segunda-feira, 20 de junho de 2016

Teologia Sistemática 1 - aulas 09 e 10 - Predestinação


TÓPICOS DA AULA
1. Definição de pecado
2. Consequências do pecado
3. Interpretações divergentes
   3.1. João Cassiano e o semipelagianismo
   3.2. Jacó Armínio
4. O Sínodo de Dort
5. Eleição incondicional x presciência
   5.1. O homem caído: vontade livre ou escravidão?
   5.2. A escolha de Jacó e a rejeição de Esaú
   5.3. Injustiça da parte de Deus?
6. Livre-arbítrio: definição
   6.1. A vontade humana é livre ou motivada?
   6.2. Capacidade natural e capacidade moral
   6.3. A visão de Jesus sobre a capacidade moral do homem
7. Graça irresistível: Deus força as pessoas a irem para o céu?
   7.1. A graça de Deus na obra da redenção
8. Bibliografia



1.  DEFINIÇÃO DE PECADO

“Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão desta lei.”[1]

Todo aquele que pratica o pecado, também transgride a lei: porque o pecado é a transgressão da lei. I Jo 3:4

Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem, e não o faz, nisso está pecando. Tg 4:17


As Escrituras nos ensinam que o primeiro pecado cometido pelo homem foi o comer do fruto proibido.

“O pecado pelo qual nossos primeiros pais caíram do estado em que foram criados foi o comerem do fruto proibido.”[2]

Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, e ele comeu. Gn 3:6


2. CONSEQUÊNCIAS DO PECADO

As Escrituras afirmar que o gênero humano caiu na primeira transgressão de Adão, devido ao fato de que Adão era o representante perfeito de toda a raça humana. Isso é perfeitamente justo, pois Adão foi escolhido como representante da raça humana pelo próprio Criador, ou seja, não há como imaginar que qualquer outra pessoa além do próprio Criador teria feito uma escolha melhor. Isso seria o mesmo que imaginar alguma criatura com capacidade de escolha melhor do que o próprio Deus.

“Visto que o pacto foi feito com Adão, não só para ele, mas também para a sua posteridade, todo o gênero humano, que dele procede por geração ordinária, pecou nele e caiu com ele na sua primeira transgressão.”[3]

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Rm 5:12

Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo. I Co 15:22

“A ideia principal do federalismo é que, quando Adão pecou, ele pecou por todos nós. Sua queda foi a nossa queda. Quando Deus puniu Adão por levar embora sua justiça original, nós fomos igualmente punidos. A maldição da queda afeta a todos nós. Não somente Adão foi destinado a ganhar a vida com o suor do seu rosto, como isso tornou-se verdade para nós também. Não somente Eva foi designada para ter dores de parto, como isso tem sido verdade para as mulheres de todas as gerações. A serpente errante no jardim não foi o único membro de sua espécie que recebeu a maldição de rastejar sobre seu ventre. Quando foram criados, foi dado a Adão e Eva o domínio sobre a criação inteira. Como resultado de seu pecado, o mundo todo sofreu.”[4]

“Portanto, todos que descendemos de uma semente impura, nascemos infeccionados pelo pecado. Na verdade, antes que contemplemos esta luz da vida, à vista de Deus já estamos manchados e poluídos. Pois, “quem do imundo tirará o puro? Certamente, como está no Livro de Jó (14.4), ninguém!”[5]


Relação entre o homem e o pecado:

O homem antes da  queda
O homem depois da queda
O homem renascido
O homem glorificado
Capaz de pecar
Capaz de pecar
Capaz de pecar
Capaz de não pecar
Capaz de não pecar
Capaz de não pecar
Incapaz de não pecar
Incapaz de pecar

Situação do homem após o nascimento:

- Morto em seus delitos e pecados (= morto espiritualmente);
- Afastado de Deus;
- Preso ao pecado (não possui liberdade);
- Escravo de Satanás;
- Condenado ao inferno.

Ninguém é bom, senão um, que é Deus. Lc 18:19b

Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nenhum sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios; a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Rm 3:10-18


3. INTERPRETAÇÕES DIVERGENTES
3.1. JOÃO CASSIANO E O SEMIPELAGIANISMO

Apesar da clareza das Escrituras quanto às consequências da Queda, alguns teólogos ao longo da história da Igreja Cristã tentaram amenizar este assunto a fim de torná-lo mais “agradável” aos ouvidos das pessoas.

Um desses teólogos foi João Cassiano, diácono e padre que viveu ma Europa do Século I. Ele defendeu que a vontade humana foi mutilada pelo pecado, mas uma certa liberdade permaneceu nela. Por causa disso, segundo ele, o homem é capaz de se voltar para Deus. O pecador não está morto, mas ferido. A graça não opera a salvação, mas coopera com a decisão do homem de buscar a Deus.

