terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Jesus Cristo no Antigo Testamento - aula 12 - Salmo 110

COMO COMPREENDER MELQUISEDEQUE

SALMO 110

Para podermos compreender corretamente o Salmo 110, precisamos começar pela análise de sua autoria. Quem escreveu este salmo?

O próprio Salmo 110 contém uma epígrafe na qual consta: “Salmo de Davi”. A autenticidade dessa informação é confirmada pelo Senhor Jesus em um dos seus diálogos com os fariseus:

Replicou-lhes Jesus: Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés? Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho? Mt 22.43-45


Logo, tanto o Antigo como o Novo Testamentos confirmam Davi como o autor do Salmo 110.

Do que trata o Salmo 110?

Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés. Sl 110.1


A primeira expressão do Salmo indica que o SENHOR está falando com o Senhor. Quem são esses dois “Senhores”?

- SENHOR: o Deus de Israel (Yahweh);
- Senhor: conforme dito por Jesus, se Davi está chamando alguém de Senhor, significa que essa pessoa é mais importante que Davi, é superior a ele.

Davi foi o grande rei de Israel, não houve outro mais importante que ele. Portanto, ao chamar alguém de Senhor, além do Deus de Israel, ele só poderia estar se referindo ao Messias prometido em Gênesis 3.15, aquele que esmagaria a cabeça da serpente. O Salmo 110.1 apresenta afirmações feitas pelo Deus de Israel ao seu próprio Filho, Jesus Cristo.

O significado da expressão “assenta-te à minha direita” nos ajuda a entender a exaltação de Cristo de várias maneiras:

- Ele é maior que Davi (At 2.34);
- Ele é maior que os anjos (Hb 1.13);
- Ele está exaltado ao lado de Deus (At 5.31);
- Ele intercede em nosso favor (Rm 8.34);
- Seu sacrifício foi completo (Hb 10.11-12);
- Ele aguarda a derrota final dos seus inimigos (Hb 10.12-13).

Os versículos 2 e 3 do Salmo 110 apresentam maiores detalhes a respeito da de como o Deus de Israel cumprirá a promessa feita no versículo 1.

O SENHOR jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Sl 110.4


O versículo 4 parece não ter conexão com os versículos anteriores. Davi estava narrando a promessa de vitória dada por Deus Pai ao Filho, e, de repente, diz que esse Messias também será um sacerdote.

Além de parecer fora de lugar, esse versículo apresenta um problema: a lei de Moisés proibia que o rei fosse também sacerdote; Saul foi duramente punido por Deus exatamente após ter oferecido o sacrifício em lugar de Samuel (1 Sm 13.8-14).

Por fim, que é Melquisedeque? Por que ele é citado nesse salmo?

Para aumentar a dúvida, verificamos que os versículos 5 a 7 do Salmo 110 não nos ajudam a compreender o versículo 4, pois eles retomam o tema anterior, da vitória de Cristo sobre seus inimigos.

Em que Davi estava pensando ao escrever o Salmo 110?

A Bíblia de Estudo de Genebra sugere que este salmo foi escrito como um cântico da coroação de Davi após a conquista de Jerusalém (2 Sm 5.1-5). Era um momento de extrema felicidade em Israel, o reconhecimento de Davi como o rei escolhido por Deus para o seu povo.

Don Carson acredita que o Salmo 110 tenha sido escrito em um momento de estudo e meditação da lei de Moisés feito por Davi, o que era um obrigação do rei, conforme Dt 17.18-20.

Se somarmos as duas informações, concluiremos que o Salmo 110 deve ter sido escrito em um momento de alegria e de grande responsabilidade de Davi para com o povo, como o novo rei de Israel, e em um momento de estudo e meditação da lei de Moisés.

A fim de possibilitar nossa compreensão do Salmo 110.4, vamos retornar ao primeiro relato bíblico sobre Melquisedeque.

Gênesis 14 nos conta sobre uma guerra de quatro reis dos povos antigos contra outros cinco reis. A aliança dos quatro reis derrotou a aliança dos cinco reis e levou cativas muitas pessoas de Sodoma e Gomorra, entre elas Ló, o sobrinho de Abrão.

