segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Jesus Cristo no Antigo Testamento - aula 08 - Rute


- Um período difícil (crise, escolhas equivocadas e consequências)
- O retorno para casa
- A providência divina em um dia de trabalho
- O plano de Noemi e o encontro de Rute e Boaz
- O casamento de Rute e Boaz e o nascimento de Obede
- Conclusão
- Referências bibliográficas


UM PERÍODO DIFÍCIL
(crise, escolhas equivocadas e consequências)

Nos dias em que julgavam os juízes, houve fome na terra; e um homem de Belém de Judá saiu a habitar na terra de Moabe, com sua mulher e seus dois filhos. Rt 1.1


O livro de Rute inicia-se com o relato de uma família que viveu no período dos juízes. Esse foi um período difícil, marcado pela instabilidade e apostasia espirituais do povo de Israel. Não havia um líder permanente que guiava o povo, como nos dias de Moisés e Josué. Cada um fazia o que achava correto, o que na maioria das vezes significava desobediência contra a lei de Deus. O povo era castigado pelo Senhor, clamava por socorro, e então Deus enviava um juiz para libertá-los e guiá-los. Porém, após a morte desse juiz, Israel voltava a fazer o que era errado e o “ciclo” se reiniciava.

“(...) Esse foi um tempo de instabilidade política, opressão econômica, corrupção moral e apostasia religiosa. O povo estava entregue a si mesmo. “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto.” (Jz 21.25) (...)”
LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 30.


O texto diz que houve fome na terra de Israel e, por isso, um homem saiu com sua família de Belém para Moabe. À primeira vista, essa migração parece acertada, pois era a decisão a ser tomada por um homem para salvar sua família da morte. Mas, ao analisarmos a questão, veremos que não foi bem assim.

O homem citado é Elimeleque, (Rt 1.2). Seu nome significa “meu Deus é rei”, ele era um israelita e morava em Belém, a “terra do pão”. Ele servia o Deus de seus pais, Aquele que os tirou do Egito com mão poderosa e cumpriu, ao menos parcialmente naquele momento histórico, as promessas feitas a Abraão e a Jacó. Elimeleque sabia quem era o Deus de Israel.

Mas esse conhecimento não foi suficiente para que ele mantivesse sua confiança em Deus naquele momento de dificuldade. Mesmo sabendo que o Senhor providenciou pão do céu no deserto para seus pais, Elimeleque fraquejou em sua fé e decidiu que fugir para uma terra estrangeira e ímpia era melhor do que confiar na providência divina.

“(...) A fuga de Elimeleque para Moabe é estranha e injustificável. Moabe ficava num planalto a leste do mar Morto, a uns oitenta quilômetros de Belém. Os moabitas eram descendentes de Ló. Eles se tornaram idólatras e, por isso, não deviam ser admitidos na congregação de Israel (Dt 2.9; 23.3-6; Jz 11.17). Os moabitas eram adoradores de Camos, um deus a quem faziam sacrifícios humanos. Além de idólatras, os mabitas também eram opressores, pois já haviam oprimido a Israel, quando Eglom, rei de Moabe, invadiu a terra dos israelitas e manteve o povo de Israel na escravidão durante dezoito anos (Jz 3.12-20). (...)”
LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 31.


“(...) Esse drama imenso é representado num microcosmo no momento em que a câmera se aproxima da família de Elimeleque. O nome Elimeleque significa “o Senhor é rei”. Por ironia, ele não sentiu que o Senhor era rei sobre as circunstâncias da fome. Caso tivesse pensado assim, teria ficado em Belém. Mas, pelo contrário, saiu de Belém (cujo nome, em contraste, significa “casa do pão”) e partiu para Moabe. Em vez de confiar no Senhor de todo o coração, ele confiou em sua própria prudência. O pragmatismo venceu a luta contra a fé obediente. (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 69


Este homem se chamava Elimeleque, e sua mulher, Noemi; os filhos se chamavam Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; vieram à terra de Moabe e ficaram ali. Morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com seus dois filhos, os quais casaram com mulheres moabitas; era o nome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos. Morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando, assim, a mulher desamparada de seus dois filhos e de seu marido. Rt 1.2-5


A decisão de Elimeleque não trouxe, nem de longe, os resultados que ele esperava. Muito ao contrário. O texto bíblico relata que Elimeleque e seus filhos morreram em Moabe. Eles fugiram para encontrar pão mas encontraram a morte.

Aquela família sofreu com a pobreza, com a migração e com as perdas sucessivas. Dez anos depois, Noemi era viúva com 2 noras, sem filhos, pobre e estrangeira.

“(...) Noemi ficou viúva, pobre, sem filhos e em terra estranha. Eles saíram para buscar pão e encontraram a sepultura. Saíram para fugir da crise e deram de cara com ela. (...)”
LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 34.