Cassiano insistiu que a graça e necessária para a justiça, no entanto, é resistível. Porque para ser efetiva, a vontade humana deve cooperar com ela.

“A graça de Deus é a base da nossa salvação; cada começo deve ser traçado por ela, porquanto ela proporciona a chance da salvação e a possibilidade de se ser salvo. Mas essa é a graça exterior; a graça interior é a que se apodera do homem, aclara, purifica, santifica e penetra tanto na sua vontade quanto na sua inteligência. A virtude humana não pode crescer nem ser aperfeiçoada sem essa graça — logo, as virtudes dos pagãos são muito pequenas. Mas o início das boas decisões, bons pensamentos e fé — entendidos como a preparação para a graça — pode ser devido a nós mesmos. Consequentemente, a graça é absolutamente necessária para alcançarmos a salvação final (perfeição), mas não tanto para dar a partida. Ela nos acompanha em todos os estágios do nosso crescimento interior, e as nossas manifestações não são úteis sem ela (libero arbitrio semper co-operatur); mas ela apenas apoia e acompanha aquele que realmente se esforça... mesmo essa... ação da graça não é irresistível”.[6]


Em resumo, as principais doutrinas do semipelagianismo são: 1- o homem caído ainda tem condições de buscar a Deus; 2- a graça de Deus pode ser resistida pelo homem.

“O problema dos semipelagianos foi ensinar que a natureza humana, de si mesma, podia dar o primeiro passo em direção a Deus (initium fidei ou fé inicial). Em outros termos, eles opinavam que o ser humano é salvo somente pela graça de Deus, mas esse processo começa com a iniciativa de uma boa disposição do coração humano para com Deus.
A declaração mais famosa e controvertida de Cassiano foi aquela em que, na sua obra Conferências, ao referir-se ao princípio da boa-vontade para com Deus, ele disse que Deus aumenta “aquilo que Ele mesmo implantou ou que percebeu ter nascido de nosso próprios esforços.” Seus adversários agostinianos, como Próspero de Aquitânia, alegaram com razão que isso não era muito diferente do pelagianismo.
Em síntese, o semipelagianismo é a idéia de que a natureza e a iniciativa humanas, por si sós, sem a graça sobrenatural auxiliadora, são capazes de provocar a resposta de Deus no sentido de conceder a graça salvífica.”[7]

Seguem abaixo alguns textos que refutam as ideias do semipelagianismo:

A alma que pecar, essa morrerá (...). Ez 18:20

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Rm 5:12

porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. Rm 6:23

Fui buscado pelos que não perguntavam por mim; fui achado por aqueles que não me buscavam; a um povo que não se chamava do meu nome, eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui.         Is 65:1

(...) Ao Senhor pertence a salvação. Jn 2:9

Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. Fp 1:6

porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. Fp 2:13

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Ef 2:8

Porque sem mim nada podeis fazer. Jo 15:5

Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos. 1Cr 29:14

Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.  Jo 8:36

O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada. Jo 3:27



3.2. JACÓ ARMÍNIO

Outro teólogo de destaque que inovou na interpretação da soberania de Deus na salvação foi Jacó Armínio, holandês que viveu no Século XVI.

Armínio questionava a graça soberana de Deus pregada pelos reformadores. Era simpático aos ensinos de Pelágio e Erasmo de Roma, que pregavam que o homem possuía livre vontade para escolher/buscar a Deus.

Em 1610, após a morte de Armínio, seus discípulos formularam seus ensinos em cinco pontos, conhecidos como CINCO PONTOS DO ARMINIANISMO (FACTS).

Freed by Grace (to Believe) – Livre pela graça (para crer)
Atonement for All – Expiação para Todos
Conditional Election – Eleição Condicional
Total Depravity – Depravação Total
Security in Christ – Segurança em Cristo

Os discípulos de Armínio apresentaram uma representação (que ficou conhecida como “Remonstrância”) ao Parlamento Holandês, para que os cinco pontos do arminianismo fossem declarados como o novo padrão doutrinário daquele país.


4. O SÍNODO DE DORT

Para decidir a questão, foi convocado o Sínodo de Dort, que contou com 84 teólogos + 13 delegados seculares, reunidos por cerca de 7 meses, de 13 de novembro de 1618 a maio de 1619.

Ocorreram 154 reuniões, nas quais os Cinco Pontos do Arminianismo foram examinados e comparados com o ensino das Escrituras Sagradas. Ao final desse intenso e profundo período de estudos, os teólogos concluíram que os Cinco Pontos do Arminianismo são contrários ao ensino da Bíblia.