Ao saber disso, Abrão reuniu seus homens, lutou contra aqueles reis, libertou os cativos e retomou todos os bens que haviam sido levados. Os versículos 17-24 narram o retorno de Abrão, após essa grandiosa vitória.

Após voltar Abrão de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no vale de Savé, que é o vale do Rei. Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo. Então, disse o rei de Sodoma a Abrão: Dá-me as pessoas, e os bens ficarão contigo. Mas Abrão lhe respondeu: Levanto a mão ao SENHOR, o Deus Altíssimo, o que possui os céus e a terra, e juro que nada tomarei de tudo o que te pertence, nem um fio, nem uma correia de sandália, para que não digas: Eu enriqueci a Abrão; nada quero para mim, senão o que os rapazes comeram e a parte que toca aos homens Aner, Escol e Manre, que foram comigo; estes que tomem o seu quinhão. Gn 14.17-24


Vamos observar algo: se retirarmos os versículos 18-20, parece que eles não fazem falta no relato da história. O versículo 17 narra que o rei de Sodoma foi ao encontro de Abrão, e os versículos 21-24 apresentam o diálogo de Abrão com esse rei.

Qual a importância de Gn 14.18-20?

“(...) O que devemos concluir a partir disso? Pelo contexto imediato, Melquisedeque forma um contraste com Sodoma. Abrão não quer ter nada com Sodoma; não quer nada do rei de Sodoma e também não quer lhe dar nada. Existe uma relação de frieza entre Abrão e Sodoma. Sodoma representa a maldade do vale. Mas Melquisedeque é um homem de outra ordem. Seu próprio nome tem um significado importante (como tantas vezes ocorre com os nomes do Antigo Testamento). Significa, literalmente, “rei de justiça”. (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 189.


Melquisedeque era o rei de Salém, que, provavelmente, era Jerusalém.

Conhecido é Deus em Judá; grande, o seu nome em Israel. Em Salém, está o teu tabernáculo, e, em Sião, a sua morada. Sl 76.1-2


Salém significa “paz”. Melquisedeque era “rei de justiça” e era o rei de uma cidade chamada “paz”.

Ele levou pão e vinho, o que significava alimento para aqueles homens famintos e cansados que retornavam da guerra.

Ele era “sacerdote do Deus altíssimo”. Essa é a primeira referência a sacerdotes na Bíblia. O “Deus altíssimo” é o Deus adorado por Abrão, e que mais tarde viria a ser o Deus de Israel.

Melquisedeque abençoou a Abrão e glorificou a Deus por sua Soberania e por ter concedido a vitória a Abrão naquela guerra.

Abrão lhe deu o dízimo, o que significa que reconheceu-o como legítimo sacerdote do Deus altíssimo.

Uma questão adicional é que o texto não apresenta a genealogia de Melquisedeque, como faz com todas as pessoas importantes dos povos antigos. Se Abrão, homem importante e rico de sua época e que andava com Deus, reconheceu Melquisedeque como seu superior, por que o texto não nos fornece maiores informações sobre ele?


DUAS INTERPRETAÇÕES HISTÓRICAS

Na história da Igreja os estudiosos apresentaram duas interpretações para a figura de Melquisedeque:

A primeira delas é que Melquisedeque é uma visitação pré-encarnada de Jesus Cristo, ou seja, antes de nascer de Maria e se tornar homem perfeito, Jesus apareceu a Abrão em forma corpórea.

A maioria dos estudiosos bíblicos entende que essa interpretação não é a mais adequada. O primeiro motivo é que Melquisedeque não usa o nome de Deus (Yahweh), o que seria necessário caso estivesse se tratando do próprio Deus encarnado.

O Salmo 110.4 diz que o Senhor (o Messias) é sacerdote “segundo a ordem” de Melquisedeque. Se o texto apontasse para o próprio Cristo, por que não disse que Ele “era” Melquisedeque?

Gênesis 14.18 apresenta Melquisedeque como alguém que possui uma reconhecida posição política, ele era rei de uma localidade existente no mundo antigo.