O RETORNO PARA CASA

Saiu, pois, ela com suas duas noras do lugar onde estivera; e, indo elas caminhando, de volta para a terra de Judá, disse-lhes Noemi: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o SENHOR use convosco de benevolência, como vós usastes com os que morreram e comigo. O SENHOR vos dê que sejais felizes, cada uma em casa de seu marido. E beijou-as. Elas, porém, choraram em alta voz. Rt 1.7-9


Após o fracasso em terras estrangeiras, Noemi ouviu que a situação havia melhorado em Belém e resolveu voltar para lá. Em princípio, suas duas noras estavam dispostas a ir com ela. Mas, em algum ponto do caminho, Noemi incentiva-as a retornarem para sua terra, pois não tinha filhos e mais nada para oferecer a elas.

“(...) Pense na cena de Noemi entre Moabe e Belém, incentivando as duas noras a voltar para o país delas, onde encontrariam segurança. Ela insiste com as noras para que calculem o preço da decisão. Tinham de escolher: “Yahweh e mais nada em Belém ou tudo menos Yahweh em Moabe”. (...)”
Sinclair Ferguson, Faithful God: an exposition of the Book of Ruth (Bridgend, País de Gales: Bryntirion, 2005), p. 38, in: CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 70


Deus e mais nada ou tudo menos Deus? Essas eram as opções para as duas noras de Noemi.

Realisticamente, essa decisão só é difícil para alguém que servia ao Deus de Israel. Para que servia a outros deuses, que proveito teria abrir mão de todas as possibilidades, do recomeço em sua terra natal, de um novo casamento e da possibilidade de ter filhos, tudo isso “apenas” em troca de servir ao Deus de seu marido e de sua sogra? Aliás, um Deus que, humanamente falando, não sustentou com vida os homens da família em meio àquela situação tão difícil? Diante daquele contexto, por que servir a esse Deus?

Então, de novo, choraram em voz alta; Orfa, com um beijo, se despediu de sua sogra, porém Rute se apegou a ela.  Disse Noemi: Eis que tua cunhada voltou ao seu povo e aos seus deuses; também tu, volta após a tua cunhada. Rt 1.14-15


Esses pensamentos foram decisivos para Orfa, que optou por retornar ao seu país. Ela preferiu servir aos deuses de Moabe do que ao Deus de Israel.

1.15 seus deuses. Um novo elemento é introduzido. Até aqui os leitores tinham deduzido, provavelmente, que as noras de Noemi tivessem se tornado, de fato, adoradoras do Senhor. Agora eles ficam sabendo o que implicava a escolha do local para morar. A escolha de Orfa e a declaração de Rute (vs. 16-17) representaram, respectivamente, o compromisso de cada uma com a fé.
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 342. Comentário de Rute 1.15


Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o SENHOR o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti. Vendo, pois, Noemi que de todo estava resolvida a acompanhá-la, deixou de insistir com ela. Rt 1.16-18


Surpreendentemente, Rute desprezou esse raciocínio e resolveu permanecer ao lado de Noemi. E a motivação dela para tomar essa decisão foi, como ela mesma disse, o desejo de ter o Deus de Israel como seu Deus pessoal por toda a vida, fossem quais fossem as circunstâncias. Rute demonstrou, naquele momento histórico, que havia sido alcançada pela graça salvadora de Deus, que era uma cristã verdadeira.

1.16 o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. As palavras de Rute representam sua total conversão. Ela se comprometeu não apenas com Noemi, mas também com Israel e com o Deus de Israel (cf. 2Sm 15.21).
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 342. Comentário de Rute 1.16


“(...) Mas Rute não se deixa convencer. Em essência, essa foi a conversão de Rute. Como sondar esse acontecimento? Como alcançar as profundezas da persuasão divina? Como compreender esse mistério? Diante das mesmíssimas circunstâncias e insistências dos lábios da mesma mulher, uma volta a Moabe e a outra, usando a linguagem da aliança, diz: “Não posso voltar, pois já não sou a mesma pessoa. Já não confio nos deuses para os quais a minha concunhada agora voltou. Não peça que eu a abandone. Vou aonde a senhora for, e a partir de agora o seus Deus será o meu Deus.” (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 70


A PROVIDÊNCIA DIVINA EM UM DIA DE TRABALHO

Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele que mo favorecer. Ela lhe disse: Vai, minha filha! Rt 2.2


Logo após terem retornado a Belém, Rute pediu permissão a Noemi para ir ao campo em busca do sustento para elas. Ela demonstrou conhecer a lei de Deus que favorecia os pobres, ao permitir que eles recolhessem as espigas dos cantos e as que caíram no chão (Lv 19.9-10, 23.22; Dt 24.19).

Rute se apresentou uma mulher trabalhadora mesmo em meio às dificuldades. Ela conhecia a lei de Deus e foi à luta confiante de que o Senhor de Noemi, e também dela, daria o sustento necessário a ambas.

O contraste é evidente: no momento de crise, Elimeleque não confiou em Deus e resolveu fugir; Rute confiou em Deus e foi ao trabalho com disposição e fé.

