segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

A sabedoria mundana e a sabedoria divina


1De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? 2Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; 3pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. 4Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. 5Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós? 6Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. 7Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. 8Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. 9Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. 10Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará. Tg 4.1-10

  


1.  Introdução

 

Estamos próximos do final de mais um ano. É tempo de retrospectivas, de autoanálises. Como foi seu ano? Um grande termômetro para avaliar como foi seu ano é meditar sobre como você viveu esse ano que se finda.

 

Você é uma pessoa que vive em guerra?

Você está em paz? Você está em paz diante de Deus e das pessoas?

Você se considera uma pessoa sábia? De onde vem sua sabedoria?

 

2.  Contexto histórico

 

A grande maioria dos estudiosos das Escrituras defende que o autor da carta é Tiago, irmão de Jesus. Ele não creu em Cristo durante Seu ministério terreno, e passou a crer quando Jesus apareceu aos discípulos, após a ressurreição.

 

Tiago assumiu a liderança da igreja de Jerusalém depois que Pedro foi libertado da prisão (At 12.17) e falou com autoridade na reunião de apóstolos e presbíteros em Jerusalém para tratar da questão da circuncisão (At 15.12-21).

 

1.1: A carta foi escrita “às doze tribos que se encontram na dispersão”, que são os judeus convertidos ao cristianismo que foram dispersos por várias cidades após a morte de Estêvão, quando da perseguição ocorrida em Jerusalém (At 8.1-3): Judeia, Samaria, Fenícia, Chipre e Antioquia da Síria.

 

3.  O problema: a origem dos conflitos – sabedoria mundana

 

v.1: Tiago aponta um grave problema: os cristãos estavam em guerra, estavam vivendo em conflitos.

 

Tiago já havia apontado que o coração cheio de inveja e sentimento de separação (3.14) leva a pessoa a ser dominada pela sabedoria terrena, animal e demoníaca (3.15). Isso promove “confusão e toda espécie de coisas ruins” (3.16).

 

Tiago aponta que os conflitos que ocorriam entre os cristãos tinham origem nos maus desejos que lutavam dentro deles.

 

“(...) Quando Deus não mais governa a vida do ser humano, a busca pelos prazeres assume o controle e a paz é perturbada pelas brigas e contendas frequentes (...)”[1]

 

v.2: Tiago mostra aos cristãos que eles cobiçavam, invejavam e estavam dispostos até a matar, mas mesmo assim nada conseguiam obter.

 

v.3: Os cristãos nada obtinham porque não pediam, e, quando pediam, tinham o objetivo errado, de satisfazer seus maus desejos.

 

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. Mt 7.7-8

 

E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Jo 14.13-14

 

Qual o problema com aqueles cristãos? Por que não obtinham as bênçãos mencionadas nos evangelhos de Mateus e João?

 

Tiago mostra que os conflitos externos vividos pelos cristãos tinham origem em seus conflitos internos não resolvidos. Os maus desejos estavam dominando aqueles cristãos, a ponto de impedir que eles recebessem o que desejavam, pois isso somente aumentaria a maldade dos seus corações.

 

“(...) Deus se recusa a ouvir aqueles que buscam sofregamente [de maneira impaciente] seus prazeres egoístas. A ganância é idolatria, e isso é abominação aos olhos de Deus. Deus não ouve as orações que vêm de um coração cheio de motivos egoístas. Ganância e egoísmo são insultos para Deus. (...)[2]

 

Os cristãos estavam deixando ser dominados pela sabedoria mundana, que gerava guerras e conflitos em seus corações e guerras e conflitos com as outras pessoas.

 

Aplicações:   Seus pedidos têm sido atendidos? Por quê?

                        Como você tem lidado com a sedução da sabedoria mundana?

 

4.  Tratamento: a necessidade da sabedoria divina

 

Após fazer o diagnóstico do problema daqueles cristãos, Tiago apresenta o tratamento necessário para eles.

 

v.4: Tiago chama os cristãos de “infiéis”. A infidelidade sempre foi um dos terríveis pecados do povo de Israel, e sempre foi duramente punida por Deus.

 

Outras traduções (NVI, TB, ARC) utilizam o termo “Adúlteros!”

 

Jesus chamou os escribas e fariseus de “geração má e adúltera” (Mt 12.39).

 

Ao chamá-los de “infiéis”, Tiago não deixa dúvidas sobre a gravidade do pecado daqueles cristãos. O modo de viver deles definitivamente não agradava ao Senhor.

 

Tiago aponta que os cristãos não podem servir a dois senhores, não podem ser amigos do mundo e amigos de Deus. Aqueles cristãos estavam desobedecendo o ensinamento de Cristo (Mt 6.24).

 

Não há dúvida: ser amigo do mundo significa ser inimigo de Deus, significa enfrentar o ódio de Deus.

 

Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo. Hb 10.31

 

v.5: Tiago relembra que os cristãos são o templo do Espírito Santo, e que o próprio Espírito tem cuidado (zelo) por eles.

 

v.6: Deus resiste (se opõe) aos soberbos (orgulhosos), mas dá graça (abençoa) os humildes (Pv 3.34).