Os teólogos formularam os Cânones de Dort, dispostos em cinco capítulos, cujos títulos ficaram conhecidos como Os Cinco Pontos do Calvinismo (TULIP):

Total depravity – Total depravação do homem
Unconditional election – Eleição incondicional
Limited atonement – Expiação limitada
Irresistible grace – Graça irresistível
Perseverance of the Saints – Perseverança dos santos


“... o fato de que alguns que são chamados pelo evangelho obedecerem ao chamado e serem convertidos não deve ser atribuído ao exercício próprio do livre-arbítrio segundo o qual alguém se distingue acima de outros igualmente supridos com a graça suficiente para a fé e conversão (como a orgulhosa heresia de Pelágio mantém), mas deve ser totalmente atribuído a Deus que, assim como escolheu os seus próprios desde a eternidade em Cristo, chama-os eficazmente no tempo apropriado, confere-lhes a fé e o arrependimento, resgata-os do poder da escuridão e transporta-os para o reino do seu próprio Filho; para que possam proclamar os louvores daquele que os fez sair da escuridão para a sua luz maravilhosa e possam gloriar-se não em si mesmos mas no Senhor, de acordo com o testemunho dos apóstolos em vários lugares.”[8]


5. ELEIÇÃO INCONDICIONAL x PRESCIÊNCIA

Os arminianos defendem o conceito de presciência, que pode ser definido da seguinte forma:

“Em poucas palavras, essa visão ensina que, desde toda a eternidade, Deus sabia como iríamos viver. Ele sabia antecipadamente se iríamos receber Cristo ou rejeitar Cristo. Ele conhecia nossas livres escolhas antes que as tivéssemos feito. A escolha que Deus fez de nosso destino eterno, então, foi feita baseada no que ele sabia que nós escolheríamos. Ele nos escolhe porque sabe, de antemão, que nós o escolheremos. Os eleitos, então, são aqueles que Deus sabe que escolherão Cristo livremente.”[9]


Os defensores desse conceito argumentam que ele é correto porque preserva tanto o decreto de Deus como a responsabilidade do homem. Deus não é arbitrário ou injusto e o homem não é uma marionete.

Talvez o principal texto utilizado pelos arminianos para defender a presciência seja Rm 8:29-30.

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conforme à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Rm 8:29-30


Para os arminianos, este texto prova que Deus escolhe os eleitos com base no conhecimento prévio (presciência) de quem escolheria Deus. Porém, tal ensinamento não é correto.

O texto de Rm. 8:29-30 não fala que Deus escolhe pessoas com base nas escolhas que essas pessoas fariam no futuro, mas fala que Deus escolhe pessoas que ele conhece de antemão. É óbvio que Deus escolhe pessoas que conhece de antemão. Deus é onisciente, e, portanto, conhece tudo que pode ser conhecido, tanto do passado como do presente e do futuro – Deus conhece tudo de todas as suas criaturas.

A presciência do texto não se refere às atitudes das pessoas, mas sim ao conhecimento exaustivo que Deus tem de tudo e de todos.

5.1. O HOMEM CAÍDO: VONTADE LIVRE OU ESCRAVIDÃO?

Apesar de o texto de Rm 8:29-30 não dizer isso, vamos admitir que a presciência seja o conhecimento que Deus tem daqueles que O aceitariam, a fim de tentar compreender as consequências desta afirmação. Como essa ideia se harmoniza com o restante das Sagradas Escrituras?

Já vimos que o pecado trouxe sérias consequências ao homem: a própria queda, a perda da liberdade, a obstrução do conhecimento, a perda da graça de Deus, a perda do paraíso, a presença da concupiscência, a morte física e a culpa hereditária (o pecado original). A Bíblia é clara ao afirmar a podridão do homem após a queda:

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; que o conhecerá? Jr 17:9

A alma que pecar, essa morrerá (...). Ez 18:20

Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nenhum sequer. Rm 3:10-18

Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Rm 5:12

porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. Rm 6:23


Em resumo, o pecado trouxe ao homem os seguintes castigos: morte espiritual, sofrimentos da vida, morte física e morte eterna. O apóstolo Paulo é claro ao afirmar que a salvação foi dada por Deus a pessoas que não buscavam e nem pensavam a respeito disso.

E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim. Rm 10:20

Fui buscado pelos que não perguntavam por mim; fui achado por aqueles que não me buscavam; a um povo que não se chamava do meu nome, eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui. Is 65:1


Esses textos demonstram que o homem caído não pensa sobre Deus, ao contrário, ele foge do Seu Criador como Adão fugiu de Deus logo após ter pecado. Se Deus fosse salvar aqueles que o escolheriam, ninguém seria salvo, pois nenhum homem caído escolhe a Deus, todos escolhem fugir de Deus.

Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. Gn 3:8

5.2. A ESCOLHA DE JACÓ E A REJEIÇÃO DE ESAÚ

A Palavra de Deus é clara ao afirmar que a eleição decorre unicamente da vontade de Deus, conforme Rm 9:9-13:

“Porque a palavra da promessa é esta: Por esse tempo virei, e Sara terá um filho. E não ela somente, mas também Rebeca, ao conceber de um só, Isaque, nosso pai. E não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú. Rm 9:9-13


O texto utiliza o exemplo dos filhos de Isaque, o filho da promessa, para demonstrar que Deus escolhe seus eleitos unicamente de acordo com sua livre vontade soberana.

