quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Salmo 130

Das profundezas clamo a ti, SENHOR. Escuta, Senhor, a minha voz; estejam alertas os teus ouvidos às minhas súplicas. Se observares, SENHOR, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está o perdão, para que te temam. Aguardo o SENHOR, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra. A minha alma anseia pelo Senhor mais do que os guardas pelo romper da manhã. Mais do que os guardas pelo romper da manhã, espere Israel no SENHOR, pois no SENHOR há misericórdia; nele, copiosa redenção. É ele quem redime a Israel de todas as suas iniquidades.

O Salmo 130 é um dos sete salmos “penitenciais”, juntamente com os salmos 6, 32, 38, 51, 102 e 143.

1 Das profundezas clamo a ti, SENHOR.

O salmista afirma que clama ao Senhor “das profundezas”. A que se refere essa expressão, a um lugar, a uma condição? Por que ele estava lá? O que o tinha levado para lá?

A expressão “das profundezas” denota a situação de profunda angústia que havia acometido o salmista. Ele não passava por dias tranquilos ou felizes, mas sim por dias de dor e de agonia. Eram dias especialmente difíceis.

Mesmo afundado nesse mar de aflição, o salmista tomou uma atitude: ele resolveu clamar. Mas, alguém poderia ouvi-lo? Quem?

O salmo não deixa margem para dúvida: o autor clamou ao SENHOR. Sim, ao SENHOR, com todas as letras maiúsculas, que era o verdadeiro nome de Deus, o nome que ele revelou ao seu povo e pelo qual deveria ser chamado, YHWH ou Jeová, o Criador e Sustentador do Universo, o Deus Soberano e transcendente, que é muitíssimo elevado acima de toda a criação.

Mesmo em meio à profunda dor, o salmista sabia que o seu Deus, o verdadeiro Deus, era o único que poderia ouvi-lo.

2 Escuta, Senhor, a minha voz; estejam alertas os teus ouvidos às minhas súplicas.

Além de conhecer o caráter transcendente de Deus, o SENHOR, o salmista também conhecia o caráter imanente de Deus, o Senhor. O mesmo Deus exaltado acima de tudo e de todos é o Deus que decidiu se relacionar com sua criação e se revelar aos seus filhos. Ciente disso, o salmista rogou para que Deus se atentasse para sua súplica.

Esses dois primeiros versículos do Salmo 130 revelam que, mesmo “nas profundezas”, o salmista não se esqueceu de que Deus é, simultaneamente, majestoso e atencioso ao clamor dos seus filhos. Esse correto e profundo conhecimento de Deus fez com que o autor do salmo recorresse à Fonte de águas limpas, ao Castelo forte, ao Único Deus Todo-Poderoso, capaz de ouvi-lo em todos os momentos, incluindo aquele profundo momento de angústia.

Os versículos 1 e 2 do Salmo 130 são uma oração sincera do salmista que no ensina que as circunstâncias jamais podem fazer os filhos de Deus se esquecerem de quem Ele é.

3 Se observares, SENHOR, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá?

O que essa pergunta significa?

Após revelar sua situação angustiante e sua confiança no Deus verdadeiro, o salmista descreve o que o levou “às profundezas”. Ao contrário do que muitos poderiam pensar, ele não foi oprimido ou castigado por outras pessoas, ou por circunstâncias adversas, ou mesmo castigado por Deus. Nada disso. O salmista revela, no versículo 3, que sua grave situação era decorrente do reconhecimento do horror dos seus pecados diante do Deus Santíssimo ao qual ele servia.

O salmista estava “nas profundezas” em razão dos seus próprios pecados, em razão da sua própria iniquidade.

Reconhecer o mal que o pecado fez e fazia em sua vida foi mais uma das grandes marcas daquele homem que, ao contrário de outros, não tentou se esconder atrás de justiça própria, e nem mesmo tentou minimizar as consequências dos seus pecados com argumentos vãos. Ele reconheceu seu estado de podridão e a necessidade de sair dessa situação.

Ciente de sua realidade e de quem Deus é, restou ao salmista questionar: “Se observares, SENHOR, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá?”

Essa pergunta é por demais reveladora, é capaz de demonstrar que o salmista conhecia o seu Deus, conhecia os atributos do seu Senhor:

                - onisciência: Deus sabe de todas as coisas de foram profunda e exaustiva
                - onipotência: Deus tem a capacidade de fazer cumprir plenamente Sua Vontade
                - santidade: Deus é puríssimo e totalmente afastado do mal
                - justiça: Deus é perfeitamente correto em todo o seu proceder
                - ira: Deus age com intenso furor contra todos os que merecem sua condenação

4 Contigo, porém, está o perdão, para que te temam.

Mais atributos de Deus são expostos no versículo 4:

                - amor: Deus é amor e revela esse amor à criação de diversas maneiras
                - misericórdia: Deus não dá aos homens aquilo que merecem

Como estava “nas profundezas” em razão do seu pecado, o salmista tinha consciência de que merecia a condenação, a ira de Deus. Entretanto, ele sabia que Deus era e é misericordioso, e por isso clamou pelo perdão que somente Deus poderia dar.