 

Tiago aponta para o Sermão do Monte, onde Cristo ensinou o valor de ser humilde de espírito, de reconhecer que somos miseráveis pecadores diante da Majestade e Santidade de Deus.

 

O remédio para aqueles cristãos era abandonar a amizade, as paixões e o cuidado com o mundo, que advinham da sabedoria mundana, e se voltar intensamente na busca pela sabedoria divina, que só poderia ser obtida por meio de retorno às Escrituras Sagradas.

 

Não há como ser isento: ou você buscará a sabedoria divina, ou será dominado pela sabedoria mundana.

 

Aplicação: Como você espera obter a sabedoria divina se não se dedica intensamente ao estudo da Palavra de Deus?

 

5.  Sabedoria divina e consequências práticas

 

Na última parte dessa passagem, Tiago explica as consequências práticas da busca pela sabedoria divina.

 

v.7: O reconhecimento de quem aqueles cristãos eram diante de Deus (pecadores condenados ao inferno) deveria conduzi-los para mais próximos de Deus.

 

Aqui é repetido na prática o ensinamento do v.4: não é possível ser amigo do mundo (da carne e do diabo), e ser amigo de Deus. É necessário fugir do diabo e correr para os braços de Deus Pai.

 

v.8: Essa aproximação de Deus deveria ser acompanhada de sincero e profundo arrependimento. Era necessário clamar a Deus pela limpeza das mãos e para arrancar o coração de pedra (mente dividida, indecisa) e clamar a Deus por um coração voltado integralmente para Ele.

 

v.9: A crescente consciência da gravidade do pecado na vida daqueles cristãos deveria leva-los ao choro de profunda tristeza. Ah! Quanto tempo eles haviam perdido, e ainda estavam perdendo, com brigas, disputas, corações divididos, busca por prazeres mundanos, ao invés de honrar o Nome do Seu Deus e Rei!

 

Podemos nos lembrar da aliança de Deus com Salomão, quando da consagração do templo de Jerusalém. Deus disse:

 

se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra. 2Cr 7.14

 

O reconhecimento de quem somos diante de Deus (bem aventurados os humildes de espírito) certamente nos leva ao choro de profunda tristeza (bem aventurados os que choram).

 

v.10: A passagem termina com a única ação possível: humilhar-se perante o Senhor, reconhecer totalmente que ele é o único caminho, a única verdade, a única vida, e clamar por sua misericórdia e graça.

 

Tiago não deixa os cristãos desamparados. Ele garante, com fundamento nas promessas divinas, que a humilhação deles seria reconhecida pelo Supremo Deus e gracioso perdoador. O Senhor honraria seu Nome e colocaria seus filhos em posições de honra, para Sua própria Glória.

 

Os cristãos que reconhecem quem são diante de Deus e, por isso, choram sinceramente, obtém a sabedoria divina e passam a se destacar pela mansidão.

 

Não há mais espaço para guerras e conflitos. A sabedoria divina conduz seus filhos à mansidão do Espírito, como sinal externo de gratidão pela transformação de vida operada pela obra redentora de Cristo e pela presença constante do Espírito Santo em nossas vidas.

 

6.  Conclusões

 

A sabedoria mundana é muito perigosa, pois leva o cristão a ser dominado por suas paixões (desejos) carnais. Sua vida passa a ser guiada por desejos materialistas e de dominação sobre outras pessoas, a fim de satisfazer seu ego.

 

O cristão dominado pela sabedoria mundana vive em conflitos consigo mesmo e com outras pessoas; vive em busca de conquistar dinheiro, fama, poder, para satisfazer suas próprias paixões. Ainda que consiga essas coisas, seu desejo não é satisfeito e ele sempre quer mais.

 

Tiago fez o diagnóstico (sabedoria mundana gerava guerras entre os cristãos), apresentou o único tratamento adequado (correr em direção a Deus e à sua Palavra) e as consequências da busca pela sabedoria divina (humildade crescente, choro e mansidão advinda do Senhor).

 

Tiago advertiu aqueles cristãos a respeito da urgência em abandonar a sabedoria mundana e correr para Deus, que é o Único capaz de transformar mente e coração e conceder Sua sabedoria, que redireciona completamente a vida.

 

A aproximação de Deus deve ser acompanhada de coração arrependido, de humildade e de choro sincero, tendo fé Naquele que pode transformar a vida e colocar o cristão em posição de honra, com uma nova disposição para servi-lo.

 

Bem aventurados os humildes de espírito

Bem aventurados os que choram

Bem aventurados os mansos

  

 

7.  Aplicações

 

O que você apresentará a Deus ao final desse ano?

 

Você viveu esse ano guiado pela sabedoria mundana (paixões, guerras e conflitos, ou pela sabedoria divina (humildade, choro e mansidão)?

 

Faça uma retrospectiva de vida, reconheça seus erros, se arrependa e busque com sinceridade a sabedoria do alto, com humildade e fé, pois nosso Deus é perdoador e nos colocará em posição de honra, por amor do Seu Nome e para Sua própria glória.

 

Soli Deo Gloria.



[1] KISTEMAKER, S.J. Comentário do Novo Testamento: Tiago e Epístolas de João; tradução Susana Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p.179.

[2] Ibidem. p.182.

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