domingo, 27 de julho de 2014

O Batismo e a Ceia do Senhor - Aula 11 - A Ceia do Senhor: sinal e selo do pacto da graça; requisitos para a participação


AULA 11


A CEIA DO SENHOR:
SINAL E SELO DO PACTO DA GRAÇA;
REQUISITOS PARA A PARTICIPAÇÃO.



INTRODUÇÃO


- O que significa a Ceia do Senhor como sinal do pacto da graça?

- O que significa a Ceia do Senhor como selo do pacto da graça?

- Quem pode participar da Ceia do Senhor?

- Quem está impedido de participar da Ceia do Senhor?



O que significa a Ceia do Senhor como sinal do pacto da graça?

- Simboliza a morte do Senhor.

Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partir, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. A seguir, tomou um cálice, e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da (nova) aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. Mt 26:26-28

Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. I Co 11:26



- Simboliza a participação do crente no Cristo crucificado.

Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Jo 6:53

“Na celebração da Ceia do Senhor, os participantes não ficam apenas a olhar para os símbolos, mas os recebem e se alimentam deles. Falando figurativamente, eles comem a carne do Filho do homem e bebem o Seu sangue, Jo 6:53, isto é, assimilam simbolicamente os benefícios assegurados pela morte sacrificial de Cristo.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 600


“Ora, não nos alimentamos correta e salvificamente de Cristo a não ser crucificado, quando apreendemos em vivo senso a eficácia de sua morte. Porque ele se proclamou o pão da vida, não em virtude do sacramento, como muitos viciosamente o interpretam, mas, ao contrário, porque ele nos foi dado como tal pelo Pai, e como tal se nos mostrou quando se fez participante de nossa mortalidade humana, e nos fez participantes de sua imortalidade divina; quando, oferecendo-se em sacrifício, em si levou nossa maldição, para que nos inundasse de sua bênção; quando, por sua morte, tragou e aniquilou a morte; quando, em sua ressurreição, alcançou a glória e incorrupção para esta nossa carne corruptível da qual se revestira.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 346



- Simboliza a vida, força e alegria espirituais recebidas pelo crente.

“Precisamente como o pão e o vinho nutrem e fortalecem a vida corporal do homem, assim Cristo sustenta e revigora a vida da alma. Segundo as descrições normais da Escritura, os crentes têm sua vida, e força, e felicidade, em Cristo.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 600


“Depois que Deus uma vez nos recebe em sua família, não meramente para que nos tenha na função de servos, mas no lugar de filhos, para que cumpra o papel de ótimo e solícito pai de sua progênie, assume também a função de nutrir-nos continuamente no curso da vida. Tampouco quis com isso contentar-se em nos dar um penhor para tornar-nos mais certos desta sua contínua liberalidade. Portanto, foi para este fim que ele deu à sua Igreja, pela mão do Filho, Unigênito, outro sacramento, a saber, um banquete espiritual, no qual Cristo se comprova ser o pão que gera vida (Jo 6.51), pelo qual nossas almas são alimentadas para a verdadeira e bem-aventurada imortalidade.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 343



- Simboliza a união dos crentes uns com os outros.

Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão. I Co 10: 17

Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. I Co 12:13


Como membros do corpo místico de Jesus Cristo, constituindo uma unidade espiritual, eles comem do mesmo pão e bebem do mesmo vinho, I Co 10:17, 12:13. Recebendo os elementos uns dos outros, eles exercem íntima comunhão uns com os outros.
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 600


“Com efeito, haveremos de usufruir de muito proveito no sacramento, se este pensamento for impresso e insculpido em nossa mente: que não pode ser por nós ferido, desprezado, rejeitado, injuriado, ou de qualquer modo ofendido, algum dentre os irmãos, sem que, ao mesmo tempo, firamos a Cristo nisso, desdenhemos, injuriemos com nossos agravos; tampouco nós podemos dissentir dos irmãos sem que, ao mesmo tempo, dissintamos de Cristo; este não pode ser amado por nós sem que seja amado em nosso irmãos; de tanto cuidado tomemos de nosso corpo, tal é o que devemos tomar também dos irmãos, que são membros do nosso corpo; como nenhuma parte de nosso corpo é ferida por alguma sensação de dor, que a todas as demais não se difunda, assim não se pode permitir que um irmão seja afetado de algum mal, de quem não sejamos também nós próprios tocados de compaixão. Por este motivo, não sem causa, tantas vezes Agostinho chama a este sacramento o vínculo do amor cristão.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 389


A Ceia do Senhor como sinal do pacto da graça:

- Simboliza a morte do Senhor;

- Simboliza a participação do crente no Cristo crucificado;

- Simboliza a vida, força e alegria espirituais recebidas pelo crente;

- Simboliza a união dos crentes uns com os outros.



