quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Soberania de Deus na salvação - aula 04 - A controvérsia entre Pelágio e Agostinho


SOBERANIA DE DEUS NA SALVAÇÃO


AULA 04


A CONTROVÉRSIA ENTRE PELÁGIO E AGOSTINHO




TÓPICOS DA AULA

- Biografia de Pelágio

- A doutrina da graça para Pelágio

- Biografia de Agostinho

- A doutrina da graça para Agostinho



BIOGRAFIA DE PELÁGIO


Nascimento: 354* (Grã-Bretanha)
Falecimento: 429* (local incerto)
* Datas aproximadas

Estudou teologia e falava grego e latim fluentemente. Apesar de ter sido monge durante anos, nunca chegou a ser bispo (presbítero).

Estabeleceu-se em Roma por volta de 405, depois viajou para África do Norte e Palestina.

É possível que sua condenação pelo Concílio de Éfeso (431) tenha ocorrido após a sua morte.



A DOUTRINA DA GRAÇA PARA PELÁGIO


O princípio controlador do pensamento de Pelágio era a convicção de que Deus nunca ordena o que é impossível para o homem realizar.

Ele propôs o seguinte questionamento: A assistência da graça é necessária para o ser humano obedecer aos comandos de Deus? Ou esses comandos podem ser obedecidos sem essa assistência?

O pensamento de Pelágio pode ser resumido em 18 premissas:

1- Os mais altos atributos de Deus são sua retidão e justiça.

2- Tudo que Deus criou é bom.

3- Como algo criado, a natureza não pode ser mudada na sua essência.

4- A natureza humana é inalteravelmente boa.

5- O mal é um ato que nós podemos evitar.

6- O pecado vem por intermédio de armadilhas satânicas e concupiscência sensual.

7- Pode haver homens sem pecado.

8- Adão foi criado com livre-arbítrio e santidade moral.

9- Adão pecou por livre vontade.

10- A descendência de Adão não herdou dele a morte natural (Adão morreria mesmo se não tivesse cometido pecado).

11- Nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transmitidos.

12- Todos os homens são criados como Adão antes da queda.

13- O hábito de pecar enfraquece a vontade de fazer o bem.

14- A graça de Deus facilita a bondade mas não é necessária para se alcançá-la.

15- A graça da criação produz homens perfeitos.

16- A graça da lei de Deus ilumina e instrui.

17- Cristo trabalha principalmente pelo seu exemplo.

18- A graça é dada de acordo com a justiça e mérito.

R. C. Sproul. Sola Gratia; traduzido por Denise Pereira Ribeiro Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, pág. 35-36.


“O discurso de Pelágio era guiado por interesses morais, e sua teologia foi feita para estimular o aprimoramento moral e social.
Para ele, a ênfase de Agostinho na necessidade humana e na graça divina iria certamente paralisar a busca da santificação, visto que as pessoas iriam passar a pecar constante e impunemente.
Dessa forma, Pelágio reagiu rejeitando a doutrina do pecado original. De acordo com ele, Adão foi meramente um mal exemplo, e não o autor de nossa natureza pecaminosa – somos pecadores porque temos pecados – e não o contrário. Consequentemente, é claro, o Segundo Adão, Jesus Cristo, foi apenas um bom exemplo. A salvação, dessa forma, consiste simplesmente em seguir o exemplo de Jesus em vez do de Adão.
O que os homens e mulheres precisam é de uma direção moral, não de um novo nascimento; assim sendo, Pelágio viu a salvação em termos meramente naturais: seria o progresso do caráter humano, por seguir o exemplo de Cristo.”
Michael S. Horton. Pelagianismo: A Religião do Homem Natural. Primeira Parte: Um Pouco de História, disponível em: http://www.monergismo.com/textos/arminianismo/pelagianismo.htm . Acessado em 27.09.2014.


“Se a natureza humana não é corrupta, e a vontade natural é competente para todo o bem, não precisamos de um Redentor para criar em nós uma nova vontade e uma nova vida, mas apenas de alguém que nos melhore e enobreça; e a salvação é, essencialmente, obra do homem. O sistema pelagiano realmente não tem lugar para as ideias de redenção, expiação, regeneração e nova criação. Ele as substituiu pelos nossos próprios esforços de aperfeiçoar nossos poderes naturais e a mera adição da graça de Deus como suporte e ajuda valiosa. Foi somente por uma infeliz inconsistência que Pelágio e seus adeptos tradicionalmente permaneceram nas doutrinas da igreja da Trindade e da pessoa de Cristo. Logicamente, seu sistema conduz a uma Cristologia racionalista.”
Philip Schaff. History of the Christian Church, 8 vols. (1907-10); Grand Rapids: Eerdmans, 1952-53), 3:815 in R. C. Sproul. Sola Gratia; traduzido por Denise Pereira Ribeiro Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, pág. 39.