Ela se foi, chegou ao campo e apanhava após os segadores; por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz, o qual era da família de Elimeleque. Rt 2.3


Era época da colheita da cevada em Belém. Imagina-se que existiam muitos campos para colheita e muitas pessoas envolvidas nesse trabalho. Rute poderia ter entrado em qualquer um desses campos, mas o texto narra que por “casualidade” ela entrou no campo de Boaz.

“Casualidade” é o nome que o texto dá para a grande providência de Deus em andamento na vida de Rute, Noemi e Boaz.

Respondeu Boaz e lhe disse: Bem me contaram tudo quanto fizeste a tua sogra, depois da morte de teu marido, e como deixaste a teu pai, e a tua mãe, e a terra onde nasceste e vieste para um povo que dantes não conhecias. O SENHOR retribua o teu feito, e seja cumprida a tua recompensa do SENHOR, Deus de Israel, sob cujas asas vieste buscar refúgio. Rt 2.11-12


Boaz se apresentou como um homem temente a Deus e benevolente para com os necessitados. Ele soube da triste história de Noemi e Rute e também da firme decisão de Rute de permanecer ao lado da sogra e de servir ao Deus de Israel. Ele reconheceu a “conversão” de Rute, rogou a Deus que fosse misericordioso com ela e fez a sua parte ao permitir e insistir para que ela trabalhasse sempre em seu campo.

“(...) Rute se considerou dependente da graça de Deus. Ela abraçou a fé em Deus. Boaz sabia que ela desistira de sua família e amigos, de sua religião e da companhia de seus compatrícios para ficar com Noemi. Boaz sabia que Rute, como Abraão, deixara a casa de seu pai e a sua parentela para ir a outra terra, não sabendo o que lhe reservava o futuro. E ele sabia que isso era uma prova da profundeza da fé recém-descoberta de Rute em Iavé (2.12), uma fé que se expressava em amor. (...)”
ATKINSON, David. A mensagem de Rute, 1991: p. 70,71, in: LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 81.


Boaz demonstrou qualidades muito especiais. Ele ofereceu várias coisas a Rute²:

- Graça: ele favoreceu Rute, embora ela não merecesse isso
- Provisão: ele ofereceu a mesma provisão dada aos seus trabalhadores
- Proteção: ele assegurou Rute de que ela não sofreria nenhum mal em seu campo
- Consolação: ele falou favoravelmente a ela naquele momento difícil
- Comunhão: ele a convidou para assentar-se com ele à mesa
- Ele fez muito mais do que a lei exigia.

Esteve ela apanhando naquele campo até à tarde; debulhou o que apanhara, e foi quase um efa de cevada. Tomou-o e veio à cidade; e viu sua sogra o que havia apanhado; também o que lhe sobejara depois de fartar-se tirou e deu a sua sogra. Então, lhe disse a sogra: Onde colheste hoje? Onde trabalhaste? Bendito seja aquele que te acolheu favoravelmente! E Rute contou a sua sogra onde havia trabalhado e disse: O nome do senhor, em cujo campo trabalhei, é Boaz. Então, Noemi disse a sua nora: Bendito seja ele do SENHOR, que ainda não tem deixado a sua benevolência nem para com os vivos nem para com os mortos. Disse-lhe mais Noemi: Esse homem é nosso parente chegado e um dentre os nossos resgatadores. Rt 17-20


Após a recepção favorável de Boaz, Rute trabalhou durante todo o dia. Ao chegar em casa, contou o ocorrido à sua sogra, que prontamente louvou a Deus pela Sua imensa graça.

“(...) Pela primeira vez, ela abre a boca para bendizer. Ela bendiz a Boaz e a Deus. Seu pessimismo doentio é curado ao ver a doce providência divina sorrindo de volta para ela. (...)”
LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 83.


O PLANO DE NOEMI E O ENCONTRO DE RUTE E BOAZ

Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de eu buscar-te um lar, para que sejas feliz? Ora, pois, não é Boaz, na companhia de cujas servas estiveste, um dos nossos parentes? Eis que esta noite alimpará a cevada na eira. Banha-te, e unge-te, e põe os teus melhores vestidos, e desce à eira; porém não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber. Quando ele repousar, notarás o lugar em que se deita; então, chegarás, e lhe descobrirás os pés, e te deitarás; ele te dirá o que deves fazer. Respondeu-lhe Rute: Tudo quanto me disseres farei. Rt 3.1-5


Passado o período da colheita da cevada, o texto relata o plano de Noemi para aproximar Rute de Boaz. Ela sabia que Boaz era um resgatador e, portanto, poderia casar-se com Rute. O plano foi minuciosamente traçado, e Rute mostrou-se mais uma vez obediente e disposta a cumprir as ordens da sogra.

Sob a ótica humana, certamente essa ideia continha alguns riscos quanto à moral de Rute perante Boaz e a sociedade. Contudo, não se tratavam de duas pessoas quaisquer. Rute e Boaz tinham belas características que merecem ser destacadas.

