TÓPICOS DA AULA
1. Explicação do termo
2. Objeto de estudo
3. A sede da religião
4. Origem da religião
5. Método de estudo
6. Fontes
6.1. Revelação Geral
6.2. Revelação Especial
7. Bibliografia
1. EXPLICAÇÃO DO TERMO
Teologia Sistemática é a matéria que se ocupa do
estudo das doutrinas cristãs organizadas por assuntos, geralmente de maneira
“cronológica”, a fim de que o estudante consiga acumular conhecimento
“organizado” à medida que avança no estudo de cada tema. Todos os assuntos
relevantes para a religião cristã são agrupados em grandes áreas comuns e
estudados profundamente.
Geralmente, os principais teólogos dividem esses
assuntos em três grandes áreas de estudo dentro da Teologia Sistemática: o
estudo de Deus, o estudo do homem e o estudo da Redenção.
2. OBJETO DE ESTUDO
De forma genérica, o objeto de estudo da Teologia
Sistemática é o Ser de Deus, suas obras e Seu relacionamento com a criação (em
especial com o homem). Todos os temas relevantes para os cristãos decorrem
desse objeto de estudo.
3. A SEDE DA RELIGIÃO
Muitos estudiosos têm tentado explicar qual o lugar
(a sede) da religião na vida do homem. Existem três interpretações principais a
este respeito.
Conhecimento / intelecto: A religião é conhecer
Deus intelectualmente. O desenvolvimento intelectual do homem o permitirá obter
um conhecimento mais amplo, mais extensivo a respeito de Deus. Filosofia,
cultura em geral e ciência são muito valorizadas por ampliarem os horizontes de
conhecimento do homem. A religião é vista como um “estágio inferior” pelo qual
o homem tem que passar para atingir a plenitude do conhecimento, representada
pela filosofia, que o proporcionará o bem maior, a paz mental.
Essa linha de pensamento erra ao tratar a religião
como uma “ideia inferior” e necessária apenas para levar o homem ao “verdadeiro
conhecimento” representado pela filosofia. Apesar de importante em sua área de
atuação, a filosofia não se confunde e nem suplanta a necessidade da religião.
A religião é a única capaz de mostrar ao homem que o Deus Criador é também o
seu Deus pessoal e que, dentre várias outras coisas, o homem necessita
desesperadamente de redenção. Logo, a ideia de que a sede da religião é apenas
o intelecto é insuficiente e não se sustenta.
Vontade / moral: A religião se resume no amor, no
esforço para viver uma vida virtuosa e obediente. A teoria é minimizada em
favor da prática de uma moralidade superior. Não é necessário gastar tanto
tempo com ideias teóricas sobre Deus e o homem, mas é preciso aproveitar esse
tempo para viver a prática. A religião consiste em conhecer os imperativos (as
ordens) divinos para obedecê-los. A dogmática é subordinada à ética. Existe uma
supervalorização da vontade. Tal ideia é fortemente abraçada pelos pelagianos e
semipelagianos (arminianos).
A supervalorização da vida virtuosa pode, em
princípio, parecer uma boa prática a ser seguida. Afinal, se as pessoas forem
mais virtuosas, praticarem mais atos moralmente aceitáveis, isso implicará em
um mundo melhor para todos. Porém, essa lógica não é verdadeira. A valorização
extrema da vida prática esconde um grande perigo: os homens só praticam aquilo
que entendem como certo, ou seja, qualquer pessoa faz aquilo que aprendeu e
entendeu como correto. Logo, não há prática sem conhecimento. Não há como
defender que a sede da religião é a vontade, pois para que a vontade seja
exercida é necessário que o homem tenha conhecimento do que pode ser feito. Não
há como decidir ser “amoroso” ou “bondoso” sem saber o verdadeiro significado
de “amor” e “bondade”. A própria moral está ancorada nos atributos divinos que
são comunicados ao homem por meio da revelação. Sem o parâmetro divino, a moral
torna-se uma questão extremamente subjetiva e mutável de acordo com a cultura e
o momento histórico. Além disso, pessoas, costumes e a moralidade em geral não
podem constranger a consciência de uma pessoa, não são capazes de modificar o
caráter de alguém. Somente Deus pode fazer isso. A prática de uma moral
desassociada do correto conhecimento a respeito de Deus é apenas uma ilusão.
Sentimento: A religião é a percepção, o sentimento
do divino. O homem deve buscar a contemplação do belo, do ideal, da poesia, da
perfeição constantes no divino. Supervalorização do estético e das emoções. O
coração é o centro da religião.