1- Esaú e Jacó eram gêmeos, isto é, tão próximos de uma semelhança natural quanto possível;
2- O propósito de Deus reverteu até mesmo a distinção natural que existia entre eles, já que Esaú (o mais velho) teve que servir a seu irmão mais novo;
3- Esse propósito divino foi estabelecido antes do nascimento deles (e, portanto, independentemente de suas ações). A eleição não está baseada em ações, feitos ou fé antevistos. Ao contrário, ela se baseia na graça soberana e predestinadora de Deus.
Extraído e adaptado da Bíblia de Estudo de Genebra, comentários ao texto de Rm 9:11-13

5.3. INJUSTIÇA DA PARTE DE DEUS?

O próprio apóstolo Paulo faz uma pergunta retórica para afastar qualquer dúvida a respeito da eleição unicamente pela livre vontade de Deus.

Que diremos pois? Há injustiça da parte de Deus? Rm 9:14a

Ora, é evidente que ninguém acusaria Deus de injustiça de acordo com as doutrinas arminianas e semipelagianas. Se Deus escolhe aqueles que o escolheram e rejeita os que o rejeitaram, não há injustiça nenhuma nisso. A objeção de injustiça de Deus somente pode ser atribuída àqueles que creem que Deus escolhe os eleitos apenas por sua vontade soberana. Deus é injusto por escolher alguns e não escolher todos.

Porém, o apóstolo Paulo é firme ao afirmar que Deus não é injusto, pois concede misericórdia e justiça conforme sua vontade soberana.

De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. Rm 9:14b-16


Deus seria injusto se não concedesse ao homem algo de direito, algo merecido. Mas o homem pecou e, por isso, passou a merecer de Deus a morte (física, espiritual e eterna). Deus seria perfeitamente justo se deixasse toda a humanidade perecer no inferno, como castigo pelo pecado.

Misericórdia não é justiça, mas também não é injustiça.

- Justiça: dar a alguém o que ele merece
- Não-justiça:
Misericórdia: dar a alguém o que ele não merece
Injustiça: não dar a alguém o que ele merece


“Existe justiça e existe não-justiça. Não-justiça inclui tudo fora da categoria da justiça. Na categoria de não-justiça encotramos dois subconceitos, injustiça e misericórdia. Misericórdia é uma boa forma de não-justiça, enquanto injustiça é uma forma má de não-justiça. No plano da salvação, Deus não faz nada mau. Ele nunca comete uma injustiça. Algumas pessoas recebem justiça, que é o que elas merecem, enquanto outras pessoas recebem misericórdia. Novamente, o fato de alguém receber misericórdia não requer que outros a recebam também. Deus reserva-se o direito da clemência executiva.[10]


6. LIVRE-ARBÍTRIO: DEFINIÇÃO

Pode-se definir livre-arbítrio como a capacidade de fazer escolhas sem nenhum preconceito, inclinação ou disposição anteriores. É a capacidade de fazer escolhas livres e partindo de uma postura totalmente neutra, sem nenhuma influência.

Antes de procurar respostas no campo espiritual, é necessário verificar se esse conceito se sustenta frente a questionamentos de ordem moral e racional.

“Certamente que abomino contendas de palavras com as quais a Igreja em vão se afadiga, porém julgo ser religiosamente preciso evitar estas palavras que soam algo absurdo, principalmente quando induzem perniciosamente ao erro. Indago, porém, quão poucos são os que, ao ouvir atribuir-se livre-arbítrio ao homem, imediatamente não o concebam ser senhor tanto de sua mente quanto da vontade, tanto que possa de si mesmo vergar-se para uma e outra dessas duas partes?
Contudo, alguém dirá que é preciso afastar perigo dessa natureza, se cuidadosamente o povo em geral for informado quanto ao exato sentido desta expressão. Na realidade, porém, como o coração humano propende espontaneamente para a falsidade, de uma palavrinha só o erro sorverá mais depressa do que faz extenso discurso em prol da verdade. Nesta própria expressão temos desta fato mais indisputável experiência do que seria de se almejar. Ora, enquanto se apega à etimologia do termo, deixada de lado aquela interpretação dos escritores antigos, quase toda a posteridade tem sido arrastada à ruinosa confiança pessoal.”[11]


Se uma escolha é feita sem qualquer motivação anterior, então ela é feita sem nenhuma razão, e, portanto, não pode ser julgada como boa ou má (não tem significado moral).

