- Um período
difícil (crise, escolhas equivocadas e consequências)
- O retorno para
casa
- A providência
divina em um dia de trabalho
- O plano de Noemi
e o encontro de Rute e Boaz
- O casamento de
Rute e Boaz e o nascimento de Obede
- Conclusão
- Referências
bibliográficas
UM PERÍODO DIFÍCIL
(crise, escolhas equivocadas e consequências)
Nos dias em que julgavam os juízes, houve fome na terra; e um homem de
Belém de Judá saiu a habitar na terra de Moabe, com sua mulher e seus dois
filhos. Rt 1.1
O livro de Rute
inicia-se com o relato de uma família que viveu no período dos juízes. Esse foi
um período difícil, marcado pela instabilidade e apostasia espirituais do povo
de Israel. Não havia um líder permanente que guiava o povo, como nos dias de
Moisés e Josué. Cada um fazia o que achava correto, o que na maioria das vezes
significava desobediência contra a lei de Deus. O povo era castigado pelo
Senhor, clamava por socorro, e então Deus enviava um juiz para libertá-los e
guiá-los. Porém, após a morte desse juiz, Israel voltava a fazer o que era
errado e o “ciclo” se reiniciava.
“(...) Esse foi
um tempo de instabilidade política, opressão econômica, corrupção moral e
apostasia religiosa. O povo estava entregue a si mesmo. “Naqueles dias, não
havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto.” (Jz 21.25) (...)”
LOPES, H.D. Rute:
Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo:
Hagnos, 2007. p. 30.
O texto diz que
houve fome na terra de Israel e, por isso, um homem saiu com sua família de
Belém para Moabe. À primeira vista, essa migração parece acertada, pois era a
decisão a ser tomada por um homem para salvar sua família da morte. Mas, ao
analisarmos a questão, veremos que não foi bem assim.
O homem citado é
Elimeleque, (Rt 1.2). Seu nome significa “meu Deus é rei”, ele era um israelita
e morava em Belém, a “terra do pão”. Ele servia o Deus de seus pais, Aquele que
os tirou do Egito com mão poderosa e cumpriu, ao menos parcialmente naquele
momento histórico, as promessas feitas a Abraão e a Jacó. Elimeleque sabia quem
era o Deus de Israel.
Mas esse
conhecimento não foi suficiente para que ele mantivesse sua confiança em Deus
naquele momento de dificuldade. Mesmo sabendo que o Senhor providenciou pão do
céu no deserto para seus pais, Elimeleque fraquejou em sua fé e decidiu que
fugir para uma terra estrangeira e ímpia era melhor do que confiar na
providência divina.
“(...) A fuga de
Elimeleque para Moabe é estranha e injustificável. Moabe ficava num planalto a
leste do mar Morto, a uns oitenta quilômetros de Belém. Os moabitas eram
descendentes de Ló. Eles se tornaram idólatras e, por isso, não deviam ser
admitidos na congregação de Israel (Dt 2.9; 23.3-6; Jz 11.17). Os moabitas eram
adoradores de Camos, um deus a quem faziam sacrifícios humanos. Além de
idólatras, os mabitas também eram opressores, pois já haviam oprimido a Israel,
quando Eglom, rei de Moabe, invadiu a terra dos israelitas e manteve o povo de
Israel na escravidão durante dezoito anos (Jz 3.12-20). (...)”
LOPES, H.D. Rute:
Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo:
Hagnos, 2007. p. 31.
“(...) Esse drama
imenso é representado num microcosmo no momento em que a câmera se aproxima da
família de Elimeleque. O nome Elimeleque significa “o Senhor é rei”. Por
ironia, ele não sentiu que o Senhor era rei sobre as circunstâncias da fome.
Caso tivesse pensado assim, teria ficado em Belém. Mas, pelo contrário, saiu de
Belém (cujo nome, em contraste, significa “casa do pão”) e partiu para Moabe.
Em vez de confiar no Senhor de todo o coração, ele confiou em sua própria
prudência. O pragmatismo venceu a luta contra a fé obediente. (...)”