Por esses argumentos, os estudiosos entendem que a melhor interpretação para a figura de Melquisedeque é que ele é um modelo, alguém que aponta para Cristo.


SACERDOTE E REI

Como dito antes, Davi sabia que o rei de Israel não poderia ser sacerdote, e que um sacerdote da linhagem de Levi não poderia ser rei em Israel. Contudo, Gênesis 14.18-20 relata um rei que também era sacerdote. Davi, em suas meditações, cogita sobre a possibilidade de existir um rei que também era sacerdote, mas não pela ordem de Levi, e sim pela ordem de Melquisedeque. É Exatamente esse rei-sacerdote que o Salmo 110 anuncia.


HEBREUS 7

Outro texto que fala sobre Melquisedeque é Hebreu 7. O versículo 3 relata que ele foi feito “semelhante” ao Filho de Deus, e não que ele “é” o Filho de Deus, o que reforça a ideia de que ele não era o Cristo pré-encarnado, mas sim um modelo que apontava para Cristo.

O texto de Hebreu 7.4-10 ressalta a superioridade de Melquisedeque em relação a Abraão, o que, conforme consta em Gênesis 14.18-20, foi reconhecido pelo próprio Abraão, que lhe pagou dízimos. Hb 7.9-10 conclui que, se Abraão pagou dízimos a Melquisedeque, então Levi também o fez, na medida em que Levi é descendente de Abraão, o que nos leva a concluir que Melquisedeque também é superior a Levi.

Sendo assim, o sacerdócio de Melquisedeque é superior ao sacerdócio de Levi.

Tal afirmação é confirmada em Hebreus 7.11-19. Tanto o sacerdócio levítico como a lei de Moisés não eram suficientes, não eram perfeitos.

Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico (pois nele baseado o povo recebeu a lei), que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contato segundo a ordem de Arão? Hb 7.11


Ao escrever o Salmo 110, Davi está anunciando, cerca de mil anos antes da vinda de Jesus, que o sacerdócio de Levi não era suficiente, que o povo precisava de um sacerdote de outra ordem, um sacerdote superior, um sacerdote da ordem de Melquisedeque.

Ao anunciar que o sacerdócio de Levi não era suficiente, tanto Davi quanto o escritor de Hebreus decretaram que a lei de Moisés também não era suficiente, pois o sacerdócio foi instituído pela lei. Se o sacerdócio não é suficiente, então a lei que o instituiu também não é.

Vejamos a sequência dos fatos:

1- Abraão se encontrou com Melquisedeque. Isso aconteceu antes de Deus dar a lei ao povo. Melquisedeque é rei e sacerdote.

2- Mais de quinhentos anos depois, a lei de Moisés, dada por Deus, proibiu a mesma de ser rei e sacerdote.

3- Séculos depois, Davi anunciou um sacerdote-rei segundo a ordem de Melquisedeque. Assim, Davi tornou a lei ultrapassada. Seria necessária uma nova aliança que fosse superior à lei de Moisés.

4- O autos de Hebreus confirma que agora temos um sacerdote-rei segundo a ordem de Melquisedeque. Isso confirma que a lei de Moisés foi revogada por um aliança superior.

Hebreu 7.20-22 afirma que Cristo se tornou sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, pelo juramento do próprio Deus Pai.

O sacerdócio de Levi, estabelecido pela lei de Moisés, foi substituído pelo sacerdócio de Cristo, segundo a ordem de Melquisedeque, pelo juramento do próprio Deus Pai. Jesus Cristo é o fiador de uma aliança muito superior à aliança de Deus com Moisés.


CONCLUSÃO

Cristo é o Messias anunciado por Davi no Salmo 110.1, a quem o Deus de Israel prometeu dar a vitória final, após a vitória sobre todos os inimigos.

Além disso, o Salmo 110.4 apresenta Cristo como o sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, conforme promessa feita por Deus Pai.

Cristo é rei e sacerdote.