Escolha neutra (sem motivação anterior) -> Ausência de razão -> Ausência de significado moral

“Se uma escolha apenas acontece – apenas surge, sem nenhuma rima ou razão – então não pode ser julgada boa ou má. Quando Deus avalia nossas escolhas, ele está interessado em nosso motivos.”[12]

“O segundo problema que essa visão popular enfrenta não é tanto moral como é racional. Se não há nenhuma inclinação ou desejo anteriores, nenhuma motivação anterior, ou razão para uma escolha, como pode uma escolha ser feita? Se a vontade é totalmente neutra, por que iria escolher a direita ou a esquerda? É algo como o problema encontrado por Alice no país das maravilhas, quando chegou a uma bifurcação na estrada. Ela não sabia para que lado ir. Ela viu o radioso gato Cheshire na árvore. Perguntou ao gato: “Para que lado devo seguir?” O gato replicou: “Para onde você está indo?” Alice respondeu: “Não sei” “Então”, disse o gato Cheshire, “isso não importa.”
(...)
“Outra famosa ilustração do mesmo problema é encontrada na história da mula que tinha desejo neutro. A mula não tinha desejos anteriores, ou desejos iguais em duas direções. Seu proprietário pôs uma cesta de aveia à sua esquerda e uma cesta de trigo à sua direita. Se a mula não tivesse nenhum desejo, tanto pela aveia como pelo trigo, ela não escolheria nenhum e passaria fome. Se ela tivesse uma disposição exatamente igual para a aveia como tinha para o trigo, ainda assim iria passar fome. Sua disposição igual a deixaria paralisada. Não haveria motivo. Sem motivo, não haveria escolha. Sem escolha, não haveria comida. Sem comida, logo não haveria mula.
Precisamos rejeitar a teoria da vontade neutra não somente porque é irracional, mas porque é radicalmente antibíblica.”[13]


6.1. A VONTADE HUMANA É LIVRE OU MOTIVADA?

Já é pacífico na ciência contemporânea que o comportamento humano é motivado por necessidades e desejos, sendo que o homem age para satisfazê-los.

Tal entendimento foi amplamente estudado e explicado por vários estudiosos, dentre os quais destacou-se Abraham Maslow[14], psicólogo americano que desenvolveu a pirâmide das necessidades.

“Abraham Maslow sugeriu que muito do comportamento do ser humano pode ser explicado pelas suas necessidades e pelos seus desejos. Quando uma necessidade, em particular se torna ativa, ela pode ser considerada um estímulo à ação e uma impulsionadora das atividades do indivíduo. Essa necessidade determina o que passa a ser importante para o indivíduo e molda o seu comportamento como tal. Na teoria de Maslow, portanto, as necessidades se constituem em fontes de motivação.
O comportamento motivado pode ser encarado como uma ação que o indivíduo se obriga a tomar para aliviar a tensão (agradável ou desagradável) gerada pela presença da necessidade ou desejo. A ação é intencionalmente voltada para um objeto ou objetivo que aliviará a tensão interior.”[15]

A teoria de Maslow demonstra que a vontade humana é sempre motivada para atender suas necessidades ou desejos.

“Nossas escolhas são determinadas por nossos desejos. Elas continuam sendo nossas escolhas porque são motivadas por nosso desejos. Isso é o que chamamos de autodeterminação, que é a essência da liberdade.”[16]

“Pense um pouco sobre suas escolhas. Como e por que elas são feitas? Nesse exato momento você está lendo as páginas deste livro. Por que? Você pegou este livro porque você tinha um interesse no assunto da predestinação, um desejo de aprender mais sobre esse complexo assunto? Talvez. Talvez este livro tenha sido dado a você para ler como uma tarefa. Talvez você esteja pensando: “Não tenho nenhum desejo de ler isso. Tenho de lê-lo, e estou me esforçando com dificuldade com isso para cumprir o desejo de outra pessoa de que eu o lesse. Todas as coisas sendo iguais, eu nunca escolheria ler esse livro.
Mas todas as coisas não são iguais, certo? Se você está lendo este livro por causa de algum tipo de dever, ou para atender a uma necessidade, você ainda teve de tomar uma decisão a respeito de atender a uma necessidade ou não atender a requisição. Você obviamente decidiu que era melhor ou mais desejável ler este livro do que deixá-lo de ler. Até aí tenho certeza, ou você não o estaria lendo bem agora.”[17]


Como visto, antes de ser analisado biblicamente, o conceito de livre-arbítrio enfrenta insuperáveis problemas de ordem moral e racional.

6.2. CAPACIDADE NATURAL E CAPACIDADE MORAL

Para entendermos corretamente o conceito bíblico do livre-arbítrio, é necessário distinguir a capacidade natural e a capacidade moral do homem.

Capacidade natural é a capacidade de agir conforme as atribuições que cada ser humano possui, como pensar, andar, ver, ouvir, falar etc. Exemplo: uma pessoa cega não possui a capacidade natural de ver, ao contrário de outras que não possuem essa limitação.