CARSON, D.A. As
Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento;
tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 69
Este homem se chamava Elimeleque, e sua mulher, Noemi; os filhos se
chamavam Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; vieram à terra de Moabe e
ficaram ali. Morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com seus dois
filhos, os quais casaram com mulheres moabitas; era o nome de uma Orfa, e o
nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos. Morreram também ambos, Malom
e Quiliom, ficando, assim, a mulher desamparada de seus dois filhos e de seu
marido. Rt 1.2-5
A decisão de
Elimeleque não trouxe, nem de longe, os resultados que ele esperava. Muito ao
contrário. O texto bíblico relata que Elimeleque e seus filhos morreram em
Moabe. Eles fugiram para encontrar pão mas encontraram a morte.
Aquela família
sofreu com a pobreza, com a migração e com as perdas sucessivas. Dez anos
depois, Noemi era viúva com 2 noras, sem filhos, pobre e estrangeira.
“(...) Noemi
ficou viúva, pobre, sem filhos e em terra estranha. Eles saíram para buscar pão
e encontraram a sepultura. Saíram para fugir da crise e deram de cara com ela.
(...)”
LOPES, H.D. Rute:
Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo:
Hagnos, 2007. p. 34.
O RETORNO PARA CASA
Saiu, pois, ela com suas duas noras do lugar onde estivera; e, indo
elas caminhando, de volta para a terra de Judá, disse-lhes Noemi: Ide, voltai
cada uma à casa de sua mãe; e o SENHOR use convosco de benevolência, como vós
usastes com os que morreram e comigo. O SENHOR vos dê que sejais felizes, cada
uma em casa de seu marido. E beijou-as. Elas, porém, choraram em alta voz. Rt
1.7-9
Após o fracasso
em terras estrangeiras, Noemi ouviu que a situação havia melhorado em Belém e
resolveu voltar para lá. Em princípio, suas duas noras estavam dispostas a ir
com ela. Mas, em algum ponto do caminho, Noemi incentiva-as a retornarem para
sua terra, pois não tinha filhos e mais nada para oferecer a elas.
“(...) Pense na
cena de Noemi entre Moabe e Belém, incentivando as duas noras a voltar para o
país delas, onde encontrariam segurança. Ela insiste com as noras para que
calculem o preço da decisão. Tinham de escolher: “Yahweh e mais nada em Belém
ou tudo menos Yahweh em Moabe”. (...)”
Sinclair
Ferguson, Faithful God: an exposition of the Book of Ruth (Bridgend, País de
Gales: Bryntirion, 2005), p. 38, in: CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho
de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão
Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 70
Deus e mais nada
ou tudo menos Deus? Essas eram as opções para as duas noras de Noemi.
Realisticamente,
essa decisão só é difícil para alguém que servia ao Deus de Israel. Para que
servia a outros deuses, que proveito teria abrir mão de todas as
possibilidades, do recomeço em sua terra natal, de um novo casamento e da
possibilidade de ter filhos, tudo isso “apenas” em troca de servir ao Deus de
seu marido e de sua sogra? Aliás, um Deus que, humanamente falando, não sustentou
com vida os homens da família em meio àquela situação tão difícil? Diante
daquele contexto, por que servir a esse Deus?
Então, de novo, choraram em voz alta; Orfa, com um beijo, se despediu
de sua sogra, porém Rute se apegou a ela.
Disse Noemi: Eis que tua cunhada voltou ao seu povo e aos seus deuses;
também tu, volta após a tua cunhada. Rt 1.14-15
Esses pensamentos
foram decisivos para Orfa, que optou por retornar ao seu país. Ela preferiu
servir aos deuses de Moabe do que ao Deus de Israel.
1.15 seus deuses. Um novo elemento é introduzido. Até aqui os
leitores tinham deduzido, provavelmente, que as noras de Noemi tivessem se
tornado, de fato, adoradoras do Senhor. Agora eles ficam sabendo o que
implicava a escolha do local para morar. A escolha de Orfa e a declaração de
Rute (vs. 16-17) representaram, respectivamente, o compromisso de cada uma com
a fé.
BÍBLIA DE ESTUDO
DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª
edição, 2009. p. 342. Comentário de Rute 1.15
Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me obrigue a não
seguir-te; porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali
pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que
morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o SENHOR o que bem lhe
aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti. Vendo, pois,
Noemi que de todo estava resolvida a acompanhá-la, deixou de insistir com ela.
Rt 1.16-18
Surpreendentemente,
Rute desprezou esse raciocínio e resolveu permanecer ao lado de Noemi. E a
motivação dela para tomar essa decisão foi, como ela mesma disse, o desejo de
ter o Deus de Israel como seu Deus pessoal por toda a vida, fossem quais fossem
as circunstâncias. Rute demonstrou, naquele momento histórico, que havia sido
alcançada pela graça salvadora de Deus, que era uma cristã verdadeira.