Cristo é o rei que governa toda a criação, incluindo nossas vidas, que derrota seus inimigos e faz prevalecer toda a Sua vontade. Mas Cristo também é o sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, o sumo-sacedote que oferece o sacrifício perfeito em nosso favor.

E que sacrifício é esse? Ai está a maravilha de tudo! O grande sumo-sacerdote é também o Cordeiro oferecido em nosso favor.

E Cristo também é o templo, o local onde os homens se encontram com Deus. E também é o véu, que foi inteiramente rasgado para possibilitar o livre acesso ao Pai.

Cristo é nosso Rei, o soberano Senhor de tudo e todos, e também é nosso sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, o Cordeiro, o templo e o véu. Ele nos governa e intercede incessantemente por nós, a fim de possibilitar-nos nova vida e a certeza da chegada à Jerusalém celestial, onde estaremos com Ele pelos séculos dos séculos.

“(...) Ó Senhor Deus, não queremos que a leitura do Antigo Testamento seja somente um exercício intelectual; mas queremos compreender o que diz a tua Palavra para que possamos nos aproximar confiantes de Cristo Jesus, nosso Rei amado, nosso Sacerdote, aquele que por nós se tornou tudo de que precisamos, para que nele possamos ter plena confiança. Abre nossos olhos para que vejamos; para que, vendo, creiamos; e para que, crendo, obedeçamos. Em nome de Jesus. Amém. (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 203.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. 1920p.

CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. 224 p.


Jesus Cristo no Antigo Testamento - aula 11 - Sofonias


- Contexto histórico
- O castigo anunciado
- A esperança anunciada
- A salvação anunciada
- Referências bibliográficas


CONTEXTO HISTÓRICO

Palavra do SENHOR que veio a Sofonias, filho de Cusi, filho de Gedalias, filho de Amarias, filho de Ezequias, nos dias de Josias, filho de Amom, rei de Judá. Sf 1.1


O primeiro versículo do livro narra a ascendência de Sofonias até a quarta geração. Alguns estudiosos bíblicos afirmam que o “Ezequias” mencionado foi o rei de Judá, o que faria de Sofonias um componente da família real.

O texto nos conta também que Sofonias profetizou durante o reinado de Josias de Judá. O severo julgamento divino anunciado pelo profeta sugere uma data anterior à reforma empreendida pelo rei Josias (2Rs 23.1-27).

Foi um tempo difícil, o povo cultuava ao Senhor apenas por tradição, mas também cultuava diversos deuses dos povos pagãos que viviam ao seu redor. Os reis anteriores (Manassés e Amom) fizeram o que era mau perante o Senhor.

Manassés reinou 55 anos em Judá, edificou altares a deuses estranhos, foi adivinho, consultou médiuns e feiticeiros e sacrificou seu próprio filho em oferta aos deuses estranhos (2Rs 21.2-6).

Amom reinou 2 anos em Judá e repetiu todos os erros de seu pai, a ponto de ser morto em uma conspiração dos seus servos.

Estes dois reinados juntos somaram 57 anos de distanciamento do Senhor e de adoração a deuses estranhos e práticas religiosas pagãs. Não bastasse isso, Josias foi alçado à condição de rei aos 8 anos de idade (2Rs 22.1).

Mais de meio século de afastamento de Deus e uma criança no trono. Esse foi o contexto no qual Sofonias profetizou.

Sofonias foi contemporâneo dos profetas Jeremias, Naum e Habacuque.


O CASTIGO ANUNCIADO

De fato, consumirei todas as coisas sobre a face da terra, diz o SENHOR. Consumirei os homens e os animais, consumirei as aves do céu, e os peixes do mar, e as ofensas com os perversos; e exterminarei os homens de sobre a face da terra, diz o SENHOR. Estenderei a mão contra Judá e contra todos os habitantes de Jerusalém; Sf 1.2-4a


Sofonias não poderia ter iniciado sua profecia de forma mais aterrorizante. Ele foi usado como boca do Senhor para anunciar a destruição tanto do povo de Jerusalém como também de todas as demais nações da terra.

Deus estava profundamente irado e anunciou seu julgamento.