O que significa a Ceia do Senhor como selo do pacto da graça?

- Sela o grande amor de Cristo.

Cristo se rendeu a uma vergonhosa e amarga morte pelos filhos de Deus. O crente participante da Ceia do Senhor foi, pessoalmente, objeto desse amor incomparável.

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Jo 3:16

Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. Jo 19:30


- É a garantia pessoal do cumprimento de todas as promessas da aliança.

A aliança feita por Deus com Adão foi reafirmada por Jesus Cristo, de forma mais excelente, pois o próprio Cristo foi o sacrifício.

Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Gn 17:7

A seguir, tomou um cálice, e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da (nova) aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. Mt 26:26-28


- Garante a bênção da salvação ao crente.

Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Jo 6:54

“Tão seguramente como o corpo é alimentado e renovado pelo pão e pelo vinho, assim a alma que recebe o corpo e o sangue de Cristo pela fé está agora de posse da vida eterna, e com a mesma segurança a receberá mais abundantemente ainda.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 601


“No entanto, grande fruto de confiança e satisfação podem as almas piedosas extrair deste sacramento, porque nele têm o testemunho de nos havermos unido com Cristo em um só corpo, de tal sorte que tudo quanto é dele, é lícito dizer que é nosso. Daqui se segue que ousamos assegurar-nos com plena certeza ser nossa a vida eterna da qual ele é o herdeiro; nem se pode eximir mais a nós o reino do céu do que dele, no qual ele já entrou; por outro lado, não podemos ser condenados por nossos pecados, de cuja culpa nos absolveu, quando ele os quis imputar a si como se fossem seus.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 344


- É um selo recíproco.

“É uma insígnia de profissão da parte dos que participam do sacramento. Sempre que eles comem o pão e bebem o vinho, professam sua fé em Cristo como seu Salvador, e sua fidelidade a ele como o seu Rei, e solenemente se comprometem a uma vida de obediência aos seus divinos mandamentos.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 601


A Ceia do Senhor como selo do pacto da graça:

- Sela o grande amor de Cristo;

- É a garantia pessoal do cumprimento de todas as promessas da aliança;

- Garante a bênção da salvação ao crente;

- É um selo recíproco.



Quem pode participar da Ceia do Senhor?

Catecismo de Heidelberg, Pergunta 81: Quem deve ir à Santa Ceia? Aqueles que se aborrecem de si mesmos por causa dos seus pecados, mas confiam que esses lhes foram perdoados por amor de Cristo e que, também, as demais fraquezas são cobertas por seu sofrimento e sua morte; que desejam, cada vez mais, fortalecer a fé e corrigir-se na vida.


- Pessoas que se aborrecem dos seus pecados;

- Confiam que seus pecados foram perdoados por Cristo;

- Demonstram sincero arrependimento dos pecados;

- Desejam aumentar sua fé em Cristo.



Quem está impedido de participar da Ceia do Senhor?

1- As crianças.

Porque elas não têm condições de “examinar-se” e de “discernir o corpo”.

Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. I Co 11:28-29


“As crianças, embora tenham tido permissão para comer a páscoa nos tempos do Antigo Testamento, não podem ter permissão para participar da mesa do Senhor, visto não poderem satisfazer as exigências que se requerem para uma participação digna. Paulo insiste na necessidade de autoexame antes da celebração, quando diz: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice”, 1Co 11.28, e as crianças não são capazes de examinarem-se a si mesmas. Além disso, ele assinala que, para uma digna participação da Ceia, é necessário discernir o corpo, 1Co 11.29, isto é, distinguir apropriadamente entre os elementos utilizados na Ceia do Senhor e o pão e o vinho comuns, reconhecendo aqueles elementos como símbolos do corpo e do sangue de Cristo. E isso também está além da capacidade das crianças. Somente depois de terem elas atingido a idade da discrição é que poderão participar da celebração da Ceia do Senhor.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 606