1.16 o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. As palavras
de Rute representam sua total conversão. Ela se comprometeu não apenas com
Noemi, mas também com Israel e com o Deus de Israel (cf. 2Sm 15.21).
BÍBLIA DE ESTUDO
DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª
edição, 2009. p. 342. Comentário de Rute 1.16
“(...) Mas Rute
não se deixa convencer. Em essência, essa foi a conversão de Rute. Como sondar
esse acontecimento? Como alcançar as profundezas da persuasão divina? Como
compreender esse mistério? Diante das mesmíssimas circunstâncias e insistências
dos lábios da mesma mulher, uma volta a Moabe e a outra, usando a linguagem da
aliança, diz: “Não posso voltar, pois já não sou a mesma pessoa. Já não confio
nos deuses para os quais a minha concunhada agora voltou. Não peça que eu a
abandone. Vou aonde a senhora for, e a partir de agora o seus Deus será o meu
Deus.” (...)”
CARSON, D.A. As
Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento;
tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 70
A PROVIDÊNCIA DIVINA EM UM DIA DE TRABALHO
Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei
espigas atrás daquele que mo favorecer. Ela lhe disse: Vai, minha filha! Rt 2.2
Logo após terem
retornado a Belém, Rute pediu permissão a Noemi para ir ao campo em busca do
sustento para elas. Ela demonstrou conhecer a lei de Deus que favorecia os
pobres, ao permitir que eles recolhessem as espigas dos cantos e as que caíram
no chão (Lv 19.9-10, 23.22; Dt 24.19).
Rute se
apresentou uma mulher trabalhadora mesmo em meio às dificuldades. Ela conhecia
a lei de Deus e foi à luta confiante de que o Senhor de Noemi, e também dela,
daria o sustento necessário a ambas.
O contraste é
evidente: no momento de crise, Elimeleque não confiou em Deus e resolveu fugir;
Rute confiou em Deus e foi ao trabalho com disposição e fé.
Ela se foi, chegou ao campo e apanhava após os segadores; por
casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz, o qual era da família de
Elimeleque. Rt 2.3
Era época da
colheita da cevada em Belém. Imagina-se que existiam muitos campos para
colheita e muitas pessoas envolvidas nesse trabalho. Rute poderia ter entrado
em qualquer um desses campos, mas o texto narra que por “casualidade” ela
entrou no campo de Boaz.
“Casualidade” é o
nome que o texto dá para a grande providência de Deus em andamento na vida de
Rute, Noemi e Boaz.
Respondeu Boaz e lhe disse: Bem me contaram tudo quanto fizeste a tua
sogra, depois da morte de teu marido, e como deixaste a teu pai, e a tua mãe, e
a terra onde nasceste e vieste para um povo que dantes não conhecias. O SENHOR
retribua o teu feito, e seja cumprida a tua recompensa do SENHOR, Deus de
Israel, sob cujas asas vieste buscar refúgio. Rt 2.11-12
Boaz se
apresentou como um homem temente a Deus e benevolente para com os necessitados.
Ele soube da triste história de Noemi e Rute e também da firme decisão de Rute
de permanecer ao lado da sogra e de servir ao Deus de Israel. Ele reconheceu a
“conversão” de Rute, rogou a Deus que fosse misericordioso com ela e fez a sua parte
ao permitir e insistir para que ela trabalhasse sempre em seu campo.
“(...) Rute se
considerou dependente da graça de Deus. Ela abraçou a fé em Deus. Boaz sabia
que ela desistira de sua família e amigos, de sua religião e da companhia de
seus compatrícios para ficar com Noemi. Boaz sabia que Rute, como Abraão,
deixara a casa de seu pai e a sua parentela para ir a outra terra, não sabendo
o que lhe reservava o futuro. E ele sabia que isso era uma prova da profundeza
da fé recém-descoberta de Rute em Iavé (2.12), uma fé que se expressava em
amor. (...)”
ATKINSON, David.
A mensagem de Rute, 1991: p. 70,71, in: LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história
de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 81.