Rute era uma mulher:
- convertida ao Deus de Israel (1.16-17)
- trabalhadora (2.2, 15-17)
- que tinha um belo relacionamento com sua sogra
- de bom testemunho em toda a cidade (3.11)

Boaz era um homem:
- íntegro (3.8-10): ele manteve-se fiel a Deus e respeitou Rute
- generoso (3.15-17): ele favoreceu Rute mais do que a lei exigia
- leal (3.12-13): ele se afeiçoou a Rute, contudo, respeitou o direito do resgatador mais próximo

As características demonstram que ambos eram tementes a Deus e procuravam ter uma vida honrada e honesta diante Dele. Eram trabalhadores, respeitavam as leis e os mais velhos e tinham bom testemunho da sociedade. Soma-se a tudo isso o fato de Deus ter conduzido a história dessas duas pessoas para uni-las no momento devido, a fim de manter viva a semente da mulher a promessa feita a Adão.

Disse ele: Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha; melhor fizeste a tua última benevolência que a primeira, pois não foste após jovens, quer pobres, quer ricos. Agora, pois, minha filha, não tenhas receio; tudo quanto disseste eu te farei, pois toda a cidade do meu povo sabe que és mulher virtuosa. Ora, é muito verdade que eu sou resgatador; mas ainda outro resgatador há mais chegado do que eu. Fica-te aqui esta noite, e será que, pela manhã, se ele te quiser resgatar, bem está, que te resgate; porém, se não lhe apraz resgatar-te, eu o farei, tão certo como vive o SENHOR; deita-te aqui até à manhã.


Como dito, Boaz agiu com integridade e lealdade para com Rute. Ele explicou que teria que negociar com o resgatador mais próximo, e prometeu que se casaria com ela caso isso fosse possível.

“(...) Boaz afeiçoou-se de Rute desde o primeiro momento que a encontrou. Ele era um homem rico, piedoso e legalmente qualificado para ser o resgatador da família. Boaz já dera abundantes provas do seu amor por Rute, e ela sabia disso. Por sua vez, Rute já fizera o pedido formal de casamento a Boaz, e ele estava empenhado em resolver a questão, pois na lista dos parentes próximos havia um homem que tinha preferência para resgatá-la e casar-se com ela. (...)”
LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 115.


O CASAMENTO DE RUTE E BOAZ E O NASCIMENTO DE OBEDE

Boaz subiu à porta da cidade e assentou-se ali. Eis que o resgatador de que Boaz havia falado ia passando; então, lhe disse: Ó fulano, chega-te para aqui e assenta-te; ele se virou e se assentou. Então, Boaz tomou dez homens dos anciãos da cidade e disse: Assentai-vos aqui. E assentaram-se. Rt 4.1-2


Boaz foi ao encontro do resgatador mais próximo para informar-lhe sobre a situação e saber se ele exerceria o seu direito. Algumas características de Boaz merecem destaque:

- Ele tinha pressa: Boaz procurou resolver a situação na manhã seguinte ao encontro com Rute. Ele não tinha tempo a perder.

- Ele tinha que cumprir a lei: Boaz foi ao portão da cidade, lugar onde as questões jurídicas eram resolvidas. Ele queria cumprir integralmente a lei.

- Ele agiu com integridade: Boaz não tentou enganar o resgatador, mas apresentou os fatos e lembro o outro homem da sua preferência no resgate.

- Ele foi sábio: Boaz apresentou os fatos em duas etapas. Primeiro, se concentrou na possibilidade da compra das terras de Noemi. Somente após isso, ele informou o outro homem sobre a obrigatoriedade de casar-se com Rute.

“(...) O outro resgatador percebeu que, se ele redimisse o campo de Noemi, não teria um aumento de sua propriedade; ao contrário, teria uma diminuição do seu patrimônio, visto que ele teria que pagar pela terra, que não passaria a pertencer à sua família, mas ao filho de Rute. Neste caso, ele tinha de comprar o campo e, além disso, sustentar Rute. As despesas poderiam ser bem elevadas. O remidor certamente estava disposto a comprar o campo, sem casar-se com Rute. Ele não estava disposto a fazer ambas as coisas. (...)”
CUNDALL, Arthur E. e MORRIS, Leon. Juízes e Rute: Introdução e Comentário, 2006: p. 282, in: LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 120.


A estratégia de Boaz deu certo. Ele agora era o resgatador legalmente autorizado a casar-se com Rute. Boaz e Rute receberam a bênção dos anciãos e do povo que presenciou a negociação.

Assim, tomou Boaz a Rute, e ela passou a ser sua mulher; coabitou com ela, e o SENHOR lhe concedeu que concebesse, e teve um filho. Rt 4.13


O casamento de Boaz e Rute foi marcado de encanto e beleza, pois foi providenciado por Deus, precedido por um belo relacionamento, desejado por ambos, apoiado pela família e reconhecido pela sociedade. E, para coroar essa linda história de amor guiada por Deus, Rute engravidou e deu à luz um filho.