2- Os incrédulos

“Ainda que os ignorantes e os ímpios recebam os elementos visíveis deste sacramento, todavia não recebem a coisa por eles significada, mas, pela sua indigna participação, tornam-se réus do corpo e do sangue do Senhor, para sua própria condenação. Portanto, todos estes, como são indignos de gozar comunhão com o Senhor, são também indignos da sua mesa, e não podem, sem grande pecado contra Cristo, participar destes santos mistérios nem a eles ser admitidos, enquanto permanecerem neste estado.”
Confissão de Fé de Westminster, XXIX, VIII


“Os descrentes que acaso haja dentro dos limites da Igreja não têm direito de participar da mesa do Senhor. A Igreja já deve exigir de quantos desejem celebrar a Ceia do Senhor uma confiável profissão de fé. Naturalmente, ela não pode enxergar o íntimo do coração, e só pode basear seu julgamento a respeito de um candidato à admissão, em sua confissão de fé em Jesus Cristo. É possível que ocasionalmente admita hipócritas aos privilégios da plena comunhão, mas tais pessoas, se participarem da Ceia do Senhor, somente comerão e beberão juízo para si mesmas. E se sua descrença e irreligiosidade se evidenciar, a Igreja terá que excluí-las pela adequada aplicação eclesiástica. É preciso defender a santidade da Igreja e do sacramento.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 606


“Pois, tal gênero de homens que, sem qualquer centelha de fé, sem qualquer sentimento de caridade, ao tomar a Ceia do Senhor se atropela à maneira de porcos, mui longe está de discernir o corpo do Senhor. Pois, até onde não creem ser esse corpo sua vida, com a rebeldia com que podem o aviltam, despojando-o de toda sua dignidade; e, por fim, ao recebê-lo assim o profanam e contaminam. Na extensão, porém, em que, alienados dos irmãos e em desacordo com eles, ousam misturar o sagrado símbolo do corpo de Cristo com suas dissensões, não se deve a eles que o corpo do Senhor não seja rasgado e dilacerado, membro a membro.
Assim sendo, são merecidamente réus do corpo e do sangue do Senhor, os quais, com sacrílega impiedade, tão ignominiosamente maculam. Portanto, com esta indigna ingestão trazem para si sua própria condenação.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 391


3- Os crentes verdadeiros, quando estiverem na prática do pecado ou antes do arrependimento e da confissão sincera.

“Havia práticas entre os coríntios que faziam da sua participação na Ceia do Senhor um escárnio. Quando uma pessoa se sente conscientemente alheia ao Senhor ou aos seus irmãos, não tem lugar próprio em uma mesa que fala de comunhão.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 606



CONCLUSÕES

 - A Ceia do Senhor como sinal do pacto da graça: simboliza a morte do Senhor; a participação do crente no Cristo crucificado; a vida, força e alegria espirituais recebidas pelo crente; a união dos crentes uns com os outros;

- A Ceia do Senhor como selo do pacto da graça: sela o grande amor de Cristo; é a garantia pessoal do cumprimento de todas as promessas da aliança; garante a bênção da salvação ao crente; é um selo recíproco;

- Quem pode participar da Ceia do Senhor: pessoas que se aborrecem dos seus pecados; confiam que seus pecados foram perdoados por Cristo; demonstram sincero arrependimento dos pecados; desejam aumentar sua fé em Cristo;

- Quem está impedido de participar da Ceia do Senhor: as crianças; os incrédulos; os crentes verdadeiros, quando estiverem na prática do pecado ou antes do arrependimento e da confissão sincera.

sábado, 19 de julho de 2014

O Batismo e a Ceia do Senhor - Aula 10 - A Ceia do Senhor: instituição e presença de Cristo


AULA 10


A CEIA DO SENHOR:
Instituição e presença de Cristo




INTRODUÇÃO

- Quais os significados da Páscoa?

- Como a Páscoa apontava para o sacrifício substitutivo de Cristo?

- O que significa dizer que a Ceia do Senhor foi instituída em substituição da Páscoa?

- Qual é a natureza da presença de Cristo na Ceia?



Significados da Páscoa (Ex 12:1-28):

Significação simbólica: o sacrifício cruento (derramamento de sangue) era necessário para a remissão dos pecados.

Significação típica: apontava para o grande sacrifício futuro de Cristo.