O pelagianismo foi condenado por vários concílios da Igreja:

   412: Sínodo de Cartago excomungou Coelestius, um discípulo de Pelágio;
   418: Concílios de Cartago e Milevis;
   430: o imperador oriental Teodósio II baniu os pelagianos do Leste;
   431: Concílio de Éfeso;
   529: Segundo Concílio de Orange.
Michael S. Horton. Pelagianismo: A Religião do Homem Natural. Primeira Parte: Um Pouco de História, disponível em: http://www.monergismo.com/textos/arminianismo/pelagianismo.htm . Acessado em 27.09.2014.



BIOGRAFIA DE AGOSTINHO


Nascimento: 354 (Tagaste , África do Norte)
Falecimento: 430 (Hippo, África do Norte)
*África do Norte é a atual Argélia

386: converte-se ao Cristianismo
391: ordenado sacerdote em Hippo
396: torna-se bispo único em Hippo


“Foi pelo mau uso do seu livre-arbítrio que o homem o destruiu e a si mesmo também.” Agostinho



A DOUTRINA DA GRAÇA PARA AGOSTINHO


Agostinho buscou responder às seguintes perguntas:
   O que é necessário para o homem caído recuperar-se para o bem de Deus?
   Como uma criatura que é má se recupera dessa condição e ser torna boa?
   Como uma criatura que é alienada de Deus e indisposta com relação a Deus, encontra seu caminho de volta para Deus?

Para ele, a resposta estava na graça de Deus.
R. C. Sproul. Sola Gratia; traduzido por Denise Pereira Ribeiro Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, pág. 45.


Características da graça:

- Livre: não é merecida nem conquistada;

- Indispensável: é condição necessária para a salvação;

- Preveniente: vem antes que o pecador possa se recuperar;

- Irresistível: é eficaz, executa o propósito de Deus;

- Infalível: a libertação é perfeita, sem falhas.

R. C. Sproul. Sola Gratia; traduzido por Denise Pereira Ribeiro Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, pág. 45.


Consequências da queda:

1- A própria queda
2- A perda da liberdade
3- A obstrução do conhecimento
4- A perda da graça de Deus
5- A perda do paraíso
6- A presença da concupiscência
7- A morte física
8- A culpa hereditária (o pecado original)

R. C. Sproul. Sola Gratia; traduzido por Denise Pereira Ribeiro Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, pág. 49-53.


“O pecado [de nossos primeiros pais] foi um desprezo à autoridade de Deus. Deus criou o homem; ele o fez à sua própria imagem; ele o estabeleceu acima dos outros animais; ele o colocou no Paraíso; o enriqueceu com todo tipo de abundância e segurança; não lhe impôs nem muitos, nem grandes nem difíceis mandamentos mas, a fim de tornar uma obediência sadia fácil para ele, deu-lhe um único pequeno e leve preceito pelo qual lembraria à criatura, cujo culto deveria ser livre, de que ele era Senhor. Consequentemente, foi justa a condenação que se seguiu e uma condenação tal que o homem, que pela manutenção dos mandamentos deveria ter sido espiritual até mesmo em sua carne, se tornou carnal até mesmo em seu espírito.
 E assim como em seu orgulho, ele buscou ser sua própria satisfação. Deus, em sua justiça, o abandonou a si mesmo, não para viver na independência absoluta que ansiava mas, no lugar da liberdade que desejava, para viver insatisfeito consigo mesmo numa sujeição dura e miserável a quem, pelo pecado, havia se submetido. Ele foi condenado, a despeito de si mesmo, a morrer em corpo assim como havia se tornado, por vontade própria, morto em espírito, condenado até mesmo à morte eterna (não tivesse a graça de Deus o libertado) porque havia renunciado à vida eterna. Qualquer um que pense que esse castigo foi excessivo ou injusto, mostra sua inabilidade para medir a grande iniquidade de pecar na qual o pecado podia tão facilmente ser evitado.”
Agostinho. The City of God, in Agostinho, Basic Writings, 2:260 (14.15) in R. C. Sproul. Sola Gratia; traduzido por Denise Pereira Ribeiro Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, pág. 54.



CONCLUSÕES


- Doutrina de Pelágio: a natureza humana é inalteravelmente boa; pode haver homens sem pecado; Adão morreria mesmo se não tivesse cometido pecado; nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transmitidos; a graça de Deus facilita a bondade mas não é necessária para alcançá-la;

- O pelagianismo foi condenado por vários concílios da Igreja;

- Agostinho defendia que somente pela graça de Deus o homem caído poderia ser reconciliado com seu Criador;

- Características da graça de Deus: livre, indispensável, preveniente, irresistível e infalível.


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