domingo, 7 de dezembro de 2014

O evangelho segundo o Antigo Testamento


O EVANGELHO SEGUNDO O ANTIGO TESTAMENTO



TÓPICOS DA AULA

- Quem foi e é Jesus Cristo?
- A importância do Antigo Testamento neste tema
- A revelação de Cristo no Antigo Testamento:
            Revelação progressiva
            Expectativas cumpridas em Cristo
            Modos de revelação de Cristo



QUEM FOI E É JESUS CRISTO?

Esta pergunta foi feita diversas vezes a Jesus e continua a ser feita atualmente.

Então, lhe perguntaram: Quem és tu? Jo 8.25a

Rodearam-nos, pois, os judeus e o interpelaram: Até quando nos deixarás a mente em suspenso? Se tu és o Cristo, dize-o francamente. Jo 10.24

Jesus, porém, guardou silêncio. E o sumo sacerdote lhe disse: Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Mt 26.63

Ele, porém guardou silêncio e nada respondeu. Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? Mc 14.61

Se tu és o Cristo, dize-nos. Então, Jesus lhes respondeu: Se vo-lo disser, não o acreditareis; Lc 22:67


Muitas definições existem sobre Jesus: grande homem, mestre exemplar, revolucionário social, líder carismático etc.

Como descobrir quem foi Jesus?

Examinai as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. (...) Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Jo 5.39, 46

Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Mt 5.17

A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Lc 24.44


A única forma correta de se descobrir quem foi Jesus é examinar cuidadosamente o que está escrito nas Escrituras Sagradas.

Cabe aqui ressaltar a importância dada ao Antigo Testamento por Jesus. Ele disse que a lei de Moisés testificava (testemunhava, declarava algo) sobre Ele, e que Seu objetivo era cumprir integralmente essa lei.

Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. Lc 24.26,27

Sendo assim, para compreender quem foi Jesus Cristo, é necessário descobrir o que a lei, os profetas e os salmos falam sobre Ele, ou seja, é necessário estudar o Antigo Testamento.


A REVELAÇÃO DE CRISTO NO ANTIGO TESTAMENTO

“Há uma concordância geral entre os estudiosos e leitores do Antigo Testamento de que aquilo que está registrado nele pode ser chamado de revelação. Falando simplesmente, as pessoas concordam que o termo revelação é o termo correto quando está se referindo ao conteúdo do Antigo Testamento. A revelação acontecia quando havia uma manifestação do que estava na mente do nosso Deus trino. Revelar quer dizer descobrir o que está escondido. É abrir a mente e o coração e expressar o que está neles. Esse conteúdo expressado é revelação quando não era conhecido antes que a abertura ou atividade reveladora acontecesse. Para resumir, poderia dizer que a revelação se refere ao que é novo ou desconhecido. Não era conhecido, nem percebido, nem considerado antes que fosse revelado.”
Gerard Van Groningen. O progresso da revelação no Antigo Testamento; tradução Sachudeo Persaud. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, pág. 13


Revelação: manifestação de Deus a fim de permitir aos homens que conheçam algo a Seu respeito.

Toda a revelação dada por Deus está encerrada nas Escrituras Sagradas.

Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. II Tm 3.16,17

Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus. Mt 22.29


A revelação foi dada por Deus de forma progressiva, com início na criação.

“O relato da criação em Gênesis um e dois revela duas realidades muito importantes. Primeira, deve ser compreendido e aceito que as palavras de Yahweh Deus não eram meras expressões verbais. As palavras divinas foram faladas com habilidade e poder. O que Deus disse se tornou realidade. Quando ele falou, ele fez, produziu, separou, formou e revelou os propósitos e metas daquilo que ele trouxe à existência ao falar.
Em segundo lugar, Yahweh revelou ordem conforme ele progredia em suas palavras e seus atos de criação. Por exemplo, o homem, a mais alta e mais complicada realidade criada por Deus, não foi verbalizado e trazido em existência primeiro. Antes, as necessidades básicas para cada estágio criado foram produzidas em primeiro lugar. Luz e céu precederam mares e terra. Isto estabeleceu o contexto para a criação de todos os tipos de vegetação. Estes por sua vez tinham necessidade dos corpos celestiais que produziam luz – o Sol e a Lua. Estes também regulavam dia e noite. Então, o contexto estava pronto para seres que respiram e comem: animais para habitar a terra e peixes para as águas. Quando o progresso foi completado: aqueles que carregavam a imagem de Yahweh Deus, seus vice-gerentes, tinham o ambiente perfeito em que podiam viver e atuar em obediência. Deveras, havia progresso na criação, sendo que progresso na revelação havia precedido cada ato de criação. O último ato de criação foi necessário para o homem efetuar seus deveres divinamente entregues. A semana foi estabelecida – seis dias para trabalhar, um dia para descansar e adorar.”
Gerard Van Groningen. O progresso da revelação no Antigo Testamento; tradução Sachudeo Persaud. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, pág. 22-23


EXPECTATIVAS CUMPRIDAS EM CRISTO

1- A VINDA DO REDENTOR

Quando o homem pecou, Deus fez uma promessa de salvação: um descendente da mulher, mesmo ferido, esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3.15).

