Então, os que estavam reunidos lhe
perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?
Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou
pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o
Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a
Judeia e Samaria e até aos confins da terra. Ditas estas palavras, foi Jesus
elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos. E,
estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois
varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões
galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi
assunto ao céu virá do modo como o vistes subir. At 1.6-11
Nós
somos cristãos. E, como cristãos, aprendemos desde o início da caminhada que
pertencemos ao reino de Deus e que devemos pregar a beleza deste reino para as
pessoas que ainda não foram alcançadas pela graça de Cristo.
Devido
à importância do reino de Deus, é necessário que não tenhamos dúvidas sobre o
que significa fazer parte desse reino, ou seja, sobre o que as Escrituras nos
ensinam a este respeito.
O
objetivo dessa mensagem é renovar no coração e na mente de cada cristão algumas
características essenciais do reino de Deus, e como isso deve impulsionar
nossas vidas ao evangelismo sincero e dedicado.
2. Os discípulos ainda não compreendiam corretamente o reino
de Deus
Então, os que estavam reunidos lhe
perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? At
1.6
O
Senhor Jesus conviveu diariamente com seus discípulos por três anos, sempre
ensinando-os as verdades do reino que estava sendo inaugurado, o reino de Deus.
Porém,
apesar desse longo tempo de ensino, a pergunta feita pelos discípulos em Atos
1.6 revelou que eles ainda não haviam compreendido corretamente as
características do reino de Deus.
O
verbo “restaures” demonstra que os
discípulos esperavam a restauração do reino territorial e político de Israel, e
de toda a beleza e riqueza que houve nos tempos dos reinados de Davi e de
Salomão. Eles esperavam que Jesus restaurasse esse saudoso tempo de glória.
O
objeto “Israel” reforça essa ideia de restauração da glória de um povo
específico, o povo de Israel, que há muito tempo era escravizado pelas nações
mais poderosas que viviam ao redor deles. Desde o exílio babilônico os
israelitas nunca mais tiveram seu reino restaurado, sua nação reestabelecida e
independente. Os discípulos esperavam que Jesus restaurasse a glória da nação
de Israel.
A
palavra “tempo” demonstra que os discípulos criam que essa restauração
ocorreria de forma imediata, sem demora. O povo de Israel já havia sofrido
demais, pensavam os discípulos, e certamente havia chegado a hora de Jesus
modificar isso.
O
pensamento e a esperança dos discípulos estavam equivocados. E Cristo tratou de
corrigir esse erro, apresentando as características fundamentais do seu reino,
o reino de Deus.
3. Características do reino de Deus
3.1. O reino de Deus é espiritual
Respondeu-lhes: Não vos compete
conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre
vós o Espírito Santo (...) At 1.7-8a
Jesus
iniciou sua resposta com a promessa do envio do Espírito Santo aos discípulos.
Mas, qual a relação desse assunto com a pergunta feita pelos discípulos? O que
o Espírito Santo tinha a ver com a restauração do reino?
Os
dois assuntos estão intimamente ligados. O reino de Deus não pode existir e não
pode ser explicado sem o Espírito Santo.
Ao
apontar para a importância do Espírito Santo na vida dos discípulos, Jesus
apresentou seu reino não como um reino terreno e político, mas sim como o reino
espiritual, o reino composto por todas as pessoas que foram alcançadas pela
graça salvadora de Cristo e que receberam o poder do Espírito de Deus em suas
vidas.
Ao
anunciar seu reino como o reino espiritual, Cristo cumpriu definitivamente a
promessa feita por Deus a Abrão em Gênesis 12:
Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da
tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te
mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o
nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que
te amaldiçoarem; em ti serão benditas
todas as famílias da terra. Gn 12.1-3
Ao
chamar Abrão, Deus prometeu que ele seria uma grande nação, e que por meio dele
todas as famílias da terra seriam benditas. Cristo cumpriu essa promessa, ao
espalhar sua graça salvadora, alcançar seus filhos e dar-lhes o Espírito Santo
como selo dessa promessa.
em quem também vós, depois que
ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também
crido, fostes selados com o Santo
Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua
propriedade, em louvor da sua glória. Ef 1.13-14
O
apóstolo Paulo enfatiza aos crentes de Éfeso a importância do Espírito de Deus
como a garantia do cumprimento da promessa de Cristo do novo céu e da nova
terra.
Os
cristãos foram chamados por Cristo para pertencerem ao reino espiritual de
Deus, ao qual fazem parte todos os que foram transformados por Jesus e que são
guiados pelo Espírito Santo.
Isso
não significa que devemos desprezar a realidade na qual vivemos. Os cristãos
devem se esforçar por influenciar positivamente a comunidade em que vivem, com
ações que glorificam ao Senhor. A diferença é que nossa esperança não deve
repousar em governantes terrenos, pois nosso reino é espiritual e governado
pelo Único Rei Santo e Poderoso, que cuida de cada um dos seus filhos e que
retornará para viver conosco eternamente.