Significação nacional: memorial da libertação do povo de Israel.


A Páscoa apontava para o sacrifício substitutivo de Cristo
Cordeiro macho e sem defeito (v. 5) 
Cristo é o nosso cordeiro pascal (I Co 5:7) 
Exigia sangue para salvação
(v. 13, 27) 
O sangue de Cristo é a nossa salvação
Pães asmos e ervas
amargas (v. 8) 
Devemos lançar fora o velho fermento (I Co 5:8) 
Não deveriam quebrar os ossos do animal (v. 9) 
Cristo não teve ossos quebrados (Jo 19:36)
Lombos cingidos, sandálias nos pés, cajado na mão (v. 11) 
O sacrifício de Cristo é nossa libertação (Rm 6:11) 
Celebração por todas as gerações (v. 14) 
A salvação é a nossa maior alegria 



A Ceia do Senhor foi instituída em substituição da Páscoa.

Cristo é o Cordeiro Pascal (I Co 5:7), Ele cumpriu e superou de forma muito mais excelente todos os significados da Páscoa:

Significação simbólica: não há mais símbolos, o sacrifício de Cristo é único e suficiente para remir todos os pecados.

Significação típica: não há mais tipos, o nascimento de Cristo é o cumprimento da promessa.

Significação nacional: não há mais restrição a uma nação, as bênçãos da salvação foram estendidas por Cristo a pessoas de todo o mundo.



Qual é a natureza da presença de Cristo na Ceia?

Historicamente existem quatro conceitos sobre este tema:

- Católico-romano
- Luterano
- Zwingliano
- Calvinista ou reformado



Conceito católico-romano:

A Igreja de Roma concebe a união sacramental num sentido físico. Quando o sacerdote profere a fórmula “isto é o meu corpo”, o pão e vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo (transubstanciação).

Admite que, mesmo após a mudança, os elementos têm aparência e gosto de pão e vinho. Conquanto a substância seja transformada, as suas propriedades permanecem as mesmas.

Base bíblica (interpretação literal):
Mt 26:26: “isto é o meu corpo”
Jo 6:50: “este é o pão que desce do céu”



Equívocos do conceito católico-romano:

A interpretação literal não é adequada, pois as expressões utilizadas pelo Senhor Jesus são figuradas. Jo 6:63, 10:9, 14:6, 15:1.

Se a interpretação literal fosse correta, então:
- todos os participantes da Ceia do Senhor seriam salvos (ver Jo 6:50, 53-54)
- quem não participasse da Ceia do Senhor, ao menos uma vez, não seria salvo.

É evidente que os próprios católicos-romanos rejeitam expressamente a primeira afirmação. Logo, sua interpretação, por si só, não se sustenta.

É impossível conceber: o pão que Jesus partiu como sendo o corpo que o manipulava; que o que tem sabor de pão e vinho seja carne e sangue; que o corpo físico de Jesus está presente em vários lugares simultaneamente. Tal interpretação violenta os sentidos e a razão humanos.

A Bíblia chama o elemento de pão, mesmo após supostamente ter se tornado corpo de Cristo. I Co 10:17, 11:26-28


“A doutrina geralmente chamada transubstanciação, que ensina a mudança da substância do pão e do vinho na substância do corpo e do sangue de Cristo, mediante a consagração por um sacerdote ou por qualquer outro meio, é algo repugnante, não só à vista das Escrituras, mas também ao senso comum e à razão; destrói a natureza do sacramento, e tem sido a causa de muitas superstições e até de grosseira idolatria.”
Confissão de Fé de Westminster, XXIX, VI


“Tampouco jamais teriam sido tão ignobilmente enganados pelas artimanhas de Satanás, se não se deixassem fascinar por este erro: que o corpo de Cristo é encerrado sob o pão; e que pela boca física é transmitido ao ventre. A causa de tão grosseira imaginação foi que entre eles a consagração equivalia à mágica encantação. Mas lhes era oculto o princípio de que o pão é sacramento somente para os homens a quem a Palavra se dirige; assim como a água do batismo em si não se muda, mas começa a ser o que não era antes assim que a promessa lhe foi anexada.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 356



Conceito luterano:

O pão e o vinho continuam sendo o que são, mas há na Ceia do Senhor uma misteriosa e miraculosa presença real da pessoa completa de Cristo, corpo e sangue, nos elementos, sob eles e junto deles (consubstanciação).