Então, as mulheres disseram a Noemi: Seja o SENHOR bendito, que não deixou, hoje, de te dar um neto que será teu resgatador, e seja afamado em Israel o nome deste. Ele será restaurador da tua vida e consolador da tua velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz, e ela te é melhor do que sete filhos. Rt 4.14-15


O texto bíblico relata que esse menino foi motivo de grande alegria para Noemi. Após ter passado por grandes tristezas e de quase ter perdido a esperança, ela recebeu o grande presente de Deus: um neto que manteria vivo o nome de sua casa e de sua família.

As vizinhas lhe deram nome, dizendo: A Noemi nasceu um filho. E lhe chamaram Obede. Este é o pai de Jessé, pai de Davi. São estas, pois, as gerações de Perez: Perez gerou a Esrom, Esrom gerou a Rão, Rão gerou a Aminadabe, Aminadabe gerou a Naassom, Naassom gerou a Salmom, Salmom gerou a Boaz, Boaz gerou a Obede, Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi. Rt 4.17-22


O nascimento daquele menino foi muito mais importante do que qualquer outro de sua geração. O livro de Rute termina com uma breve, mas importante genealogia, que mostra as gerações de Perez até Davi. O filho de Rute e Boaz foi o avó do grande rei de Israel, o homem segundo o coração de Deus, o descendente da mulher do qual, anos mais tarde, nasceria o redentor do Universo, Jesus Cristo.

“(...) O autor do livro de Rute não olha apenas para Obede. Ele levanta seus olhos e vê mais além. Ele olha para a história da redenção. Deus não estava trabalhando apenas para prover bênçãos materiais a Noemi, Rute e ao povo de Belém. Ele estava preparando o cenário para a chegada de Davi, o maior rei de Israel. O nome de Davi trazia consigo a esperança do Messias em um novo tempo de paz, justiça e liberdade, em que o pecado e a morte seriam vencidos. A história do livro de Rute abre as cortinas da esperança e nos aponta para Jesus!(...)”
LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 129.


CONCLUSÃO

O livro de Rute começa com uma situação difícil e uma decisão tomada por um pai de família que preferiu fugir da sua terra a confiar no Deus de Israel. Essa decisão não trouxe o alívio pretendido, muito ao contrário, trouxe a morte para os três homens daquela família.

Sem marido, sem filhos, com 2 noras estrangeiras, sem dinheiro, quase sem esperança. Essa era a situação de Noemi ao resolver voltar para casa. Ela convenceu Orfa a retornar para Moabe, contudo, ao contrário do que seria possível imaginar, Rute faz sua pública profissão de fé naquele momento de crise e seguiu junto à sua sogra para Belém. Deus estava presente.

A história delas começou a mudar em um dia aparentemente comum de trabalho, quando Boaz fala generosamente a Rute. Mais tarde, o plano de Noemi funcionou e Boaz prometeu casar-se com Rute. Deus estava em ação.

Boaz cumpriu todos os requisitos legais, casou-se com Rute e ambos tiveram um filho chamado Obede, o avô de Davi. Deus executou seu maravilhoso plano de manutenção da semente da mulher e da promessa feita a Adão.

Esse livro é uma linda história de amor, totalmente guiada por Deus com o propósito de preservar a semente da mulher. Deus conduziu soberanamente a história daquelas pessoas, em um tempo difícil, no qual cada um fazia o que achava mais correto, a fim de providenciar a salvação do Seu povo no futuro.

“(...) No início, observamos que essa história aconteceu numa época em que não havia rei em Israel. Foi nesse contexto e na vida de pessoas comuns que Deus preparou o caminho para Jesus, o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Numa experiência de fome e escuridão, ele estava preparando o caminho para Jesus, o Pão da Vida e a Luz do Mundo! (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 75.


Toda glória seja dada ao Rei do Universo!

1Extraído e adaptado de: CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 63-76.
²Extraído e adaptado de: LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 74-76.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. 1920p.

CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. 224 p.

LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. 135 p.


domingo, 20 de setembro de 2015

Jesus Cristo no Antigo Testamento - aula 07 - O êxodo (Ex 14)


- Introdução
- O que deixamos para trás: a escravidão
- Como saímos: pela graça
- Por que saímos: pela intervenção do Mediador
- Conclusão
- Referências bibliográficas


INTRODUÇÃO

Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do SENHOR que, hoje, vos fará; porque os egípcios, que hoje vedes, nunca mais os tornareis a ver. Ex 14.13b


A saída do Egito foi um dos momentos mais importantes da história do povo de Israel. Certamente houve uma mistura de sentimentos ali, de um lado pela alegria advinda da libertação da escravidão após 400 anos, e por outro da angústia e incerteza quanto ao que aconteceria com eles, já que os egípcios foram ao seu encalço.