3.2. O reino de Deus é internacional
e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra. At 1.8b
Após
explicar que seu reino é espiritual, Jesus afirmou que os discípulos seriam
suas testemunhas em vários lugares.
Isso
significa que o reino de Deus não seria restrito à nação de Israel. O reino
inaugurado por Cristo seria o reino internacional, composto por pessoas de
todas as tribos, povos e raças.
Depois destas coisas, vi, e eis grande
multidão que ninguém podia enumerar, de
todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e
diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e
clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao
Cordeiro, pertence a salvação. Ap 7.9-10
O
reino de Deus é o reino de todas as pessoas que foram alcançadas pela graça de
Cristo. Não há exclusividade de um povo, não há privilégio de nascimento. As
Escrituras nos ensinam que “todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm
3.23)”, logo, todos carecem da graça salvadora que somente Cristo pode dar.
Cristo
inaugurou o reino internacional, o reino de todos os que foram salvos por Ele
mesmo, o reino de todos aqueles que não eram povo, mas que foram feitos filhos
de Deus.
Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz; vós, sim, que,
antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado
misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia. 1Pe 2.9-10
O
livro de Atos dos Apóstolos apresenta claramente essa característica do reino
de Deus, ao demonstrar a transformação de vidas de pessoas de todas as nações.
Logo
de início, ao registrar a primeira conversão (Atos 2), é possível perceber que salvas
pessoas de todas as nações:
E como os ouvimos falar, cada um em
nossa própria língua materna? (...) Então, os que lhe aceitaram a palavra foram
batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. At 2.8,
41
Portanto,
ao contrário do que os discípulos pensavam, o reino de Deus não era exclusivo
dos israelitas, mas sim o reino internacional, composto por todos os que foram
salvos por Cristo.
3.3. O reino de Deus cresce gradualmente
e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra. At 1.8b
A
terceira característica do reino de Deus é que ele cresce gradualmente.
Os
discípulos esperavam que Cristo restaurasse imediatamente a glória antiga do
reino de Israel, por meio da vitória sobre os romanos e sobre qualquer outro
povo que ameaçasse os israelitas.
Entretanto,
após apresentar seu reino como espiritual e internacional, Jesus explicou aos
discípulos que o reino cresceria gradualmente. O primeiro local de crescimento
seria a cidade de Jerusalém; posteriormente, as regiões da Judeia e de Samaria
seriam alcançadas; por fim, até mesmo os confins da terra experimentariam o
amor de Cristo.
O
livro de Atos apresenta esse desenvolvimento gradual do reino de Deus:
-
Conversões em Jerusalém: At 2.41, 4.4, 5.14
-
Conversões na Judeia e Samaria: At 8.4-5,40
-
Conversões até os confins da terra: viagens missionárias (At 13, 16 e 19)
O
reino de Deus crescia dia a dia, e nem mesmo as perseguições foram capazes de
parar esse crescimento. Por onde iam, os cristãos pregavam o amor de Cristo e o
Espírito Santo transformava vidas de cidade em cidade.
Esse
desenvolvimento fez o Evangelho chegar até nós, por meio de valorosos homens e
mulheres que dedicaram suas vidas à pregação da Palavra de Deus.
Hoje,
a ordem para continuar a pregação do Evangelho foi dada a nós, e não podemos
descumpri-la. Precisamos dedicar tempo e esforço no cumprimento desse mandamento,
a fim de honrar o nome de Cristo, nosso Senhor e Salvador.
4. Conclusão
Como
cristãos, pertencemos ao reino de Deus, e não podemos ter dúvidas sobre o que
as Escrituram nos ensinam a este respeito.
Apesar
de terem convivido por três anos com Jesus, os discípulos ainda não haviam
compreendido corretamente o significado do reino de Deus. Eles pensavam que o
reino de Deus seria político, nacional e imediato.
Jesus
ensinou aos seus discípulos que seu reino é o reino espiritual, composto por
todas as pessoas transformadas por Sua graça e guiadas por Seu Espírito.
O
reino de Deus também é internacional, composto por pessoas de todas as tribos,
povos e raças.
Por
fim, o reino de Deus cresce gradualmente, dia a dia, e cabe a nós continuar a
anunciação das boas novas do Evangelho de Cristo, para a salvação de todo
aquele que crê (Rm 1.16).
Soli Deo Gloria
Extraído e adaptado de STOTT, John. A Mensagem de Atos: até os confins da
terra; traduzido por Markus André Hediger e Lucy Yamakami. São Paulo: ABU
Editora, 2003. 2ª reimpressão. 462p.
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