Das profundezas clamo a ti, SENHOR.
Escuta, Senhor, a minha voz; estejam alertas os teus ouvidos às minhas
súplicas. Se observares, SENHOR, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá?
Contigo, porém, está o perdão, para que te temam. Aguardo o SENHOR, a minha
alma o aguarda; eu espero na sua palavra. A minha alma anseia pelo Senhor mais
do que os guardas pelo romper da manhã. Mais do que os guardas pelo romper da
manhã, espere Israel no SENHOR, pois no SENHOR há misericórdia; nele, copiosa
redenção. É ele quem redime a Israel de todas as suas iniquidades.
O Salmo 130 é um dos sete
salmos “penitenciais”, juntamente com os salmos 6, 32, 38, 51, 102 e 143.
1 Das profundezas clamo a ti, SENHOR.
O salmista afirma que clama ao
Senhor “das profundezas”. A que se refere essa expressão, a um lugar, a uma
condição? Por que ele estava lá? O que o tinha levado para lá?
A expressão “das profundezas” denota
a situação de profunda angústia que havia acometido o salmista. Ele não passava
por dias tranquilos ou felizes, mas sim por dias de dor e de agonia. Eram dias
especialmente difíceis.
Mesmo afundado nesse mar de
aflição, o salmista tomou uma atitude: ele resolveu clamar. Mas, alguém poderia
ouvi-lo? Quem?
O salmo não deixa margem para
dúvida: o autor clamou ao SENHOR. Sim, ao SENHOR, com todas as letras
maiúsculas, que era o verdadeiro nome de Deus, o nome que ele revelou ao seu
povo e pelo qual deveria ser chamado, YHWH
ou Jeová, o Criador e Sustentador do Universo, o Deus Soberano e transcendente,
que é muitíssimo elevado acima de toda a criação.
Mesmo em meio à profunda dor, o
salmista sabia que o seu Deus, o verdadeiro Deus, era o único que poderia
ouvi-lo.
2 Escuta, Senhor, a minha voz; estejam
alertas os teus ouvidos às minhas súplicas.
Além de conhecer o caráter
transcendente de Deus, o SENHOR, o salmista também conhecia o caráter imanente
de Deus, o Senhor. O mesmo Deus exaltado acima de tudo e de todos é o Deus que
decidiu se relacionar com sua criação e se revelar aos seus filhos. Ciente
disso, o salmista rogou para que Deus se atentasse para sua súplica.
Esses dois primeiros versículos
do Salmo 130 revelam que, mesmo “nas profundezas”, o salmista não se esqueceu
de que Deus é, simultaneamente, majestoso e atencioso ao clamor dos seus
filhos. Esse correto e profundo conhecimento de Deus fez com que o autor do
salmo recorresse à Fonte de águas limpas, ao Castelo forte, ao Único Deus
Todo-Poderoso, capaz de ouvi-lo em todos os momentos, incluindo aquele profundo
momento de angústia.
Os versículos 1 e 2 do Salmo 130 são uma oração sincera do salmista que
no ensina que as circunstâncias jamais podem fazer os filhos de Deus se
esquecerem de quem Ele é.
3 Se observares, SENHOR, iniquidades,
quem, Senhor, subsistirá?
O que essa pergunta significa?
Após revelar sua situação
angustiante e sua confiança no Deus verdadeiro, o salmista descreve o que o
levou “às profundezas”. Ao contrário do que muitos poderiam pensar, ele não foi
oprimido ou castigado por outras pessoas, ou por circunstâncias adversas, ou
mesmo castigado por Deus. Nada disso. O salmista revela, no versículo 3, que sua
grave situação era decorrente do reconhecimento do horror dos seus pecados
diante do Deus Santíssimo ao qual ele servia.
O salmista estava “nas
profundezas” em razão dos seus próprios pecados, em razão da sua própria
iniquidade.
Reconhecer o mal que o pecado
fez e fazia em sua vida foi mais uma das grandes marcas daquele homem que, ao
contrário de outros, não tentou se esconder atrás de justiça própria, e nem
mesmo tentou minimizar as consequências dos seus pecados com argumentos vãos.
Ele reconheceu seu estado de podridão e a necessidade de sair dessa situação.
Ciente de sua realidade e de
quem Deus é, restou ao salmista questionar: “Se observares, SENHOR,
iniquidades, quem, Senhor, subsistirá?”
Essa pergunta é por demais
reveladora, é capaz de demonstrar que o salmista conhecia o seu Deus, conhecia
os atributos do seu Senhor:
- onisciência: Deus sabe de todas as coisas de foram
profunda e exaustiva
- onipotência: Deus tem a capacidade de fazer cumprir
plenamente Sua Vontade
- santidade: Deus é puríssimo e totalmente afastado
do mal
- justiça: Deus é perfeitamente correto em todo o seu
proceder
- ira: Deus age com intenso furor contra todos os que
merecem sua condenação
4 Contigo, porém, está o perdão, para
que te temam.
Mais atributos de Deus são
expostos no versículo 4:
- amor: Deus é amor e revela esse amor à criação de
diversas maneiras
- misericórdia: Deus não dá aos homens aquilo que
merecem
Como estava “nas profundezas”
em razão do seu pecado, o salmista tinha consciência de que merecia a
condenação, a ira de Deus. Entretanto, ele sabia que Deus era e é
misericordioso, e por isso clamou pelo perdão que somente Deus poderia dar.
