1De
onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres
que militam na vossa carne? 2Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada
podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis;
3pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.
4Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele,
pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. 5Ou supondes
que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que
ele fez habitar em nós? 6Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste
aos soberbos, mas dá graça aos humildes. 7Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas
resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. 8Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a
vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai
o coração. 9Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto,
e a vossa alegria, em tristeza. 10Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos
exaltará. Tg 4.1-10
1.
Introdução
Estamos
próximos do final de mais um ano. É tempo de retrospectivas, de autoanálises.
Como foi seu ano? Um grande termômetro para avaliar como foi seu ano é meditar
sobre como você viveu esse ano que se finda.
Você é
uma pessoa que vive em guerra?
Você está
em paz? Você está em paz diante de Deus e das pessoas?
Você se
considera uma pessoa sábia? De onde vem sua sabedoria?
2.
Contexto histórico
A grande
maioria dos estudiosos das Escrituras defende que o autor da carta é Tiago,
irmão de Jesus. Ele não creu em Cristo durante Seu ministério terreno, e passou
a crer quando Jesus apareceu aos discípulos, após a ressurreição.
Tiago
assumiu a liderança da igreja de Jerusalém depois que Pedro foi libertado da
prisão (At 12.17) e falou com autoridade na reunião de apóstolos e presbíteros
em Jerusalém para tratar da questão da circuncisão (At 15.12-21).
1.1: A
carta foi escrita “às doze tribos que se encontram na dispersão”, que são os
judeus convertidos ao cristianismo que foram dispersos por várias cidades após
a morte de Estêvão, quando da perseguição ocorrida em Jerusalém (At 8.1-3):
Judeia, Samaria, Fenícia, Chipre e Antioquia da Síria.
3.
O problema: a origem dos conflitos – sabedoria mundana
v.1: Tiago
aponta um grave problema: os cristãos estavam em guerra, estavam vivendo em
conflitos.
Tiago já
havia apontado que o coração cheio de inveja e sentimento de separação (3.14)
leva a pessoa a ser dominada pela sabedoria terrena, animal e demoníaca (3.15).
Isso promove “confusão e toda espécie de coisas ruins” (3.16).
Tiago
aponta que os conflitos que ocorriam entre os cristãos tinham origem nos maus
desejos que lutavam dentro deles.
“(...) Quando Deus não
mais governa a vida do ser humano, a busca pelos prazeres assume o controle e a
paz é perturbada pelas brigas e contendas frequentes (...)”[1]
v.2: Tiago
mostra aos cristãos que eles cobiçavam, invejavam e estavam dispostos até a
matar, mas mesmo assim nada conseguiam obter.
v.3: Os
cristãos nada obtinham porque não pediam, e, quando pediam, tinham o objetivo
errado, de satisfazer seus maus desejos.
Pedi, e dar-se-vos-á;
buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que
busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. Mt 7.7-8
E tudo quanto pedirdes
em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me
pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Jo 14.13-14
Qual o
problema com aqueles cristãos? Por que não obtinham as bênçãos mencionadas nos
evangelhos de Mateus e João?
Tiago
mostra que os conflitos externos vividos pelos cristãos tinham origem em seus
conflitos internos não resolvidos. Os maus desejos estavam dominando aqueles
cristãos, a ponto de impedir que eles recebessem o que desejavam, pois isso
somente aumentaria a maldade dos seus corações.
“(...) Deus se recusa a
ouvir aqueles que buscam sofregamente [de maneira impaciente] seus prazeres
egoístas. A ganância é idolatria, e isso é abominação aos olhos de Deus. Deus
não ouve as orações que vêm de um coração cheio de motivos egoístas. Ganância e
egoísmo são insultos para Deus. (...)[2]”
Os
cristãos estavam deixando ser dominados pela sabedoria mundana, que gerava
guerras e conflitos em seus corações e guerras e conflitos com as outras
pessoas.
Aplicações: Seus pedidos têm sido atendidos? Por quê?
Como você tem lidado com
a sedução da sabedoria mundana?
4.
Tratamento: a necessidade da sabedoria divina
Após
fazer o diagnóstico do problema daqueles cristãos, Tiago apresenta o tratamento
necessário para eles.
v.4: Tiago
chama os cristãos de “infiéis”. A infidelidade sempre foi um dos terríveis
pecados do povo de Israel, e sempre foi duramente punida por Deus.
Outras
traduções (NVI, TB, ARC) utilizam o termo “Adúlteros!”
Jesus
chamou os escribas e fariseus de “geração má e adúltera” (Mt 12.39).
Ao chamá-los
de “infiéis”, Tiago não deixa dúvidas sobre a gravidade do pecado daqueles
cristãos. O modo de viver deles definitivamente não agradava ao Senhor.
Tiago
aponta que os cristãos não podem servir a dois senhores, não podem ser amigos
do mundo e amigos de Deus. Aqueles cristãos estavam desobedecendo o ensinamento
de Cristo (Mt 6.24).
Não há
dúvida: ser amigo do mundo significa ser inimigo de Deus, significa enfrentar o
ódio de Deus.
Horrível coisa é cair
nas mãos do Deus vivo. Hb 10.31
v.5:
Tiago relembra que os cristãos são o templo do Espírito Santo, e que o próprio
Espírito tem cuidado (zelo) por eles.
v.6: Deus
resiste (se opõe) aos soberbos (orgulhosos), mas dá graça (abençoa) os humildes
(Pv 3.34).