Tal passagem é conhecida pelos estudiosos como “protoevangelho”.

“A mensagem tem sido considerada a primeira revelação redentora (ou evangelho) no Antigo Testamento embora muitos escritores críticos não concordem e alguns escritores evangélicos tenham expressado alguma incerteza. A primeira mensagem da redenção não foi somente a respeito da atividade redentora messiânica e da vitória assegurada, mas também incluiu a revelação com respeito à antítese divinamente estabelecida, concernente ao juízo certo que aguarda Satanás. (...)
Concluindo, Deus Yahweh continuou o processo da história quando o pecado entrou. Ele revelou os termos. Ele revelou que seu escaton pretendido seria realizado. Assim como o escaton foi embutido no seu pacto da criação, assim a consumação vitoriosa é embutida no pacto redentor. O protoevangelho nos assegura isto. Mas Deus Yahweh não incluiu uma referência ao tempo que levará para realizar a consumação.”
Gerard Van Groningen. Criação e Consumação, volume 1: O Reino, a Aliança e o Mediador. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, págs. 134, 161.


O Antigo Testamento enfatiza que Jesus Cristo seria um descendente de Abraão, da tribo de Judá, da linhagem real de Davi.

Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. Gn 12.3

O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre os seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos. Gn 49.10

Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; o teu trono será estabelecido para sempre; 2 Sm 7.16


O Antigo Testamento também ressalta os ofícios de Cristo:

Profeta: Suscitar-lhes-ei um profeta no meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. Dt 18.18

Sacerdote: O SENHOR jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Sl 110.4

Rei: Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isso. Is 9.6,7


2- A chegada do reino de Deus

Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho. Mc 1.14,15


Apesar de não existir a expressão “reino de Deus” no Antigo Testamento, seu significado é fortemente presente nos escritos e claramente percebido pelo povo judeu daquela época.

Os oráculos proféticos apontavam para uma era vindoura de paz e salvação para o povo de Deus, associada à destruição dos seus inimigos.

O reino de Deus é a realidade da redenção trazida à luz pela chegada de Jesus Cristo, o Messias prometido desde o Antigo Testamento.


Eis aí está que reinará um rei com justiça, e em retidão governarão príncipes. Is 31.1

Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contato com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. Is 53.11,12

Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. Dn 7. 13,14


MODOS DE REVELAÇÃO DE CRISTO

Como Jesus Cristo se revelou aos homens no Antigo Testamento?

1- Por meio de promessas e profecias: os Evangelhos demonstram que Jesus é aquele em quem todas as promessas profetizadas se cumprem.

2- Por meio da tipologia: “tipos” são pessoas ou fatos que referiam-se à pessoa e obra de Jesus Cristo.

Exemplos existentes no Antigo Testamento:
- Jonas. Mt 12.40,41
- A serpente levantada no deserto. Jo 3.14,15 (Nm 21.9)

Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra. Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas. Mt 12.40, 41

E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Jo 3.14,15

Fez Moisés um serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava. Nm 21.9


CONCLUSÕES

- Jesus é o Filho de Deus, o Messias Prometido, que veio salvar o seu povo. “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” Mt 16.16

- Para ser possível compreender quem é Jesus é necessário estudar o Antigo Testamento.

- Deus se revela aos homens de forma progressiva a partir da criação.

- Expectativas cumpridas em Cristo: a vinda do Redentor e a chegada do reino de Deus.

- Modos de revelação de Cristo no Antigo Testamento: por meio de promessas e profecias e por meio da tipologia.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Soberania de Deus na salvação - aula 10 - Graça irresistível e perseverança dos santos

Hoje chegamos ao final deste curso. Espero que as aulas possam contribuir para uma maior compreensão do assunto de modo específico e da Palavra de Deus de modo geral, bem como para fortalecer a fé dos cristãos.

Agradeço ao Senhor por ter permitido a elaboração dessas aulas. A Ele toda glória e honra hoje e pelos séculos dos séculos.




