sábado, 29 de setembro de 2018

Os cristãos e o voto útil

Filipe Rodrigues Costa


Estamos há poucos dias da realização do 1º turno das eleições, momento no qual escolheremos pessoas para ocuparem cargos importantes na administração do nosso País: presidente, governador, dois senadores, deputados federais e estaduais.

Nós, cristãos, temos que redobrar nosso estudo, tanto das Escrituras, para termos em mente os princípios bíblicos que devem ser aplicados à política, como do histórico e das propostas dos candidatos, para, em oração, ouvirmos de Deus o direcionamento para nossos votos.

Um dos assuntos que merece atenção dos cristãos é o chamado “voto útil” ou “voto tático”.

O voto útil é o voto que é dado a um candidato que não é o preferido do eleitor, mas que é escolhido para evitar que outro candidato seja o vencedor. Em outras palavras: o eleitor gostaria de votar no candidato “A”, por entender que ele é o que mais atende à sua visão de mundo; porém, esse eleitor percebe, pelas pesquisas eleitorais, que o candidato “A” não tem grande chance de ser eleito, ao contrário do candidato “B”, que tem maior chance, mas que não o agrada; então, o eleitor opta por votar no candidato “C”, que, embora não seja o seu preferido, é o que tem mais chances de vencer e evitar a eleição do candidato “B”. Logo, esse eleitor, que gostaria de votar no candidato “A”, acaba por votar no candidato “C” para evitar a eleição do candidato “B”. Esse eleitor fica com a sensação de não ter “desperdiçado” seu voto em um candidato que tinha pouca chance de ser eleito, e de ter ajudado a não eleger um candidato que não o agradava. Esse é o “voto útil”.

O voto útil é uma tática utilizada por grande número de candidatos e é capaz de influenciar muitas pessoas que, com receio de verem seus votos “desperdiçados” em candidatos que têm poucas chances de vencerem, são levadas a votarem em outros candidatos, que pouco ou nada representam seus ideais e valores para a sociedade.

Apesar de parecer ser “agradável aos olhos e (...) desejável” (Gn 3.6), o voto útil deve ser evitado pelos cristãos. Seguem abaixo alguns motivos para isso.

1. As Escrituras Sagradas nos ensinam a buscarmos em Deus os princípios que devem ser aplicados à todas as áreas da vida, incluindo-se, portanto, a política. Sl 1.2 nos ensina que devemos estudar a lei do Senhor constantemente; Sl 119.105 nos ensina que a Palavra de Deus é nossa lâmpada; 2Tm 3.16-17 nos ensina a importância das Escrituras como nossa fonte de aprendizado. O caminho para escolhermos bem nossos candidatos inicia-se pelo estudo da Palavra de Deus.

2. As Escrituras também nos ensinam que a oração é a chave para compreendermos a vontade de Deus. 1Ts 5.17 nos ensina a orar sempre; Rm 8.26-27 nos assegura que o próprio Espírito Santo intercede por nós; Tg 5.16 garante que a súplica do justo tem grande valor. Aliado ao estudo das Escrituras, devemos orar constante e fervorosamente para que nosso Pai nos mostre candidatos comprometidos com Sua Palavra e com Vontade.

3. O estudo das Escrituras e a oração constante nos levarão a trilharmos com mais êxito o caminho da santificação, que consiste em evitar aquilo que desagrada a Deus e abraçar aquilo que O agrada, ou seja, consiste em conhecer e obedecer mais e mais à Sua Vontade, que é boa, perfeita e agradável (Rm 12.2), e parecer-se a cada dia mais com o Senhor Jesus. O caminho da santificação em nada se relaciona com estratégias eleitorais para beneficiar ou prejudicar qualquer candidato. A santificação consiste em ouvir a voz de Deus e obedecê-la, o que significa votar nos candidatos que mais se aproximam do ideal cristão para a sociedade, independentemente de suas chances de vitória serem prováveis ou remotas.