Mas, afinal de contas, o que fez o povo de Judá para deixar Deus irado daquela maneira?

Durante todo o Antigo Testamento, Deus se apresentou como o salvador dos judeus, o seu povo escolhido. Ele foi ao encontro do seu povo e firmou aliança com ele, na qual se comprometeu a ser o seu Deus, e o povo deveria adorá-lo exclusivamente como o único e verdadeiro Deus.

A lei de Deus para o seu povo foi resumida nos dez mandamentos, sendo que o primeiro deles proibia expressamente a idolatria. Apesar disso, o povo falhou várias vezes durante a caminhada, mas Deus se mostrou misericordioso e benevolente e permaneceu ao lado de Israel. Além disso, Deus operou grandes milagres em favor do seu povo, como por exemplo a salvação concedida por meio de José, a fantástica libertação dos judeus da escravidão do Egito, a caminhada de 40 anos no deserto e a conquista da terra prometida.

O povo de Israel e de Judá sabiam perfeitamente quem foi o Deus de seus pais, pois todas essas histórias eram contadas pelos pais aos filhos, para que o nome e os feitos do Senhor sempre fossem lembrados e sua lei cumprida com sincera adoração.

Apesar disso, após o reinado de Ezequias em Judá, os dois reis seguintes desprezaram o Senhor e decidiram descumprir a sua lei. Foram 57 anos de idolatria, sincretismo e até mesmo ateísmo por parte do povo.

os que sobre os eirados adoram o exército do céu e os que adoram ao SENHOR e juram por ele e também por Milcom; Sf 1.5 (sincretismo religioso)

os que deixam de seguir ao SENHOR e os que não buscam o SENHOR, nem perguntam por ele. Sf  1.6 (ateísmo)

Naquele tempo, esquadrinharei a Jerusalém com lanternas e castigarei os homens que estão apegados à borra do vinho e dizem no seu coração: O SENHOR não faz bem, nem faz mal. Sf 1.12 (banalização de Deus)

Não atende a ninguém, não aceita disciplina, não confia no SENHOR, nem se aproxima do seu Deus. Sf 3.2 (arrogância, autossuficiência)


O povo escolhido e amado por Deus decidiu praticar essas barbaridades por mais de meio século. O que o Senhor, o único Santo, Santo, Santo descrito por Isaías sentiria ao ver essa situação?

Deus estava profundamente irado. Deus odeia o pecado.

Esse foi o motivo pelo qual ele levantou o profeta Sofonias, para anunciar o julgamento que viria ao povo de Judá e a todo o mundo. Deus é totalmente santo e puro, Ele não tolera o mau, o pecado. Onde há pecado tem que haver julgamento e condenação.

Cala-te diante do SENHOR Deus, porque o Dia do SENHOR está perto, pois o SENHOR preparou o sacrifício e santificou os seus convidados. Sf 1.7


Sofonias anunciou que o “Dia do Senhor” estava próximo. Mas, ao contrário do que parecia, o povo imaginava que aquele dia seria de grandes bênçãos, felicidade e alegria, no qual Deus viria como um grande pai generoso e bondoso a atender as petições de seus filhos.

O povo pensava isso porque se esquecera de quem era o Senhor e se esquecera também da profecia dada por Amós anos antes.

Ai de vós que desejais o Dia do SENHOR! Para que desejais vós o Dia do SENHOR? É dia de trevas e não de luz. Como se um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso; ou como se, entrando em casa, encostando a mão à parede, fosse mordido de uma cobra. Não será, pois, o Dia do SENHOR trevas e não luz? Não será completa escuridão, sem nenhuma claridade? Am 5.18-20


O Dia do Senhor seria terrível, dia de trevas. Sofonias repetiu essa definição em sua profecia.