Boaz demonstrou
qualidades muito especiais. Ele ofereceu várias coisas a Rute²:
- Graça: ele
favoreceu Rute, embora ela não merecesse isso
- Provisão: ele
ofereceu a mesma provisão dada aos seus trabalhadores
- Proteção: ele
assegurou Rute de que ela não sofreria nenhum mal em seu campo
- Consolação: ele
falou favoravelmente a ela naquele momento difícil
- Comunhão: ele a
convidou para assentar-se com ele à mesa
- Ele fez muito
mais do que a lei exigia.
Esteve ela apanhando naquele campo até à tarde; debulhou o que
apanhara, e foi quase um efa de cevada. Tomou-o e veio à cidade; e viu sua
sogra o que havia apanhado; também o que lhe sobejara depois de fartar-se tirou
e deu a sua sogra. Então, lhe disse a sogra: Onde colheste hoje? Onde trabalhaste?
Bendito seja aquele que te acolheu favoravelmente! E Rute contou a sua sogra
onde havia trabalhado e disse: O nome do senhor, em cujo campo trabalhei, é
Boaz. Então, Noemi disse a sua nora: Bendito seja ele do SENHOR, que ainda não
tem deixado a sua benevolência nem para com os vivos nem para com os mortos.
Disse-lhe mais Noemi: Esse homem é nosso parente chegado e um dentre os nossos
resgatadores. Rt 17-20
Após a recepção
favorável de Boaz, Rute trabalhou durante todo o dia. Ao chegar em casa, contou
o ocorrido à sua sogra, que prontamente louvou a Deus pela Sua imensa graça.
“(...) Pela
primeira vez, ela abre a boca para bendizer. Ela bendiz a Boaz e a Deus. Seu
pessimismo doentio é curado ao ver a doce providência divina sorrindo de volta
para ela. (...)”
LOPES, H.D. Rute:
Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo:
Hagnos, 2007. p. 83.
O PLANO DE NOEMI E O ENCONTRO DE RUTE E BOAZ
Disse-lhe Noemi, sua sogra: Minha filha, não hei de eu buscar-te um
lar, para que sejas feliz? Ora, pois, não é Boaz, na companhia de cujas servas
estiveste, um dos nossos parentes? Eis que esta noite alimpará a cevada na
eira. Banha-te, e unge-te, e põe os teus melhores vestidos, e desce à eira; porém
não te dês a conhecer ao homem, até que tenha acabado de comer e beber. Quando
ele repousar, notarás o lugar em que se deita; então, chegarás, e lhe
descobrirás os pés, e te deitarás; ele te dirá o que deves fazer. Respondeu-lhe
Rute: Tudo quanto me disseres farei. Rt 3.1-5
Passado o período
da colheita da cevada, o texto relata o plano de Noemi para aproximar Rute de
Boaz. Ela sabia que Boaz era um resgatador e, portanto, poderia casar-se com
Rute. O plano foi minuciosamente traçado, e Rute mostrou-se mais uma vez
obediente e disposta a cumprir as ordens da sogra.
Sob a ótica
humana, certamente essa ideia continha alguns riscos quanto à moral de Rute
perante Boaz e a sociedade. Contudo, não se tratavam de duas pessoas quaisquer.
Rute e Boaz tinham belas características que merecem ser destacadas.
Rute era uma
mulher:
- convertida ao
Deus de Israel (1.16-17)
- trabalhadora
(2.2, 15-17)
- que tinha um
belo relacionamento com sua sogra
- de bom
testemunho em toda a cidade (3.11)
Boaz era um homem:
- íntegro
(3.8-10): ele manteve-se fiel a Deus e respeitou Rute
- generoso
(3.15-17): ele favoreceu Rute mais do que a lei exigia
- leal (3.12-13):
ele se afeiçoou a Rute, contudo, respeitou o direito do resgatador mais próximo
As características
demonstram que ambos eram tementes a Deus e procuravam ter uma vida honrada e
honesta diante Dele. Eram trabalhadores, respeitavam as leis e os mais velhos e
tinham bom testemunho da sociedade. Soma-se a tudo isso o fato de Deus ter
conduzido a história dessas duas pessoas para uni-las no momento devido, a fim
de manter viva a semente da mulher a promessa feita a Adão.