4. Optar pelo “voto útil” ofende a Soberania de Deus. As Escrituras nos ensinam que Deus é o soberano Criador e Sustentador de todo o Universo, Ele governa sobre tudo e todos. Jo 38.4-11 nos ensina sobre o grandioso poder do Senhor. Is 6.1-5, 40.12-18 e Ap 4-8, dentre tantos outros textos, exaltam a Majestade de Deus. Deus governa sua criação com mão forte, ele não dorme (Sl 121.4) e age de forma irresistível para o cumprimento da Sua Vontade (Is 43.13). É Ele quem governa nosso País e quem permite a vitória deste ou daquele candidato. Logo, deixar de votar em candidatos que mais se aproximam dos princípios cristãos, sob o argumento de terem pouca chance de vitória demonstra falta de fé no Deus da providência. Exercer o “voto útil” é ainda pior, pois além de não votarmos de acordo os princípios bíblicos, nós, cristãos, passaremos a ser “massa de manobra”, jogados de um lado para o outro e incentivados a depositarmos os votos em candidatos sem qualquer compromisso com a verdade da Palavra de Deus.

5. O “voto útil” ofende a democracia. A democracia foi uma grande e recente conquista alcançada em nosso País, por permitir a liberdade de expressão e de reunião, e direito de voto livre, dentre vários outros direitos. A existência de vários candidatos, com visões de mundo e propostas diversas, somente é possível em regimes democráticos. Exercer o “voto útil” significa ser vencido pela pressão exercida e pelo autoritarismo de pessoas que utilizam o sistema político apenas para se perpetuarem no poder, sem compromisso com a melhoria do nosso País; significa abrir mão desses direitos garantidos pela democracia e sucumbir perante os interesses escusos de pessoas que querem cativar a mente de muitos para o seu próprio favorecimento. O “voto útil” representa um retrocesso a todos os direitos garantidos pela democracia.

As Escrituras advertem em Ef 4.11-16 que devemos crescer no conhecimento de Cristo, a fim de evitarmos o erro de sermos “como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”. Exercer o “voto útil” é cair nessa armadilha.

As Escrituras nos mostram a maior e mais cruel utilização do “voto útil” que já existiu sobre a face da Terra. Cristo disse que os líderes religiosos de sua época erravam “por não conhecerem as Escrituras e nem o poder de Deus” (Mt 22.29). Esses líderes, apesar de advertidos, permaneceram no erro e, por meio do “voto útil”, conseguiram influenciar a maioria do povo judeu, que clamou pela libertação do criminoso Barrabás para proporcionar a condenação do nosso Senhor Jesus.

Mas os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que pedisse Barrabás e fizesse morrer Jesus. De novo, perguntou-lhes o governador: Qual dos dois quereis que eu vos solte? Responderam eles: Barrabás! Replicou-lhes Pilatos: Que farei, então, de Jesus, chamado Cristo? Seja crucificado! Responderam todos. Que mal fez ele? Perguntou Pilatos. Porém cada vez clamavam mais: Seja crucificado! Vendo Pilatos que nada conseguia, antes, pelo contrário, aumentava o tumulto, mandando vir água, lavou as mãos perante o povo, dizendo: Estou inocente do sangue deste [justo]; fique o caso convosco! E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos! Mt 27.20-25

Nós cristãos, como cidadãos e eleitores, devemos estudar com esmero as Escrituras e orar incessantemente, para buscar do Senhor a indicação de candidatos comprometidos com a Verdade. Por semelhante modo, devemos clamar para que nosso Deus nos dê a firmeza de manter nossa mente em Cristo (2Co 10.3-6) e depositar nossos votos nos candidatos indicados por Ele, e para que Ele nos livre da tentação do “voto útil”, a fim de O agradarmos e cumprimos Sua Vontade também como eleitores.

A Deus toda a glória!

2 comentários:

  1. Verdade, precisamos nos orientar pelas sagradas escrituras,e nao deixar que a corrupção e a depravação continue.👏👏👏

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  2. Não podemos escolher um mal menor para evitar um mal maior. Entre duas escolhas más, não devemos escolher nenhuma. No cristianismo, os fins não justificam os meios! Nesse sentido, o voto útil é errado.

    No entanto, esse nem sempre é o caso. A escolha pode ser em um bem menor, quando um bem maior não é possível. Nesse caso, a escolha é entre um bem menor e um mal, pois o bem maior é inviável.

    Os fins não justificam os meios. Contudo, quando os meios são justificáveis, devemos escolher o meio que melhor alcance os fins. A soberania de Deus não anula a nossa responsabilidade de usar de forma sábia os meios que Ele nos deu.

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