Apesar de ter vivenciado as pragas, o grande milagre da salvação dos primogênitos e de ter participado da instituição da Páscoa, o povo temeu pela própria vida e reclamou duramente com Moisés no momento de perigo, desejando, inclusive, ter permanecido no Egito. Era uma reclamação contra o próprio Senhor Deus.

Mas Deus agiu com poder através de Moisés, a fim de libertar seu povo escolhido e iniciar a caminhada rumo à terra prometida, o que se tornou um claro ensinamento quanto ao que ficou para trás, à forma e ao meio da saída, o que se resume no objetivo da vida cristã ao longo da história.


O QUE DEIXAMOS PARA TRÁS: A ESCRAVIDÃO

Sendo, pois, anunciado ao rei do Egito que o povo fugia, mudou-se o coração de Faraó e dos seus oficiais contra o povo, e disseram: Que é isto que fizemos, permitindo que Israel nos deixasse de servir? Ex 14.5

  
Pouco tempo depois de ter permitido a saída do povo de Israel do Egito, o faraó voltou atrás e percebeu que aquela não havia sido uma boa decisão de sua parte.

O texto relata que ele se arrepende de ter permitido que Israel deixasse de “servi-lo”. Esta é uma palavra muito branda para definir a situação, pois na verdade os israelitas foram escravos dos egípcios por muitos anos. O faraó logo percebeu que a decisão de libertar seus escravos não foi boa. Diante disso, ele resolveu persegui-los para reavê-los.

E qual foi a reação do povo de Israel naquele momento?

E, chegando Faraó, os filhos de Israel levantaram os olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então, os filhos de Israel clamaram ao SENHOR. Disseram a Moisés: Será, por não haver sepulcros no Egito, que nos tiraste de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos trataste assim, fazendo-nos sair do Egito? Não é isso o que te dissemos no Egito: deixa-nos, para que sirvamos os egípcios? Pois melhor nos fora servir aos egípcios do que morrermos no deserto. Ex 14.10-12


O povo de Israel temeu muito e clamou ao Senhor, por intermédio de Moisés. Entretanto, o que deveria ter sido um clamor por libertação e confiança no Deus que já havia dado tantos sinais de poder e soberania, foi uma reclamação quanto à situação que demonstrava a falta de confiança do povo em Deus.

E a reclamação foi acompanhada de uma afirmação falsa. O povo alegou a Moisés que preferia ter ficado no Egito, e que clamou por isso quando o Senhor apresento o plano de libertação. Mas, será que eles realmente pediram para permanecerem na condição de escravos?

O que a narrativa bíblica diz?

Então, se foram Moisés e Arão e ajuntaram todos os anciãos dos filhos de Israel. Arão falou todas as palavras que o SENHOR tinha dito a Moisés, e este fez os sinais à vista do povo. E o povo creu; e, tendo ouvido que o SENHOR havia visitado os filhos de Israel e lhes vira a aflição, inclinaram-se e o adoraram. Ex 4.29-31


O relato bíblico conta que o povo creu e adorou o Senhor, logo após Moisés e Arão terem apresentado o plano de libertação da escravidão do Egito. Eles não queriam ficar no Egito, eles creram na libertação. Porém, no momento de dificuldade, a fé do povo fraquejou.

“(...) Os israelitas são uma imagem do que somos. Eram escravos, mas essa escravidão tinha camadas. Eles foram libertos da escravidão, mas, embora já estivessem livres, os senhores de escravos disseram: “Não! Queremos que vocês voltem”. Embora os israelitas já estivessem objetivamente libertos da escravidão, os senhores os queriam de volta; e no coração, subjetivamente, eles ainda não estavam libertos. Ainda agiam como escravos. É possível tirar as pessoas da escravidão, mas não é fácil tirar a escravidão de dentro das pessoas. (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 43


Naquele momento de apreensão, os israelitas demonstraram a Moisés quem ainda eram. Objetivamente eles já não eram mais escravos, e sim pessoas livres, mas subjetivamente ainda se viam como escravos.

Objetivamente, os israelitas já haviam sido libertos da escravidão; eram livres, não estavam mais debaixo das leis egípcias. Semelhantemente, os cristãos eram escravos do pecado e estavam debaixo da condenação imposta pela lei de Deus e executada por meio da sua ira.

Por intermédio de Jesus Cristo, os cristãos foram libertos da escravidão do pecado e da punição da lei de Deus, ou seja, foram libertos da ira de Deus. Objetivamente, os israelitas foram libertos da escravidão do Egito, o que apontava para a libertação dos cristãos da escravidão do pecado.

Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça. Rm 6.14

Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Rm 8.1


Apesar disso, muitas vezes os cristãos agem como escravos da lei e tentam justificar-se pelas obras. Assim como o povo de Israel, na primeira dificuldade os cristãos se “esquecem” de sua condição livre, fraquejam na fé e desejam retornar aos “benefícios” da escravidão (as panelas de carne).