Capacidade moral é a capacidade do homem fazer escolhas boas, que agradem a Deus. É aqui que reside o problema, pois a Bíblia nos ensina que o pecado destruiu completamente a capacidade moral do homem.

Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração. Gn 6.5

“Uma pessoa cujo coração só pode inclinar-se para o mal, certamente não procura nem pode procurar Deus.”[18]

“Esta é uma das mais fortes e mais claras declarações acerca da natureza pecaminosa do homem. O pecado começa no pensamento. O povo do tempo de Noé era excessivamente iníquo, de dentro para fora.”[19]

Como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nenhum sequer. Rm 3.10-12

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Ef 2.1-3

6.3. A VISÃO DE JESUS SOBRE A CAPACIDADE MORAL DO HOMEM

O que nosso Senhor Jesus Cristo tem a nos ensinar sobre este assunto?

A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te admites de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo que é nascido do Espírito. Jo 3.3-8


Neste texto Jesus ensinou que o homem nasce espiritualmente cego e completamente excluído do reino de Deus, como consequência do pecado.

Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. (...) E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido. Jo 6.44,65

“Em termos nada imprecisos, Cristo declarou a escravidão da vontade humana não regenerada. Anunciou que ninguém pode vir a ele – significando que ninguém pode crer nele – independentemente da obra soberana de Deus. À vontade humana, em si, falta a capacidade de escolher Cristo ou de decidir-se por ele. Quando Jesus disse, “Ninguém pode vir a mim”, empregou intencionalmente o verbo ativo poder (ter pode para; conseguir) em contraste com o verbo auxiliar poder (talvez possa). [No inglês o contraste é entre can and may]. Essa importante distinção indica a diferença entre a capacidade do homem para crer e sua permissão para vir a Cristo.
Nesses versículos Jesus está dizendo que nenhuma pessoa não regenerada tem capacidade inerente de crer nele. Ele pode vir a Cristo – tem permissão para fazê-lo. Mas não pode fazê-lo – falta-lhe a necessária capacidade. Pondo em destaque em termos precisos essa verdade, Pink escreve: “Estas palavras de Cristo põem às claras as profundezas da depravação humana. Elas expõem abertamente a inveterada obstinação da vontade humana.”1 Leon Morris acrescenta: “As pessoas em geral gostam de sentir-se independentes. Acham que vêm ou que podem vir a Jesus firmados inteiramente em sua própria volição. Jesus nos garante que essa é uma total impossibilidade. Ninguém, absolutamente ninguém, pode vir a Cristo, a não ser que o Pai o atraia.”[20]

“Portanto, indubitável nos é deixada esta verdade, a qual não pode ser abalada por nenhuma máquina de guerra: a mente do homem, está tão inteiramente alienada da justiça de Deus, que nada que não seja ímpio, pervertido, imundo, impuro, infame conceba, deseje, busque fazer, tão completamente besuntado está o coração do veneno do pecado, que nada pode exalar senão o que é totalmente pútrido. Porque, se alguns ostentam, por vezes, a aparência de bom, contudo a mente sempre permanece envolta em hipocrisia e enganosa tortuosidade, a sensibilidade enlaçada de íntima perversidade.”[21]

“Concluímos que o homem decaído ainda é livre para escolher o que deseja, mas, porque seus sentimentos são maus, falta-lhe a capacidade moral de vir a Cristo. Enquanto ele permanecer na carne, não regenerado, nunca escolherá a Cristo. Ele não pode escolher Cristo precisamente porque não pode agir contra própria vontade. Ele não tem desejo por Cristo. Ele não pode escolher o que não deseja. Sua queda é grande. É tão grande que somente a graça efetiva de Deus operando em seu coração pode trazê-lo à fé.”[22]

“Na passagem de João 6.44, Jesus Cristo diz: "Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer." Isto não deixa qualquer espaço para o "livre-arbítrio". E o Senhor Jesus passou a explicar como alguém é trazido pelo Pai: "Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim" (v. 45). A vontade humana, por si mesma, é incapaz de fazer qualquer coisa para vir a Cristo em busca da salvação. A própria mensagem do evangelho é ouvida em vão, a menos que o próprio Pai fale ao coração e traga a pessoa a Cristo. Erasmo pretende suavizar o sentido claro desse texto ao comparar os homens a ovelhas, que atendem ao pastor quando este lhes estende o cajado. Argumenta que nos homens há alguma coisa que responde ao chamado do evangelho.
Porém isso não acontece, porque quando Deus exibe o dom de seu próprio Filho a homens ímpios, estes não reagem favoravelmente antes que Ele opere em seus corações. De fato, sem a operação interna do Pai, os homens inclinam-se mais a odiar e perseguir ao Filho, do que a segui-Lo. Entretanto, quando Pai mostra aos homens quão maravilhoso é seu Filho, àqueles a quem tem dado entendimento espiritual, eles são atraídos a cristo. Essas pessoas já são "ovelhas" e conhecem a voz do pastor!”[23]