SOBERANIA DE DEUS NA SALVAÇÃO


AULA 10

GRAÇA IRRESISTÍVEL E
PERSEVERANÇA DOS SANTOS



TÓPICOS DA AULA

- Graça comum: definição
- Meios de ação da graça comum
- Frutos da graça comum
- Distinção entre graça comum e graça especial
- Graça irresistível: Deus força as pessoas a irem para o céu?
- Definições do termo “graça” na obra da redenção

- Perseverança dos santos: conceito
- Provas bíblicas da doutrina da perseverança dos santos
- Principais objeções à doutrina da perseverança dos santos



GRAÇA COMUM

“(...) Como podemos explicar a vida relativamente ordenada que há no mundo, se sabemos que o mundo inteiro jaz sob a maldição do pecado? Como é que a terra dá fruto precioso e abundante, em vez de só produzir espinhos e abrolhos? Como podemos explicar o fato de que o homem pecador ainda conserva algum conhecimento de Deus, das coisas naturais e da diferença entre o bem e o mal, e demonstra alguma consideração pela virtude e pelo bom comportamento exterior? Que explicação se pode dar dos dons e talentos especiais de que o homem natural é dotado, e do desenvolvimento da ciência e da arte por gente totalmente vazia da nova vida que há em Cristo Jesus? Como podemos explicar as aspirações religiosas dos homens de toda parte, até de pessoas que não tiveram contato com a religião cristã? Como é que os não regenerados ainda podem falar a verdade, fazer o bem aos outros e levar vidas exteriormente virtuosas?”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 399


O surgimento da doutrina da graça comum foi motivado para responder estas perguntas.

“Ele [Calvino] sustentava firmemente que o homem natural não pode, por si mesmo, fazer nenhuma boa obra, e insistia vigorosamente na natureza particular da graça salvadora. Ao lado da doutrina da graça particular, ele desenvolveu a doutrina da graça comum. Esta graça é comunal, não perdoa nem purifica a natureza humana, e não efetua a salvação dos pecadores. Ela reprime o poder destrutivo do pecado, mantém em certa medida a ordem moral do universo, possibilitando assim um vida ordenada, distribui em vários graus dons e talentos entre os homens, promove o desenvolvimento da ciência e da arte, e derrama incontáveis bênçãos sobre os filhos dos homens.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 400



MEIOS DE AÇÃO DA GRAÇA COMUM

1- A luz da revelação de Deus.

Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho. Rm 2.14-16

“Comentando esta passagem, Calvino diz que esses gentios “provam que há impressa em seus corações uma capacidade de discriminação e de julgamento com que eles distinguem entre o que é justo e o que é injusto, entre o que é honesto e o que é desonesto.”” João Calvino, Comentário de Romanos, in loco, in Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 406


2- Governos.

Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas (...) visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem (...). Rm 13 1, 4a

“Cremos que o nosso gracioso Deus, devido à depravação da humanidade, designou reis, príncipes e magistrados, desejoso que o mundo seja governado por certas leis e formas de vigilância, com o fim de que a dissolução dos homens fosse refreada e todas as coisas fossem conduzidas com boa ordem e decência entre eles.” Confissão Belga, Artigo XXXVI


3- Opinião pública.

“A luz que brilha nos corações dos homens, especialmente quando reforçada pela influência da revelação especial de Deus, resulta na formação de uma opinião pública em extrema conformidade com a lei de Deus, e isso tem tremenda influência sobre a conduta dos que são sensíveis ao julgamento da opinião pública.” Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 407


4- Punições e recompensas divinas.

“As disposições providenciais de Deus, pelas quais ele visita a iniquidade dos homens neles mesmos, nesta vida, e recompensa as ações que se harmonizam exteriormente com a lei divina, atendem a um importante propósito, refreando o mal existente no mundo.” Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 407



FRUTOS DA GRAÇA COMUM

1- É sustada a execução da sentença divina.

“É devido à graça comum que Deus não executou plenamente a sentença da morte no pecador, e não o faz agora, mas mantém e prolonga a vida natural do homem e lhe dá tempo para arrependimento. Ele não dá logo fim à vida do pecador, mas lhe dá oportunidade para arrepender-se, tirando com isso qualquer motivo para desculpa e justificando a vindoura manifestação da sua ira sobre os que persistirem no pecado até o fim. Que Deus age com base neste princípio evidencia-se amplamente em passagens como Is 48.9, Jr 7.23-25, Lc 13.6-9, Rm 2.4; 9.22; 2 Pe 3.9.” Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 407


2- Restrição do pecado.