Ao desejar retornar à condição de escravo, os cristãos se colocam novamente debaixo da lei de Deus, e tentam justificar-se pelas suas boas obras. Esse é o segundo estágio da derrocada espiritual. Para essas pessoas, a fé não é mais suficiente, elas mesmas tem que fazer algo para apresentar diante de Deus, afim de agradá-lo.

O terceiro estágio da derrocada espiritual em meio às dificuldades é a comparação entre suas “boas obras” e as realizadas pelas outras pessoas, a fim de demonstrar sua superioridade para Deus, como forma de “pressioná-lo” a providenciar uma recompensa generosa por tanto “esforço espiritual”. Cria-se um “ranking de beneficiários diante de Deus”.

Porém, como essas pessoas não conseguem cumprir a lei, os breves momentos de euforia espiritual não são suficientes para superar o constante e imenso sentimento de culpa que elas carregam. Elas ainda são escravas em seus corações.

Outro ponto importante é que muitas pessoas ainda são escravas de sua natureza pecaminosa. Apesar de libertas objetivamente, elas vivem cometendo os mesmos pecados, em um constante retorno à escravidão.

“(...) O pecado é o suicídio lento, garantido e eterno da vontade humana. (...)”
W.G.T. SHEDD, Sermons to the natural man (New York: Scribner’s, 1871), p. 343, in: CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 46


Cada vez que uma pessoa peca, torna-se mais fácil cometer esse pecado novamente e, consequentemente, mais difícil resistir a ele. Apesar da culpa objetiva já ter sido paga por Cristo, subjetivamente essa pessoa vive como escrava do pecado, da mesma forma que costumava viver anteriormente.

A libertação do povo no Egito aponta para a nossa libertação em Cristo. Por isso, devemos viver com a seguinte esperança:

- Já fomos justificados (passado): somos libertos da penalidade do pecado
- Estamos sendo santificados (presente): estamos nos libertando do poder do pecado
- Seremos glorificados (futuro): estaremos livres da presença do pecado


COMO SAÍMOS: PELA GRAÇA

Pensemos por um momento na situação: de um lado, os egípcios se aproximavam perigosamente para retomar seus escravos; por outro, o povo murmurava e desejava retornar à escravidão; e havia um mar à frente. O que se passava na mente de Moisés?

Moisés, porém, respondeu ao povo: Não temais; aquietai-vos e vede o livramento do SENHOR que, hoje, vos fará; porque os egípcios, que hoje vedes, nunca mais os tornareis a ver. O SENHOR pelejará por vós, e vós vos calareis. Ex 14.13-14


“Não temais, aquietai-vos”. Certamente essas eram as últimas palavras que o povo esperava ouvir. Como ficar quieto enquanto o inimigo estava cada vez mais perto?

Mas Moisés foi firme: “Deus é quem fará algo grandioso, vocês verão e se calarão”. No momento de crise, a ordem era para que o povo ficasse parado e observasse a grande obra que seria feita pelo Senhor.

E foi exatamente o que aconteceu. Deus agiu com mão poderosa através de seu servo Moisés e livrou o povo miraculosamente.

Assim, o SENHOR livrou Israel, naquele dia, da mão dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar. E viu Israel o grande poder que o SENHOR exercitara contra os egípcios; e o povo temeu ao SENHOR e confiou no SENHOR e em Moisés, seu servo. Ex 14.30-31


Deus livrou o povo de Israel por sua graça. O povo não merecia e não colaborou de nenhuma forma, apenas Deus agiu e exclusivamente por seu amor. A salvação do povo de Israel foi por amor e de graça, ou por graça.

Semelhantemente, a salvação de todos os cristãos ocorre pelo grande amor de Deus e por sua maravilhosa graça. Nenhuma pessoa colabora para a salvação, é Deus quem planeja e executa toda a obra no coração e na mente das pessoas.

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Ef 2.8-9

“(...) Essa é uma das razões pelas quais nossa religião é absolutamente diferente de todas as outras. (...) todas as outras religiões são como construir uma ponte. Para construir uma ponte, você primeiro lança os pilares e depois constrói a ponte sobre eles. Se o dinheiro acaba, a ponte não leva a lugar nenhum. Existem algumas pontes assim. E todas as outras religiões são assim. São processos, tentativas de chegar ao outro lado. As pessoas nunca sentem que chegaram, mas estão tentando. Em todas as outras religiões, as pessoas estão tentando fazer a travessia. (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 51


A Bíblia nos ensina que a ponte já existe e ela vem até nós, ela nos conduz até o Pai. Essa ponte é Jesus. Não há um processo, uma construção humana para se chegar a Deus. O único meio é Cristo. Em um momento você é um não regenerado, mas no momento seguinte é um regenerado, apto a ouvir, entender e obedecer a voz de Deus.

Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Jo 5.24


O povo de Israel foi salvo pela fé nas palavras de Moisés, servo de Deus. Os cristãos são salvos pela fé em Cristo Jesus, o Servo Sofredor que cumpriu fielmente o plano de redenção elaborado por Deus Pai.