Está perto o grande Dia do SENHOR; está perto e muito se apressa. Atenção! O Dia do SENHOR é amargo, e nele clama até o homem poderoso. Aquele dia é dia de indignação, dia de angústia e dia de alvoroço e desolação, dia de escuridade e negrume, dia de nuvens e densas trevas, dia de trombeta e de rebate contra as cidades fortes e contra as torres altas. Trarei angústia sobre os homens, e eles andarão como cegos, porque pecaram contra o SENHOR; e o sangue deles se derramará como pó, e a sua carne será atirada como esterco. Sf 1.14-17

Nem a sua prata nem o seu ouro os poderão livrar no dia da indignação do SENHOR, mas, pelo fogo do seu zelo, a terra será consumida, porque, certamente, fará destruição total e repentina de todos os moradores da terra. Sf 1.18


“(...) E o versículo 18 do capítulo 1 deixa bem claro que nem suas riquezas, nem seus bens, nem suas realizações, nem qualquer outra coisa, poderá salvá-lo naquele dia. Não poderemos nos esconder atrás de coisa alguma. Dizemos sempre aos nossos filhos que chegará o dia em que estaremos sós diante de Deus. Eles não poderão se esconder atrás da mamãe e do papai. Todas as coisas serão manifestas. (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 158.


Sabemos que a punição do povo de Judá ocorreu anos depois, com o exílio imposto pelos babilônicos. Deus levantou Nabucodonosor e seu reino para punir o povo de Judá por todos aqueles anos de idolatria.

Entretanto, o Dia do Senhor anunciado por Amós e Sofonias ainda virá. Será o dia no qual o Justo Juiz derramará sua ira sobre todos os povos que não O adoram como único Deus e salvador.


A ESPERANÇA ANUNCIADA

Concentra-te e examina-te, ó nação que não tens pudor, antes que saia o decreto, pois o dia se vai como a palha; antes que venha sobre ti o furor da ira do SENHOR, sim, antes que venha sobre ti o dia da ira do SENHOR. Buscai o SENHOR, vós todos os mansos da terra, que cumpris o seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão; porventura, lograreis esconder-vos no dia da ira do SENHOR. Sf 2.1-3


O capítulo 1 de Sofonias é terrível, Deus anunciou o julgamento sobre todas as nações. Parecia não haver escapatória. Existiria ainda alguma esperança de livramento?

Os primeiros versículos do capítulo 2 apontam para uma luz. No meio daquele julgamento tão duro, o próprio Deus forneceu esperança. Ele disse: “O julgamento virá depressa, mas antes disso busquem o Senhor, pois talvez tenham êxito em fugir da Sua ira”.

Deus anunciou a única forma de fugir da Sua ira: buscá-lo com humildade.

“(...) Quando percebemos que de fato somos culpados diante de um Deus santo e justo – quanto isso acontece, quando a ficha finalmente cai, quando entendemos essa verdade básica e monumental, nesse mesmo instante o coração humano fica tentado a se voltar para outros refúgios, outros remédios. “Senhor, vou voltar a frequentar a igreja.” “Vou parar de fazer isso e aquilo.” “Vou deixar de ser desonesto.” “Vou melhorar, Senhor”.
Mas, ouça: não há esperança nisso. Só há um lugar para onde correr, e esse lugar é o próprio Deus, que, em sua misericórdia, concede salvação por meio de Jesus Cristo a todos quantos se voltam para ele e dizem: “Senhor, tem misericórdia de mim, pecador. Salva-me.” Não se trata de uma fórmula mágica. Trata-se de humildade no coração. Devemos nos voltar humildemente a Cristo e nos refugiar em sua morte por nossos pecados. (...)”
CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. p. 160-161.


“(...) Exortar o povo a ouvir advertências severas é um ato da graça divina, pois as advertências são formuladas com o objetivo de estimular ou evocar arrependimento naqueles que a ouvem. (...)”
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. p. 1187. Comentário de Sf 2.1


Após essa luz de esperança, Deus esclareceu mais detalhadamente os alvos de sua punição. Nenhuma nação ao redor de Judá escaparia, todas seriam destruídas pela mão poderosa do Senhor.

- Norte: Assíria (v. 13)
- Sul: Etíopes (v. 12)
- Leste: Moabe e Amom (v.8)
- Oeste: Filístia (v. 5)

Deus advertiu seu povo de que não haveria lugar seguro para se esconder da sua ira. Para onde quer que fossem, lá eles seriam alcançados pelo julgamento divino. O Senhor relembrou o povo de sua onipresença, conforme já afirmado pelo rei Davi.

Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Sl 139.7


Além disso, ao punir severamente todas as nações ao redor de Judá, Deus reafirmou seu poder e domínio sobre toda a terra. Os deuses pagãos não tinham qualquer poder, eles nada poderiam fazer para acudir seus adoradores.

Mais uma vez Deus relembrava coisas que o povo já deveria saber.

Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam. Sl 115.4-8


A punição seria grandiosa e terrível. Nenhuma nação escaparia. Não havia deus capaz de livrar os habitantes da terra. Mas, no meio de tudo isso, o Senhor anunciou uma pequena luz, distante, frágil, uma luz de esperança para aqueles que o buscassem com humildade.


A SALVAÇÃO ANUNCIADA

O capítulo 3 começa com o julgamento de Deus sobre Jerusalém e se expande a todas as nações da terra, semelhante ao já anunciado nos dois capítulos anteriores.

Mas, a partir do versículo 9, o profeta retorna àquela frágil luz de esperança brevemente anunciada no capítulo anterior. A esperança é mais claramente apresentada pelo Senhor, que anuncia purificação, regozijo e gloriosa restauração após o julgamento.

Então, darei lábios puros aos povos, para que todos invoquem o nome do SENHOR e o sirvam de comum acordo. Dalém dos rios da Etiópia, os meus adoradores, que constituem a filha da minha dispersão, me trarão sacrifícios. Naquele dia, não te envergonharás de nenhuma das tuas obras, com que te rebelaste contra mim; então, tirarei do meio de ti os que exultam na sua soberba, e tu nunca mais te ensoberbecerás no meu santo monte. Mas deixarei, no meio de ti, um povo modesto e humilde, que confia em o nome do SENHOR. Os restantes de Israel não cometerão iniqüidade, nem proferirão mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa, porque serão apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante. Sf 3.9-13


- lábios puros: Após o julgamento do seu povo, o Senhor promete dar-lhes lábios puros para invocarem o nome do Senhor, exatamente o que não fizeram durante os últimos 57 anos de idolatria explícita.

- Dalém dos rios da Etiópia: Deus chamaria seu povo tanto dos judeus como também dos gentios.

- um povo modesto e humilde: Exatamente o oposto do povo arrogante e autossuficiente que viviam como se não precisasse de Deus.

Canta, ó filha de Sião; rejubila, ó Israel; regozija-te e, de todo o coração, exulta, ó filha de Jerusalém. O SENHOR afastou as sentenças que eram contra ti e lançou fora o teu inimigo. O Rei de Israel, o SENHOR, está no meio de ti; tu já não verás mal algum. Naquele dia, se dirá a Jerusalém: Não temas, ó Sião, não se afrouxem os teus braços. O SENHOR, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo. Sf 3.14-17


O povo redimido é chamado a cantar, a adorar a Deus por ter afastado a condenação que estava sobre eles. Aqui está a mensagem central do livro, Jesus Cristo, o Salvador que tomou sobre si a condenação, a ira de Deus em nosso lugar.

Somente podemos cantar porque Cristo morreu em nosso lugar. Assim como o povo de Judá, estávamos condenados ao inferno, à eterna separação de Deus, mas Ele, por causa do grande amor com que nos amou, enviou Seu Filho para sofrer e morrer em nosso lugar.

Cristo cumpriu fielmente a obra de salvação: se encarnou, sofreu, morreu, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céus e reina soberano sobre toda a criação.

Sua obra nos concedeu perdão de todos os pecados e a nova vida Nele, na qual somos capazes de ouvir, entender e obedecer à voz de Deus transcrita em Sua Palavra Revelada. Agora podemos cantar em alta voz, nossa esperança se tornou em gloriosa salvação nos dada pelo Senhor Jesus Cristo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2ª edição, 2009. 1920p.

CARSON, D.A. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho no Antigo Testamento; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Vida Nova, 2015. 224 p.