Essa interpretação contém o grande risco de
confundir o sentimento religioso com o sentimento sensual e estético. A
supervalorização da prática amorosa desacompanhada da correta instrução
intelectual pode conduzir ao exercício do amor sensual em lugar do verdadeiro
amor religioso. Por fim, a prática estética e o esforço na construção do belo
não são capazes de conduzir o homem ao arrependimento, à confissão de pecados,
à consciência da necessidade de perdão e de redenção. O teatro não pode
substituir a Igreja.
Essas três interpretações são insuficientes para
explicar a sede da religião exatamente porque a religião não é limitada a
apenas uma faculdade humana. A religião abrange a totalidade do ser humano:
mente, vontade e coração. A religião é apreendida pelo homem através da mente,
penetra o coração, leva-o a uma vida de adoração e transforma sua vontade,
capacitando-o a cumprir os mandamentos de Deus.
Por esta razão, todas as áreas da vida humana são
afetadas e influenciadas pela religião: a ciência, a moralidade e a arte; o
dogma, a lei e o culto; a família, a sociedade e o estado. A religião é o
fundamento da verdade, do bem e da beleza. Não há como viver sem a religião,
pois dela emergem os absolutos tão necessários para a formação do caráter
individual e da ética coletiva.
“(...) Na vida e na história da humanidade, ela ocupa
um lugar independente só seu, desempenhando um papel exclusivo e totalmente
controlador. Sua indispensabilidade pode até mesmo ser demonstrada pelo fato de
que toda vez que as pessoas rejeitam a religião como uma ilusão, elas novamente
se voltam a alguma criatura como seu deus, tentando, assim, compensar sua
necessidade religiosa de alguma forma. (...)”[1]
4. ORIGEM DA RELIGIÃO
Antes de ser possível estudarmos os assuntos
relacionados à Teologia Sistemática, é importante pensarmos um pouco à respeito
da seguinte questão: Qual é a origem da religião?
Essa é um pergunta intrigante e que sempre ocupou a
mente dos estudiosos. Os historiadores foram os primeiros a tentarem formular
uma resposta. Eles sugeriram que a religião foi “descoberta” pelo homem em
algum momento da história. Contudo, essa hipótese não conseguiu se sustentar
por muito tempo, pois mesmo entre os povos mais primitivos já descobertos foram
encontrados sinais de adoração a algum ser superior, ou seja, sinais do
exercício de algum tipo de religião. Até hoje não se tem notícia de nenhum povo
ateu, que não adorava algum “deus” ou ser superior, ainda que fosse o sol ou o
fogo.
A segunda tentativa de explicar a origem da
religião foi a partir do aspecto psicológico. A religião nasceu do medo (temor)
dos homens em relação à natureza. A fim de tentar conservar sua existência, os
homens tiveram a ideia de pedir ajudar a um “poder superior”. A adoração de tal
“poder” seria uma forma de agradá-lo e de fazer com que ele viesse em auxílio
dos homens contra as poderosas forças da natureza. Tal hipótese também não se
sustenta: 1- Não resolve o problema histórico, pois todas as civilizações
conhecidas adoravam algum deus, logo, não há explicação para quais foram os
primeiros homens a instituírem a religião em seu cotidiano; 2- O grande
desenvolvimento científico e tecnológico obtido pelo homem deveria ter sido
suficiente para afastar o temor em relação à natureza. O homem “tecnológico”
não precisaria mais da “ajuda” da religião. Entretanto, ao contrário disso, a
realidade nos mostra um grande paradoxo: o homem desenvolveu a tecnologia de
forma jamais vista antes, tem grande conhecimento a respeito da natureza, contudo,
de forma majoritária permanece fortemente religioso. 3- Nessa hipótese
constata-se que não é Deus quem criou o homem, mas sim o homem quem criou um
deus conforme suas necessidades, o que vai de encontro à própria ideia de
religião, que é adorar um ser superior, mais poderoso. A lógica desse ponto de
vista não se sustenta, pois um ser inferior não tem condições de criar um ser
superior para chamá-lo de “deus” e adorá-lo.
As hipóteses histórica e psicológica não são
suficientes para explicar a origem da religião porque partem do ponto de
partida equivocado. Qualquer tentativa de explicar a origem da religião a
partir do homem será frustrada, pois a religião não foi criada pelo homem, a
adoração a um ser superior não partiu do homem para satisfazer suas
necessidades. A religião foi criada por Deus, a necessidade de adoração foi
instituída por Deus e colocada no coração do homem quando ele foi criado.