Apesar de reconhecer que Deus é
perdoador, o salmista declara que o perdão concedido por Deus não tem o
objetivo de fornecer bem-estar ao homem, de amenizar sua situação para o seu
próprio bem. O salmista declara, de forma convicta, que Deus é perdoador para
que os homens reconheçam essa grande bênção divina, O temam e O adorem. O
perdão concedido por Deus deveria levar os homens à adoração reverente, como forma
de gratidão sincera.
Lamentavelmente, por vezes,
podemos ter dificuldade em reconhecer nosso estado de pecado e de miséria
diante de Deus.
Os versículos 3 e 4 do Salmo 130 nos ensinam que os cristãos devem
buscar em Deus a correta percepção da gravidade dos seus pecados diante da
Santidade de Deus, devem compreender os atributos do Senhor, devem clamar por
perdão e devem se prostrar em intensa adoração ao Único Deus que pode perdoar
pecados.
5 Aguardo o SENHOR, a minha alma o
aguarda; eu espero na sua palavra.
No versículo 5 o salmista
renova sua condição de espera paciente, e revela que sua esperança está firmada
na palavra de Deus. É interessante notar que o salmista permanece “nas
profundezas”, mas tem confiança de que a palavra de Deus é poderosa para
transformar sua situação, para a própria glória do Senhor.
A confiança do salmista na
palavra de Deus demonstra que ele tinha conhecimento de mais um atributo do
Senhor: a imutabilidade. Como Deus não muda, sua palavra revelada também não muda,
e isso garante segurança para seus filhos.
Mesmo no tempo em que o Salmo
130 foi escrito, a palavra escrita e revelada de Deus já existia, era a lei de
Moisés. Essa palavra jamais mudaria, e a correta consciência dessa realidade
garantia ao salmista a firmeza de depositar aí a sua esperança e aguardar com paciência
o agir de Deus.
A esperança do salmista estava
firmada na palavra de Deus. Onde está firmada a sua esperança?
6 A minha alma anseia pelo Senhor mais
do que os guardas pelo romper da manhã. Mais do que os guardas pelo romper da
manhã,
Assim como nos versículos 1-2 e
3-4, nos versículos 5-6 o salmista declara sua confiança no SENHOR e no Senhor,
ou seja, no Deus transcendente imanente, no Deus majestoso e revelado ao homem.
Sua esperança de perdão e de transformação de vida está firmada na palavra do
Senhor, e não em qualquer outro lugar.
O salmista anseia pelo perdão
que somente o Senhor poderia dar, mais do que os guardas pela manhã. Os
atalaias da cidade desejavam o raiar do dia, que significaria a certeza de
terem passado ilesos por mais uma noite fria e escura de prontidão contra o
desconhecido. O salmista aguardava com maior intensidade o perdão e a
reconciliação com o Senhor.
Os versículos 5 e 6 do Salmo 130 nos ensinam que, por vezes, podemos
passar por momentos de angústia como o salmista. A consciência do horror dos
nossos pecados diante de Deus pode nos levar “às profundezas”. E esses momentos
podem demorar, as noites podem ser mais longas do que imaginávamos. Porém,
mesmo quando isso acontecer, devemos nos espelhar na firme convicção do
salmista, que aguardou o momento no qual Deus mudaria sua condição e o faria
sorrir novamente.
7 espere Israel no SENHOR, pois no
SENHOR há misericórdia; nele, copiosa redenção.
8 É ele quem redime a Israel de todas as
suas iniquidades.
O salmista termina o seu
cântico com a convocação de todo o povo de Israel para reconhecer sua condição
pecaminosa, se arrepender e buscar no SENHOR o perdão. Novamente ele ressalta a
necessidade de “espera paciente”, mas também reafirma a abundante misericórdia
e redenção que flui de Deus.
Os versículos 7 e 8 do Salmo 130 nos ensinam que a nação de Israel
somente seria abençoada se buscasse, constantemente, o perdão e a redenção do
seu Deus. O salmo aponta para Cristo, que é o Redentor da criação.
Em resumo, o Salmo 130 contêm
lições preciosas para nós cristãos:
1. Independentemente
das circunstâncias, nunca podemos nos esquecer de que Deus é, simultaneamente, majestoso
e cuidadoso.
2. Devemos
reconhecer quem somos, pecadores carentes da misericórdia divina em todos os
momentos da vida. O pecado nos traz seríssimas consequências e nos coloca
debaixo da ira santa de Deus. Conscientes dessa realidade, devemos clamar pela
redenção que somente o Senhor pode dar.
3. Os
momentos de angústia e sofrimento pelo pecado podem ser longos. Devemos
aguardar, com paciência, o perdão e a restauração do Senhor, que nos trará o
raiar de um novo dia de sol.
4. Devemos
clamar para que nossa nação reconheça Cristo como o Único Salvador e Senhor, o
Soberano Deus que se encarnou, viveu, morreu e ressuscitou para redimir seus
filhos.
Soli Deo Gloria.
*Para uma compreensão mais
profunda desse Salmo, sugiro a pregação feita pelo Rev. Augustus Nicodemos
Lopes, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Q9Nl4f1Qv1Q
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