Disse ele: Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha; melhor fizeste a
tua última benevolência que a primeira, pois não foste após jovens, quer
pobres, quer ricos. Agora, pois, minha filha, não tenhas receio; tudo quanto
disseste eu te farei, pois toda a cidade do meu povo sabe que és mulher
virtuosa. Ora, é muito verdade que eu sou resgatador; mas ainda outro
resgatador há mais chegado do que eu. Fica-te aqui esta noite, e será que, pela
manhã, se ele te quiser resgatar, bem está, que te resgate; porém, se não lhe
apraz resgatar-te, eu o farei, tão certo como vive o SENHOR; deita-te aqui até
à manhã.
Como dito, Boaz
agiu com integridade e lealdade para com Rute. Ele explicou que teria que
negociar com o resgatador mais próximo, e prometeu que se casaria com ela caso
isso fosse possível.
“(...) Boaz
afeiçoou-se de Rute desde o primeiro momento que a encontrou. Ele era um homem
rico, piedoso e legalmente qualificado para ser o resgatador da família. Boaz
já dera abundantes provas do seu amor por Rute, e ela sabia disso. Por sua vez,
Rute já fizera o pedido formal de casamento a Boaz, e ele estava empenhado em
resolver a questão, pois na lista dos parentes próximos havia um homem que
tinha preferência para resgatá-la e casar-se com ela. (...)”
LOPES, H.D. Rute:
Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo:
Hagnos, 2007. p. 115.
O CASAMENTO DE RUTE E BOAZ E O NASCIMENTO DE OBEDE
Boaz subiu à porta da cidade e assentou-se ali. Eis que o resgatador de
que Boaz havia falado ia passando; então, lhe disse: Ó fulano, chega-te para
aqui e assenta-te; ele se virou e se assentou. Então, Boaz tomou dez homens dos
anciãos da cidade e disse: Assentai-vos aqui. E assentaram-se. Rt 4.1-2
Boaz foi ao
encontro do resgatador mais próximo para informar-lhe sobre a situação e saber
se ele exerceria o seu direito. Algumas características de Boaz merecem
destaque:
- Ele tinha pressa:
Boaz procurou resolver a situação na manhã seguinte ao encontro com Rute. Ele
não tinha tempo a perder.
- Ele tinha que
cumprir a lei: Boaz foi ao portão da cidade, lugar onde as questões jurídicas
eram resolvidas. Ele queria cumprir integralmente a lei.
- Ele agiu com
integridade: Boaz não tentou enganar o resgatador, mas apresentou os fatos e
lembro o outro homem da sua preferência no resgate.
- Ele foi sábio:
Boaz apresentou os fatos em duas etapas. Primeiro, se concentrou na possibilidade
da compra das terras de Noemi. Somente após isso, ele informou o outro homem
sobre a obrigatoriedade de casar-se com Rute.
“(...) O outro
resgatador percebeu que, se ele redimisse o campo de Noemi, não teria um
aumento de sua propriedade; ao contrário, teria uma diminuição do seu
patrimônio, visto que ele teria que pagar pela terra, que não passaria a
pertencer à sua família, mas ao filho de Rute. Neste caso, ele tinha de comprar
o campo e, além disso, sustentar Rute. As despesas poderiam ser bem elevadas. O
remidor certamente estava disposto a comprar o campo, sem casar-se com Rute.
Ele não estava disposto a fazer ambas as coisas. (...)”
CUNDALL, Arthur
E. e MORRIS, Leon. Juízes e Rute: Introdução e Comentário, 2006: p. 282, in:
LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos
Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 120.
A estratégia de
Boaz deu certo. Ele agora era o resgatador legalmente autorizado a casar-se com
Rute. Boaz e Rute receberam a bênção dos anciãos e do povo que presenciou a
negociação.
Assim, tomou Boaz a Rute, e ela passou a ser sua mulher; coabitou com
ela, e o SENHOR lhe concedeu que concebesse, e teve um filho. Rt 4.13
O casamento de
Boaz e Rute foi marcado de encanto e beleza, pois foi providenciado por Deus, precedido
por um belo relacionamento, desejado por ambos, apoiado pela família e
reconhecido pela sociedade. E, para coroar essa linda história de amor guiada
por Deus, Rute engravidou e deu à luz um filho.
Então, as mulheres disseram a Noemi: Seja o SENHOR bendito, que não
deixou, hoje, de te dar um neto que será teu resgatador, e seja afamado em
Israel o nome deste. Ele será restaurador da tua vida e consolador da tua
velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz, e ela te é melhor do que sete
filhos. Rt 4.14-15
O texto bíblico
relata que esse menino foi motivo de grande alegria para Noemi. Após ter
passado por grandes tristezas e de quase ter perdido a esperança, ela recebeu o
grande presente de Deus: um neto que manteria vivo o nome de sua casa e de sua
família.