“Confesso que não gostaria de possuir "livre-arbítrio" ainda que o mesmo me fosse concedido! Se a minha salvação fosse deixada ao meu encargo, eu não conseguiria enfrentar vitoriosamente todos os perigos, dificuldades e demônios contra os quais teria que lutar. Porém, mesmo que não houvesse inimigos a combater, eu jamais poderia ter a certeza do sucesso. Eu jamais poderia ter a certeza de haver agradado a Deus, ou se haveria ainda mais alguma coisa que precisaria fazer. Posso provar isso mediante a minha própria experiência de muitos anos. Porém, a minha salvação está nas mãos de Deus, não nas minhas. Ele será fiel à sua promessa de salvar-me, não com base no que eu faço, mas em conformidade com a sua grande misericórdia. Deus não mente, e não permitirá que o meu adversário, o diabo, me arranque das suas mãos. Por meio do "livre-arbítrio", niguém poderá ser salvo. Mas, por meio da "livre-graça", muitos serão salvos. E não somente por isso, mas também alegro-me por saber que, como um cristão, agrado a Deus, não por causa daquilo que faço, mas por causa de sua graça. Se trabalho muito pouco ou errado demais, Ele, graciosamente, me perdoará e me fará melhorar. Essa é a glória de todo cristão.”[24]


7. GRAÇA IRRESISTÍVEL: DEUS FORÇA AS PESSOAS A IREM PARA O CÉU?

“O mau entendimento do estudante a respeito da graça irresistível é generalizado. Uma vez ouvi o presidente de um seminário presbiteriano declarar: “Não sou um calvinista porque não creio que Deus traga algumas pessoas ao reino, esperneando e gritando contra suas vontades, e exclua outras do reino, que desesperadamente queriam estar lá.””[25]


Tal declaração demonstra completo desconhecimento a respeito da doutrina do pecado, da situação do homem caído, da obra de redenção de Deus e de sua aplicação no homem.

“O Calvinismo não ensina e nunca ensinou que Deus traz pessoas esperneando e gritando para o reino, ou exclui alguém que quisesse estar lá. Lembre-se que o ponto cardeal da doutrina reformada da predestinação está no ensino bíblico da morte espiritual do homem. O homem natural não quer Cristo. Ele só vai querer Cristo se Deus plantar um desejo por Cristo em seu coração. Uma vez que esse desejo está plantado, aqueles que vêm a Cristo não vêm esperneando e gritando contra a sua vontade. Eles vêm porque querem vir. Eles agora desejam Jesus. Eles correm para o Salvador. Toda a questão da graça irresistível é que o renascimento vivifica a pessoa para a vida espiritual de tal maneira que Jesus agora é visto em sua irresistível doçura. Jesus é irresistível para aqueles que foram feitos vivos para a coisas de Deus. Toda alma cujo coração bate com vida de Deus dentro de si anseia pelo Cristo vivo. Todos aqueles que o Pai der a Cristo, vêm a Cristo (Jo 6.37).”[26]


7.1. A GRAÇA DE DEUS NA OBRA DA REDENÇÃO

O termo “graça de Deus” pode ser definido de três formas que se complementam na obra da redenção:

a. A graça é um atributo de Deus

“a. Em primeiro lugar, a graça é um atributo de Deus, uma das perfeições divinas. É o livre, soberano e imerecido favor ou amor de Deus ao homem, no estado de pecado e culpa em que este se encontra, favor que se manifesta no perdão do pecado e no livramento da pena. A graça está relacionada com a misericórdia de Deus, em distinção da sua justiça. Esta é uma graça redentora no sentido mais fundamental da expressão. É a causa última do propósito eletivo de Deus, da justificação do pecador e da sua renovação espiritual; é a prolífica fonte de todas as bênçãos espirituais e eternas.”[27]


b. Designa a provisão que Deus fez em Cristo para a salvação do homem:

“b. Em segundo lugar, o termo “graça” é empregado como um designativo da provisão objetiva que Deus fez em Cristo para a salvação do homem. Cristo, como Mediador, é a encarnação viva da graça de Deus “E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade”, Jo 1.14. Paulo tem em mente a manifestação de Cristo, quando diz: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens”, Tt 2.11. Mas o termo não é aplicado somente ao que Cristo é, mas também ao que Ele mereceu para os pecadores. Quando Paulo fala, repetidamente, nas saudações finais das suas epístolas, da “graça de nosso Senhor Jesus Cristo”, ele tem em mente a graça da qual Cristo é a causa meritória. Diz João: “...a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”, Jo 1.17. Cf. também Ef 2.7.”[28]


c. É empregada para designar o favor de Deus demonstrado na aplicação da obra da redenção pelo Espírito Santo:

“c. Em terceiro lugar, a palavra “graça” é empregada para designar o favor de Deus como é demonstrado na aplicação da obra da redenção pelo Espírito Santo. É aplicada ao perdão que recebemos na justificação, um perdão dado gratuitamente por Deus (...).”[29]


8. BIBLIOGRAFIA

BERKHOF, L. Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012.

BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER

CALVINO, J. As Institutas. Tradução por Waldir Carvalho Luz. 2.ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.


LAWSON, S.J., Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de vultos piedosos: volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, 2012.

LUTERO, M. Nascido Escravo. Preparado por Cliffor Pond. Versão condensada e de fácil leitura do clássico "A Escravidão da Vontade" (Martinho Lutero), publicado inicialmente em 1525. São Paulo: Editora Fiel. 2 edição. 2007. e-Book gratuito divulgado pela Editora Fiel.

SPROUL, R.C. Eleitos de Deus; tradução de Gilberto Carvalho Cury. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

SPROUL, R. C. Sola Gratia; traduzido por Denise Pereira Ribeiro Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.




[1] BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER, Pergunta 14
[2] BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER, Pergunta 15
[3] BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER, Pergunta 16
[4] SPROUL, R.C. Eleitos de Deus; tradução de Gilberto Carvalho Cury. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 69.
[5] CALVINO, J. As Institutas. Tradução por Waldir Carvalho Luz. 2.ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 20.
[6] HARNACK, A. History of Dogma, parte 2, livro 2, trad. por James MilIar (1898: Nova York: Dover, 1961), p. 247 in SPROUL, R. C. Sola Gratia; traduzido por Denise Pereira Ribeiro Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 66. (grifos nossos)
[7] COSTA, H.M.P. da. Fundamentos da Teologia Reformada. São Paulo: Editora Mundo Cristão, p. 95, disponível em: http://books.google.com.br/books?id=_u6isxgndmoC&pg=PA94&lpg=PA94&dq=semipelagianismo+e+a+igreja+catolica&source=bl&ots=Q5xQppo2cP&sig=zIORJ5Rp4b_vIgWGZ7KqJMxukMQ&hl=pt-BR&sa=X&ei=v3VCVMOfBY-7ggTe54HIDQ&ved=0CEUQ6AEwBw#v=onepage&q=semipelagianismo%20e%20a%20igreja%20catolica&f=false. Acessado em 18 de outubro de 2014.
[8] The Canons of Dort, apêndice I in Crisis in the Reformed Churches, de De Jong (org.), p. 246-47, in SPROUL, R. C. Sola Gratia; Idem., p. 135.
[9] SPROUL, R.C. Sola Gratia, Idem., p. 97.
[10] SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Idem., p. 29.
[11] CALVINO, J. Idem, p. 34-35.
[12] SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Idem., p. 39.
[13] SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Idem., p. 40.
[14] Abraham Maslow foi um psicólogo comportamental, membro da Human Relations School, em finais da década de 50. Abraham Maslow nasceu em Brooklyn, licenciou-se em Wisconsin e doutorou-se na Universidade de Columbia, onde também trabalhou no departamento de investigação. No Jardim Zoológico de Bronx, estudou o comportamento dos primatas e, entre 1945 e 1947, foi diretor-geral da Maslow Cooperage Corporation. Em 1951, lecionava Psicologia Social na Universidade de Brandeis. Maslow ficou conhecido pelo desenvolvimento da Teoria da Motivação Humana.
[16] SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Idem., p. 41-42.
[17] SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Idem., p. 42.
[18] James Montgomery Boice e Philip Graham Ryken, The Doctrines of Grace: Rediscovering the Evangelical Gospel (Wheaton, IL: Crossway Books, 2002), 70 in Steven J. Lawson, Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de vultos piedosos: volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, 2012. p. 83
[19] John MacArthur, The MacArthur Bible (Nashville, Londres, Vancouver, Melbourne: Word Bibles, 1997), 24 in Steven J. Lawson, Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de vultos piedosos: volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, 2012. p. 83 
[20] LAWSON, S.J., Fundamentos da Graça: 1.400 A.C. – 100 D.C.: longa linha de vultos piedosos: volume 1; tradução Odair Olivetti. São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, 2012. p. 389-390
[21] CALVINO, J. Idem., p. 104.
[22] SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Idem., p. 56.
[23] LUTERO, M. Nascido Escravo. Preparado por Cliffor Pond. Versão condensada e de fácil leitura do clássico "A Escravidão da Vontade" (Martinho Lutero), publicado inicialmente em 1525. São Paulo: Editora Fiel. 2 edição. 2007. e-Book gratuito divulgado pela Editora Fiel. p. 37-38.
[24] LUTERO, M. Idem., p. 39-40.
[25] SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Idem., p. 92.
[26] SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Idem., p. 92-93.
[27] BERKHOF, L. Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 394.
[28] BERKHOF, L. Idem.,  p. 395.
[29] Idem.