Defende a presença local do corpo e sangue físicos de Cristo nos sacramentos.

Os participantes da Ceia do Senhor comem e bebem o corpo e o sangue de Cristo.



Equívocos do conceito luterano:

Interpreta a expressão “isto é o meu corpo” (Mt 26:26) com o sentido de “isto acompanha o meu corpo”, o que não encontra amparo bíblico ou gramatical.

É forçado a admitir a doutrina da ubiquidade (onipresença) da natureza glorificada de Cristo, o que também não encontra amparo bíblico. Muitos luteranos se esforçam para rejeitar tal doutrina.

Não se afasta muito do conceito católico, mas apenas no que diz respeito à mudança (transformação) de substância dos elementos da Ceia.


“Ora, pois, como estamos longe de disputar que, de conformidade com a perpétua consistência do corpo humano, o corpo de Cristo seja finito e se mantém no céu, onde foi uma vez recebido, até que retorne para Juízo (At 3:20,21), assim julgamos ser absolutamente absurdo trazê-lo de volta sob esses elementos corruptíveis ou imaginá-lo por toda parte presente.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 353



Conceito zwingliano:

Defendia que a Ceia do Senhor é um simples sinal ou símbolo, uma comemoração da morte do Senhor como representação do que Cristo fez pelos pecadores.

Refutava a presença corporal e defendia a presença espiritual de Cristo, conforme a apreensão do participante.

A ênfase da Ceia recai no que o crente promete no sacramento, e não no que Deus promete.



Equívocos do conceito zwingliano:

Permite que a ideia do que o crente faz no sacramento obscureça a dádiva de Deus ao crente.

Vê no ato de comer do corpo de Cristo nada mais, nem mais elevado, que a fé no seu nome e a segura confiança em sua morte.

Valoriza excessivamente:
- o participante, ao invés do Senhor da Ceia;
- a obra de Cristo até sua morte (passado), ao invés da obra completa de Cristo (passado, presente e promessas).



Conceito calvinista ou reformado:

   Cristo está presente espiritualmente nos elementos.
   A Ceia é uma dádiva e uma ordem dada por Deus aos seus filhos.
   A Ceia relembra a obra completa de Cristo (passado, presente e promessas).
   O cristão é alimentado pela fé quando participa da Ceia.
   A Ceia é meio de graça ao cristão, pois aumenta sua fé, comunhão e intimidade com Cristo.


“De antemão já chamamos a atenção para o seguinte: que somos conduzidos das coisas corpóreas que se apresentam no sacramento, por meio de certa analogia, às coisas espirituais. Assim, quando o pão nos é dado como símbolo do corpo de Cristo, imediatamente se deve imaginar esta similitude: como o pão nutre, sustenta, conserva a vida de nosso corpo, assim o corpo de Cristo é o alimento único para revigorar e vivificar a alma. Quando vemos o vinho proposto como símbolo do sangue, deve-se ter em mente quais benefícios o vinho traz para o corpo, para que reflitamos que os mesmos nos são espiritualmente conferidos pelo sangue de Cristo.”
João Calvino. As Institutas; tradução de Waldir Carvalho Luz. 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. 2006. p. 345



CONCLUSÕES


- A Páscoa tinha significação simbólica, típica e nacional;

- A Páscoa apontava para o sacrifício substitutivo de Cristo;

- O sacrifício de Cristo cumpriu e superou todos os significados da Páscoa;

- Existem quatro conceitos sobre a natureza de Cristo na Ceia: católico-romano, luterano, zwingliano e calvinista ou reformado;

- Equívocos do conceito católico-romano: a interpretação literal não possui amparo bíblico, não se sustenta por si só e violenta os sentidos e a razão humanos;

- Equívocos do conceito luterano: não se distancia muito do conceito católico-romano, utiliza-se de interpretação antibíblica e antigramatical e é forçado a admitir a onipresença da natureza glorificada de Cristo;

- Equívocos do conceito zwingliano: valoriza excessivamente o participante e a obra pretérita de Cristo, ao invés do Senhor da Ceia e da obra completa de Cristo;

- Conceito calvinista ou reformado: Cristo está presente espiritualmente nos elementos; a Ceia relembra a obra completa de Cristo; a Ceia é meio de graça ao cristão.

Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 598-605