituiu o batismo como sacramento incruento, pois Ele mesmo deu fim a todo derramamento de sangue.

- Quando do nascimento da Igreja, o apóstolo Pedro exigiu o batismo como forma de admissão à Igreja. At 2:38-39

- O apóstolo Paulo também exigiu que os convertidos fossem batizados. At 16:15,33, I Co 1:16


2- Não há ordem explícita na Bíblia para o batismo infantil.
            Tal objeção só pode ser sustentada por aqueles que não acreditam na doutrina da aliança. Os fundamentos bíblicos que refutam esta objeção já foram expostos anteriormente.
            Além disso, os que defendem este tipo de interpretação bíblica (literal e restritiva) têm que utilizá-la, também, para responder as seguintes perguntas (se é que isso é possível):

- Como seguir fielmente o dever de guardar obrigatoriamente o primeiro dia da semana para o descanso?
- A Bíblia ordena que as mulheres devem ficar caladas no templo, logo, como admitir a ordenação feminina?
- A Bíblia ordena a exclusão das crianças do batismo?
- Existem algum exemplo bíblico de batismo de um adulto nascido e criado em um lar cristão?
- A Bíblia não ordena a ministração da Santa Ceia para mulheres, logo, elas devem ser excluídas?


3- As crianças não podem ser batizadas porque não têm condições de expressar fé.

“Seu argumento vai como se segue: A fé ativa é o requisito do batismo. As crianças não podem exercem fé. Portanto, as crianças não devem ser batizadas. Mas, dessa maneira, essas palavras também podem ser elaboradas como argumento contra a salvação de crianças, visto que elas não somente implicam, mas afirmam explicitamente que a fé (fé ativa) é a condição para a salvação. Assim, o batista que for coerente ver-se-á sob o peso do seguinte silogismo: A fé é a conditio sine qua non (condição indispensável) da salvação. As crianças ainda não podem exercer fé. Logo, as crianças não podem ser salvas. Mas esta é uma conclusão da qual o próprio batista recua.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 589


“Ou, para expressá-lo mais clara e sucintamente, como o filho do crente participa do pacto divino sem entendê-lo, não se deve negar-lhe o sinal, pois é capaz de recebê-lo sem necessidade de compreendê-lo. Está é a razão pela qual Deus diz que os filhos dos israelitas são seus filhos, como se ele mesmo os gerasse (Ez 16:20; 23:37), pois sem dúvida alguma ele se considera Pai de todos aqueles a quem prometeu ser o Deus dos mesmos e de sua descendência. Em troca, o que nasce de pais infiéis não é contado no pacto até que, pela fé, se una com Deus. Portanto, não se deve estranhar que não compartilhe do sinal, cujo significado seria nele falaz e sem proveito! Nesta linha, Paulo também escreve que as pessoas, sempre que estiveram imersas em sua idolatria, estavam do lado de fora do testamento (Ef 2:12).”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 328



Qual a posição dos padrões confessionais reformados?

Confissão Belga, artigo XXXIV: “Devem ser batizados e selados com o sinal da aliança, como anteriormente as crianças de Israel eram circuncidadas com base nas mesmas promessas feitas às nossas crianças.”

Catecismo de Heidelberg: “As crianças devem ser batizadas? Sim, pois, desde que elas estão, como os adultos, incluídas na aliança e na Igreja de Deus, e desde que tanto a redenção do pecado como o Espírito, o Autor da fé, lhes são prometidos não menos que aos adultos, mediante o sangue de Cristo, elas também devem, pelo batismo, como sinal da aliança, ser enxertadas na Igreja Cristã, e devem ser distinguidas dos filhos dos descrentes, como se fazia na antiga dispensação ou testamento pela circuncisão, em lugar da qual o batismo foi instituído na nova aliança.”

Cânones de Dort, I, artigo 17: “Uma vez que devemos discernir a vontade de Deus em sua Palavra, que atesta que os filhos dos crentes são santos, não por natureza, mas em virtude da aliança da graça, que os abrange juntamente com seus pais, os pais crentes não devem duvidar da eleição e salvação dos seus filhos, a quem praza a Deus chamar desta vida em sua infância (Gn 17:7, At 2:39, I Co 7:14).”

Confissão de Fé de Westminster, XXXVIII, IV: “Não só os que de fato professam sua fé em Cristo e obediência a ele, mas também os filhos dos pais crentes (ainda que só um deles o seja) devem ser batizados.”

Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 589-590



O batismo é meio de graça também para as crianças?
Sim.

Os teólogos reformados elencam três alternativas que podem ser combinadas entre si:

- É possível pressupor que as crianças têm a “semente da fé”, que é fortalecida por Deus no batismo;

- O batismo como meio de graça não se limita ao momento da ministração, mas pode servir para, de algum modo misterioso, aumentar a graça de Deus no coração e a fé posteriormente, quando a significação do batismo for claramente compreendida;

- O batismo é meio de graça para os pais: fortalece a fé e o senso de responsabilidade pela educação cristã dos filhos.

Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 592-593


“Ora, ainda que as crianças não compreendessem com inteligência, no momento em que eram circuncidadas, qual o significado daquele sinal, no entanto eram verdadeiramente circuncidadas para mortificação de sua natureza corrupta e contaminada, a qual, depois de adultas, exercitariam. Em suma, esta objeção pode ser solucionada sem qualquer dificuldade: as crianças são batizadas para futuro arrependimento e fé, os quais, embora ainda não formados nelas, no entanto, pela secreta operação do Espírito, a semente de um e de outra está nelas latente.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 328



O batismo deve ser ministrado a filhos de descrentes?

A Igreja Presbiteriana do Brasil admite o batismo infantil, desde que pelo menos um dos pais seja cristão e esteja em plena comunhão com Cristo e com a Igreja.

“Não só os que de fato professam sua fé em Cristo e obediência a ele, mas também os filhos dos pais crentes (ainda que só um deles o seja) devem ser batizados.”
Confissão de Fé de Westminster, XXXVIII, IV



CONCLUSÕES


- Não existe ordem expressa para o batismo infantil, mas isso não o torna antibíblico.

- Fundamentos bíblicos para a ministração do batismo infantil: aliança com Abraão era espiritual e possuía os mesmo elementos na “nova aliança” em Cristo; pela determinação de Deus, as crianças participavam dos benefícios da aliança, eram circuncidadas e participavam da assembleia de Israel; as promessas de Deus foram feitas às famílias; o batismo, por autoridade divina, substituiu a circuncisão; Jesus e os apóstolos não excluíram as crianças.

- Principais objeções ao batismo infantil: a circuncisão era apenas uma ordem carnal e típica; não existe ordem bíblica expressa para o batismo infantil; as crianças não podem ser batizadas porque não têm condições de expressar fé.

- Todas as confissões de fé reformadas defendem como bíblico o batismo infantil.

- O batismo infantil é meio de graça tanto para as crianças como para os pais.

- A Igreja Presbiteriana do Brasil batiza crianças quando pelo menos um dos pais é cristão.


“Portanto, salvo se apraz obscurecer perversamente a benevolência de Deus, ofereçamos-lhe nossos filhos, aos quais ele atribui lugar entre seus familiares e domésticos, isto é, os membros da Igreja.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 342



Nenhum comentário:

Postar um comentário