As vizinhas lhe deram nome, dizendo: A Noemi nasceu um filho. E lhe
chamaram Obede. Este é o pai de Jessé, pai de Davi. São estas, pois, as
gerações de Perez: Perez gerou a Esrom, Esrom gerou a Rão, Rão gerou a
Aminadabe, Aminadabe gerou a Naassom, Naassom gerou a Salmom, Salmom gerou a
Boaz, Boaz gerou a Obede, Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi. Rt 4.17-22
O nascimento
daquele menino foi muito mais importante do que qualquer outro de sua geração.
O livro de Rute termina com uma breve, mas importante genealogia, que mostra as
gerações de Perez até Davi. O filho de Rute e Boaz foi o avó do grande rei de
Israel, o homem segundo o coração de Deus, o descendente da mulher do qual,
anos mais tarde, nasceria o redentor do Universo, Jesus Cristo.
“(...) O autor do
livro de Rute não olha apenas para Obede. Ele levanta seus olhos e vê mais
além. Ele olha para a história da redenção. Deus não estava trabalhando apenas
para prover bênçãos materiais a Noemi, Rute e ao povo de Belém. Ele estava
preparando o cenário para a chegada de Davi, o maior rei de Israel. O nome de
Davi trazia consigo a esperança do Messias em um novo tempo de paz, justiça e
liberdade, em que o pecado e a morte seriam vencidos. A história do livro de
Rute abre as cortinas da esperança e nos aponta para Jesus!(...)”
LOPES, H.D. Rute:
Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo:
Hagnos, 2007. p. 129.
CONCLUSÃO
O livro de Rute
começa com uma situação difícil e uma decisão tomada por um pai de família que
preferiu fugir da sua terra a confiar no Deus de Israel. Essa decisão não
trouxe o alívio pretendido, muito ao contrário, trouxe a morte para os três
homens daquela família.
Sem marido, sem
filhos, com 2 noras estrangeiras, sem dinheiro, quase sem esperança. Essa era a
situação de Noemi ao resolver voltar para casa. Ela convenceu Orfa a retornar
para Moabe, contudo, ao contrário do que seria possível imaginar, Rute faz sua
pública profissão de fé naquele momento de crise e seguiu junto à sua sogra para
Belém. Deus estava presente.
A história delas
começou a mudar em um dia aparentemente comum de trabalho, quando Boaz fala
generosamente a Rute. Mais tarde, o plano de Noemi funcionou e Boaz prometeu
casar-se com Rute. Deus estava em ação.
Boaz cumpriu
todos os requisitos legais, casou-se com Rute e ambos tiveram um filho chamado
Obede, o avô de Davi. Deus executou seu maravilhoso plano de manutenção da
semente da mulher e da promessa feita a Adão.
Esse livro é uma
linda história de amor, totalmente guiada por Deus com o propósito de preservar
a semente da mulher. Deus conduziu soberanamente a história daquelas pessoas,
em um tempo difícil, no qual cada um fazia o que achava mais correto, a fim de
providenciar a salvação do Seu povo no futuro.
“(...) No início,
observamos que essa história aconteceu numa época em que não havia rei em
Israel. Foi nesse contexto e na vida de pessoas comuns que Deus preparou o
caminho para Jesus, o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Numa experiência de
fome e escuridão, ele estava preparando o caminho para Jesus, o Pão da Vida e a
Luz do Mundo! (...)”
CARSON, D.A. As
Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento;
tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 75.
Toda glória seja
dada ao Rei do Universo!
1Extraído e
adaptado de: CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o
evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo:
Vida Nova, 2015. p. 63-76.
²Extraído e
adaptado de: LOPES, H.D. Rute: Uma perfeita história de amor (Comentários
Expositivos Hagnos). São Paulo: Hagnos, 2007. p. 74-76.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÍBLIA DE ESTUDO
DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª
edição, 2009. 1920p.
CARSON, D.A. As
Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento;
tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. 224 p.
LOPES, H.D. Rute:
Uma perfeita história de amor (Comentários Expositivos Hagnos). São Paulo:
Hagnos, 2007. 135 p.