Tiago
aponta para o Sermão do Monte, onde Cristo ensinou o valor de ser humilde de
espírito, de reconhecer que somos miseráveis pecadores diante da Majestade e
Santidade de Deus.
O remédio
para aqueles cristãos era abandonar a amizade, as paixões e o cuidado com o
mundo, que advinham da sabedoria mundana, e se voltar intensamente na busca
pela sabedoria divina, que só poderia ser obtida por meio de retorno às
Escrituras Sagradas.
Não há
como ser isento: ou você buscará a sabedoria divina, ou será dominado pela
sabedoria mundana.
Aplicação:
Como você espera obter a sabedoria divina se não se dedica intensamente ao
estudo da Palavra de Deus?
5.
Sabedoria divina e consequências práticas
Na última
parte dessa passagem, Tiago explica as consequências práticas da busca pela
sabedoria divina.
v.7: O
reconhecimento de quem aqueles cristãos eram diante de Deus (pecadores
condenados ao inferno) deveria conduzi-los para mais próximos de Deus.
Aqui é
repetido na prática o ensinamento do v.4: não é possível ser amigo do mundo (da
carne e do diabo), e ser amigo de Deus. É necessário fugir do diabo e correr
para os braços de Deus Pai.
v.8: Essa
aproximação de Deus deveria ser acompanhada de sincero e profundo
arrependimento. Era necessário clamar a Deus pela limpeza das mãos e para
arrancar o coração de pedra (mente dividida, indecisa) e clamar a Deus por um
coração voltado integralmente para Ele.
v.9: A
crescente consciência da gravidade do pecado na vida daqueles cristãos deveria
leva-los ao choro de profunda tristeza. Ah! Quanto tempo eles haviam perdido, e
ainda estavam perdendo, com brigas, disputas, corações divididos, busca por
prazeres mundanos, ao invés de honrar o Nome do Seu Deus e Rei!
Podemos
nos lembrar da aliança de Deus com Salomão, quando da consagração do templo de
Jerusalém. Deus disse:
se o meu povo, que se
chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus
maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei
a sua terra. 2Cr 7.14
O
reconhecimento de quem somos diante de Deus (bem aventurados os humildes de
espírito) certamente nos leva ao choro de profunda tristeza (bem aventurados os
que choram).
v.10: A
passagem termina com a única ação possível: humilhar-se perante o Senhor,
reconhecer totalmente que ele é o único caminho, a única verdade, a única vida,
e clamar por sua misericórdia e graça.
Tiago não
deixa os cristãos desamparados. Ele garante, com fundamento nas promessas
divinas, que a humilhação deles seria reconhecida pelo Supremo Deus e gracioso
perdoador. O Senhor honraria seu Nome e colocaria seus filhos em posições de
honra, para Sua própria Glória.
Os
cristãos que reconhecem quem são diante de Deus e, por isso, choram
sinceramente, obtém a sabedoria divina e passam a se destacar pela mansidão.
Não há
mais espaço para guerras e conflitos. A sabedoria divina conduz seus filhos à
mansidão do Espírito, como sinal externo de gratidão pela transformação de vida
operada pela obra redentora de Cristo e pela presença constante do Espírito
Santo em nossas vidas.
6.
Conclusões
A
sabedoria mundana é muito perigosa, pois leva o cristão a ser dominado por suas
paixões (desejos) carnais. Sua vida passa a ser guiada por desejos
materialistas e de dominação sobre outras pessoas, a fim de satisfazer seu ego.
O cristão
dominado pela sabedoria mundana vive em conflitos consigo mesmo e com outras
pessoas; vive em busca de conquistar dinheiro, fama, poder, para satisfazer
suas próprias paixões. Ainda que consiga essas coisas, seu desejo não é
satisfeito e ele sempre quer mais.
Tiago fez
o diagnóstico (sabedoria mundana gerava guerras entre os cristãos), apresentou
o único tratamento adequado (correr em direção a Deus e à sua Palavra) e as
consequências da busca pela sabedoria divina (humildade crescente, choro e
mansidão advinda do Senhor).
Tiago advertiu
aqueles cristãos a respeito da urgência em abandonar a sabedoria mundana e
correr para Deus, que é o Único capaz de transformar mente e coração e conceder
Sua sabedoria, que redireciona completamente a vida.
A
aproximação de Deus deve ser acompanhada de coração arrependido, de humildade e
de choro sincero, tendo fé Naquele que pode transformar a vida e colocar o
cristão em posição de honra, com uma nova disposição para servi-lo.
Bem
aventurados os humildes de espírito
Bem
aventurados os que choram
Bem
aventurados os mansos
7.
Aplicações
O que
você apresentará a Deus ao final desse ano?
Você
viveu esse ano guiado pela sabedoria mundana (paixões, guerras e conflitos, ou
pela sabedoria divina (humildade, choro e mansidão)?
Faça uma
retrospectiva de vida, reconheça seus erros, se arrependa e busque com
sinceridade a sabedoria do alto, com humildade e fé, pois nosso Deus é
perdoador e nos colocará em posição de honra, por amor do Seu Nome e para Sua
própria glória.
Soli
Deo Gloria.