Aqui, ficamos apenas com duas opções: 1- a religião
é tolice porque Deus não existe ou, se existe, é totalmente incognoscível; ou
2- a religião é verdadeira, mas requer e pressupõe a existência e a revelação
de Deus em um sentido rigorosamente lógico e científico. Logo, todos que
admitem a existência da religião (e a prática de todos os povos conhecidos comprova
sua efetiva existência) são forçados a admitir que a religião somente é
possível em razão da existência de Deus e de sua autorrevelação ao homem.
“(...) A conclusão da investigação acima não pode ser
outra senão que temos de escolher outro ponto de partida e seguir outro método.
A essência e a origem da religião não podem ser explicadas por meio dos métodos
histórico e psicológico: seu direito de existir e seu valor não podem ser
mantidos por esses meios. Não é possível (tentar) entender a religião sem Deus.
Deus é o grande pressuposto da religião. Sua existência e sua revelação são o
fundamento sobre o qual repousa toda religião humana. (...)”[2]
5. MÉTODO DE ESTUDO
Como dito em tópico anterior, para ser possível
existir religião é necessário que Deus se revele ao homem. A revelação é o
requisito indispensável em todas as religiões existentes. O homem somente pode
conhecer algo a respeito de Deus se o próprio Deus se revelar ao homem. O
finito, o limitado, o ser criado não tem condições de descobrir qualquer coisa
a respeito do infinito, do ilimitado, do Criador, exatamente porque lhe falta
capacidade de sequer se aproximar de Deus. A religião ocorre por meio de uma
relação do homem com Deus, e para isso ser possível é necessário que Deus se
faça cognoscível ao homem.
A necessidade da revelação é comprovada por outra
consideração. O objetivo principal do homem na religião é obter a salvação, a
redenção, a libertação do mal. A grande pergunta é: O que devo fazer para ser
salvo? A religião é o meio utilizado pelo homem para obter de Deus a resposta
para essa pergunta crucial. E essa resposta só pode ser obtida através da
comunicação de Deus com o homem. É Deus quem se revela ao homem e diz o que ele
precisa fazer para ser salvo.
Logo, o método de estudo da Teologia Sistemática compreende
o exame exaustivo, tanto quando possível, das fontes por meio das quais Deus se
revelou ao homem.
6. FONTES
Quais são as fontes que Deus utilizou para
revelar-se, descobrir-se ao homem? A Teologia Sistemática distingue duas fontes
de revelação divina: a geral e a especial.
6.1. REVELAÇÃO GERAL
A revelação geral compreende a criação e as
relações gerais de Deus com o homem. Por meio da criação, Deus revelou ao homem
vários dos seus atributos (características), como poder, conhecimento, bondade,
entre outros. Estudar as coisas criadas é uma das formas dadas por Deus ao
homem para conhecê-lo e adorá-lo. Da mesma forma, ao relacionar-se com o homem,
Deus faz conhecidos outros atributos, como amor, misericórdia, imensidão etc. A
revelação geral é denominada “a luz divina que ilumina todos os homens”.
Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento
anuncia as obras das Suas mãos. Sl 19.1
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim como seu
eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem,
desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram
criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis. Rm 1.20
6.2. REVELAÇÃO ESPECIAL
A revelação especial está fundamentada na obra
redentora de Deus, efetuada por Jesus Cristo, e tem o objetivo de suprir as
necessidades espirituais e morais do homem e restaurar sua comunhão com Deus.
Através da revelação especial o homem é restaurado pela obra redentora de Cristo
e recebe de Deus as “ferramentas” necessárias para ouvir, entender e obedecer
Sua vontade: nova mente, novo coração e a fé. O Espírito Santo passa a habitar
nesse novo homem que deseja intensamente adorar a Deus como manifestação de
gratidão pela redenção.
Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o
Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o
Filho o quiser revelar. Mt 11.27
Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios
e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de
Jesus Cristo. 1 Pe 1.13
7. BIBLIOGRAFIA
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: volume 1;
traduzido por Vagner Barbosa. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.
BERKHOF, Louis. Manual de Doutrina Cristã;
traduzido por Joaquim Machado. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática; traduzido por
Odayr Olivetti. 4ª Edição Revisada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.
TURRENTINI, François. Compêndio de Teologia
Apologética: volume 1; traduzido por Valter Graciano Martins. São Paulo:
Cultura Cristã, 2011.
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