Apesar de reconhecer que Deus é perdoador, o salmista declara que o perdão concedido por Deus não tem o objetivo de fornecer bem-estar ao homem, de amenizar sua situação para o seu próprio bem. O salmista declara, de forma convicta, que Deus é perdoador para que os homens reconheçam essa grande bênção divina, O temam e O adorem. O perdão concedido por Deus deveria levar os homens à adoração reverente, como forma de gratidão sincera.

Lamentavelmente, por vezes, podemos ter dificuldade em reconhecer nosso estado de pecado e de miséria diante de Deus.

Os versículos 3 e 4 do Salmo 130 nos ensinam que os cristãos devem buscar em Deus a correta percepção da gravidade dos seus pecados diante da Santidade de Deus, devem compreender os atributos do Senhor, devem clamar por perdão e devem se prostrar em intensa adoração ao Único Deus que pode perdoar pecados.

5 Aguardo o SENHOR, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra.

No versículo 5 o salmista renova sua condição de espera paciente, e revela que sua esperança está firmada na palavra de Deus. É interessante notar que o salmista permanece “nas profundezas”, mas tem confiança de que a palavra de Deus é poderosa para transformar sua situação, para a própria glória do Senhor.

A confiança do salmista na palavra de Deus demonstra que ele tinha conhecimento de mais um atributo do Senhor: a imutabilidade. Como Deus não muda, sua palavra revelada também não muda, e isso garante segurança para seus filhos.

Mesmo no tempo em que o Salmo 130 foi escrito, a palavra escrita e revelada de Deus já existia, era a lei de Moisés. Essa palavra jamais mudaria, e a correta consciência dessa realidade garantia ao salmista a firmeza de depositar aí a sua esperança e aguardar com paciência o agir de Deus.

A esperança do salmista estava firmada na palavra de Deus. Onde está firmada a sua esperança?

6 A minha alma anseia pelo Senhor mais do que os guardas pelo romper da manhã. Mais do que os guardas pelo romper da manhã,

Assim como nos versículos 1-2 e 3-4, nos versículos 5-6 o salmista declara sua confiança no SENHOR e no Senhor, ou seja, no Deus transcendente imanente, no Deus majestoso e revelado ao homem. Sua esperança de perdão e de transformação de vida está firmada na palavra do Senhor, e não em qualquer outro lugar.

O salmista anseia pelo perdão que somente o Senhor poderia dar, mais do que os guardas pela manhã. Os atalaias da cidade desejavam o raiar do dia, que significaria a certeza de terem passado ilesos por mais uma noite fria e escura de prontidão contra o desconhecido. O salmista aguardava com maior intensidade o perdão e a reconciliação com o Senhor.

Os versículos 5 e 6 do Salmo 130 nos ensinam que, por vezes, podemos passar por momentos de angústia como o salmista. A consciência do horror dos nossos pecados diante de Deus pode nos levar “às profundezas”. E esses momentos podem demorar, as noites podem ser mais longas do que imaginávamos. Porém, mesmo quando isso acontecer, devemos nos espelhar na firme convicção do salmista, que aguardou o momento no qual Deus mudaria sua condição e o faria sorrir novamente.

7 espere Israel no SENHOR, pois no SENHOR há misericórdia; nele, copiosa redenção.
8 É ele quem redime a Israel de todas as suas iniquidades.

O salmista termina o seu cântico com a convocação de todo o povo de Israel para reconhecer sua condição pecaminosa, se arrepender e buscar no SENHOR o perdão. Novamente ele ressalta a necessidade de “espera paciente”, mas também reafirma a abundante misericórdia e redenção que flui de Deus.

Os versículos 7 e 8 do Salmo 130 nos ensinam que a nação de Israel somente seria abençoada se buscasse, constantemente, o perdão e a redenção do seu Deus. O salmo aponta para Cristo, que é o Redentor da criação.

Em resumo, o Salmo 130 contêm lições preciosas para nós cristãos:

1.    Independentemente das circunstâncias, nunca podemos nos esquecer de que Deus é, simultaneamente, majestoso e cuidadoso.
2.    Devemos reconhecer quem somos, pecadores carentes da misericórdia divina em todos os momentos da vida. O pecado nos traz seríssimas consequências e nos coloca debaixo da ira santa de Deus. Conscientes dessa realidade, devemos clamar pela redenção que somente o Senhor pode dar.
3.    Os momentos de angústia e sofrimento pelo pecado podem ser longos. Devemos aguardar, com paciência, o perdão e a restauração do Senhor, que nos trará o raiar de um novo dia de sol.
4.    Devemos clamar para que nossa nação reconheça Cristo como o Único Salvador e Senhor, o Soberano Deus que se encarnou, viveu, morreu e ressuscitou para redimir seus filhos.

Soli Deo Gloria.


*Para uma compreensão mais profunda desse Salmo, sugiro a pregação feita pelo Rev. Augustus Nicodemos Lopes, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Q9Nl4f1Qv1Q

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