Então, Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o SENHOR, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez retirar-se o mar, que se tornou terra seca, e as águas foram divididas. Os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram qual muro à sua direita e à sua esquerda. Ex 14.21-22

Pela fé, atravessaram o mar Vermelho como por terra seca; tentando-o os egípcios, foram tragados de todo. Hb 11.29


Uma das características do processo de amadurecimento na vida cristã é saber ficar quieto nos momentos de dificuldade. Antes de empreender várias obras, é necessário aquietar-se e esperar pela ação de Deus, o soberano Senhor que controla todas as coisas conforme a sua vontade e para o bem dos Seus filhos.

“(...) Quando o povo de Israel saiu do Egito, o Senhor foi pessoalmente adiante deles em sua shekinah glória (a glória da sua presença), uma coluna de nuvem de dia e uma coluna de fogo a noite. A presença e o poder de Deus protegeu seu povo dos inimigos e o conduziu através de todos os perigos. Quando os levou até o Mar Vermelho, nem um só israelita pereceu quando Deus dividiu as águas e os conduziu a salvo para o outro lado. Este livramento milagroso demonstrou dramaticamente a graça preservadora de Deus na proteção dos escolhidos. Deus os conduziu pessoalmente através deste mundo perigoso rumo à glória. Nenhum dos eleitos perecerá. (...)”
LAWSON, S.J. Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de vultos piedosos: volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, 2012. p. 118.


POR QUE SAÍMOS: PELA INTERVENÇÃO DO MEDIADOR

A grande maioria dos leitores da narrativa de Êxodo 14 não vê qualquer problema com a salvação dos israelitas e a morte dos egípcios. Afinal de contas, os egípcios eram o povo mau, os senhores de escravos, e os israelitas eram o povo bom, perseguido e maltratado. Correto?

Definitivamente não. Se alguém tem essa ideia na mente é porque não entendeu ainda a ideia central da narrativa.

Assim como os egípcios, os israelitas eram um povo mau, desobediente e assassino. A história de seus pais e a história posterior à passagem pelo Mar Vermelho comprova isso. Sendo assim, por que eles foram salvos e os egípcios não?

O único motivo pelo qual os israelitas foram salvos é porque eles tinham um Mediador, enquanto os egípcios não tinham.

Disse o SENHOR a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. Ex 14.15


No momento da dificuldade, Moisés clamou ao Senhor. Mas o Senhor disse a Moisés que agisse, que tomasse as providências necessárias para a libertação do povo.

Moisés era o Mediador entre Deus e os israelitas naquele momento histórico. Ele foi o servo utilizado pelo Senhor para abrir o mar e providenciar o caminho necessário à salvação do povo.

É importante perceber que Moisés apontava para o Grande Mediador, Jesus Cristo, o Deus-homem que era e é o único caminho para a salvação da humanidade.

Os israelitas foram salvos somente por um motivo: eles tinham Moisés como mediador. Os cristãos são salvos por um único motivo: eles têm Jesus Cristo como mediador.

Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Jo 14.6


CONCLUSÃO

A saída do Egito foi um momento magnífico de libertação do povo de Israel. Eles não eram mais escravos, não estavam mais sob o domínio dos egípcios. Apesar disso, no primeiro momento de dificuldade, agiram como escravos, desejaram ser escravos e reclamaram diante de Deus e de Moisés.

Semelhantemente, os cristãos já foram libertos do domínio do pecado, mas por vezes vivem ainda como escravos, na tentativa de agradar a Deus com suas obras. Além de não conseguirem, esse modo de vida leva-os ao aumento do vazio espiritual e da angústia.

A narrativa bíblica mostra que Moisés mandou o povo ficar quieto e observar a salvação que viria do Senhor. Era um momento de crise, mas o povo não deveria fazer nada, apenas olhar para Deus.

As religiões criadas pelos homens se apresentam como pontes para o homem alcançar Deus. São versões modernas da torre de Babel. O homem deve trabalhar, se esforçar bastante para um dia alcançar a divindade.

Mas o Deus da Bíblia não requer isso do homem, ao contrário, o homem deve ficar quieto e observar a grande obra planejada e executada pelo Senhor. Os israelitas foram salvos pela graça e os cristãos também são salvos pela graça.

Por fim, os israelitas foram salvos somente porque tinham um mediador, Moisés, o servo escolhido por Deus para executar o plano divino de salvação naquele momento histórico. Da mesma forma, os cristãos são salvos por um único motivo: Cristo executou a obra de salvação perfeitamente, ele morreu e ressuscitou, a fim de pagar a dívida e dar vida aos seus filhos.

A saída do Egito representa a libertação do povo rumo à terra prometida e aponta diretamente para Cristo, o libertador do seu povo, o único capaz de dar vida e levar seus filhos pelo caminho da salvação, rumo à pátria celestial prometida por Deus Pai.


1Extraído e adaptado de: CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 37-61.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. 1920p.

CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. 224 p.

LAWSON, S.J. Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de vultos piedosos: volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, 2012. 805 p.