“Pela operação da graça comum, o pecado sofre restrições na vida dos indivíduos e na sociedade. Ao elemento de corrupção que entrou na vidada raça humana não é permitido, por ora, realizar a sua obra desintegradora. (...) Esta repressão pode ser externa ou interna ou ambas, mas não muda o coração.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 408

Gn 6.3; 20.6; 31.7, 2 Rs 19.27, Sl 81.12, Is 63.10, Jo 1.12, At 7.51, Rm 1.24,26,28



3- Preservação de alguma percepção da verdade, moralidade e religião. Rm 1.18-25, At 17.22


4- A prática do bem público e da justiça civil. 2 Rs 10.29,30; 12.2 (cp. 2 Cr 24.17-25); 14.3,14-16,20,27 (cp. 2 Cr 25.2); Lc 6.33, Rm 2.14,15


5- Muitas bênçãos naturais. Gn 17.20 (cp versículo 18); 39.5; Sl 145.9,15,16; Mt 5.44,45; Lc 6.35,36; At 14.16,17; 1Tm 4.10

Extraído e adaptado de Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 408-409.



DISTINÇÃO ENTRE GRAÇA COMUM E GRAÇA ESPECIAL

Extraído e adaptado de Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 402-403.


1- A extensão da graça especial é determinada pelo decreto da eleição.

Esta graça limita-se aos eleitos, ao passo que a graça comum não sofre esta limitação, mas é outorgada indiscriminadamente a todos os homens.

2- A graça especial remove a culpa e a penalidade do pecado, muda a vida interior do homem, e gradativamente o purifica da corrupção do pecado pela operação sobrenatural do Espírito Santo. A graça comum apenas restringe a influência corruptora do pecado e, em certa medida, suaviza os seus resultados.

3- A graça especial é irresistível, eficaz. Já a graça comum é resistível e ineficaz em levar o homem ao arrependimento e à fé.

4- A graça especial renova completamente a natureza do homem, tornando-o capaz e desejoso de aceitar a oferta de Cristo. A graça comum opera apenas de modo racional e moral.

Os arminianos defendem que a graça comum é suficiente para capacitar o homem a praticar o bem espiritual e converte-se a Deus com arrependimento e fé. Tal doutrina não encontra qualquer respaldo nas Escrituras Sagradas e já foram veementemente rejeitadas pelo Sínodo de Dort e por todos os padrões confessionais reformados.



GRAÇA IRRESISTÍVEL: DEUS FORÇA AS PESSOAS A IREM PARA O CÉU?

“O mau entendimento do estudante a respeito da graça irresistível é generalizado. Uma vez ouvi o presidente de um seminário presbiteriano declarar: “Não sou um calvinista porque não creio que Deus traga algumas pessoas ao reino, esperneando e gritando contra suas vontades, e exclua outras do reino, que desesperadamente queriam estar lá.””
R.C. Sproul, Eleitos de Deus; tradução de Gilberto Carvalho Cury. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pág. 92.


Tal declaração demonstra completo desconhecimento a respeito da doutrina do pecado, da situação do homem caído, da obra de redenção de Deus e de sua aplicação no homem.
“O Calvinismo não ensina e nunca ensinou que Deus traz pessoas esperneando e gritando para o reino, ou exclui alguém que quisesse estar lá. Lembre-se que o ponto cardeal da doutrina reformada da predestinação está no ensino bíblico da morte espiritual do homem. O homem natural não quer Cristo. Ele só vai querer Cristo se Deus plantar um desejo por Cristo em seu coração. Uma vez que esse desejo está plantado, aqueles que vêm a Cristo não vêm esperneando e gritando contra a sua vontade. Eles vêm porque querem vir. Eles agora desejam Jesus. Eles correm para o Salvador. Toda a questão da graça irresistível é que o renascimento vivifica a pessoa para a vida espiritual de tal maneira que Jesus agora é visto em sua irresistível doçura. Jesus é irresistível para aqueles que foram feitos vivos para a coisas de Deus. Toda alma cujo coração bate com vida de Deus dentro de si anseia pelo Cristo vivo. Todos aqueles que o Pai der a Cristo, vêm a Cristo (Jo 6.37).”
R.C. Sproul, Eleitos de Deus; tradução de Gilberto Carvalho Cury. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pág. 92-93.



A GRAÇA DE DEUS NA OBRA DA REDENÇÃO

O termo “graça de Deus” pode ser definido de três formas que se complementam na obra da redenção:

1- A graça é um atributo de Deus, uma das perfeições divinas.

“a. Em primeiro lugar, a graça é um atributo de Deus, uma das perfeições divinas. É o livre, soberano e imerecido favor ou amor de Deus ao homem, no estado de pecado e culpa em que este se encontra, favor que se manifesta no perdão do pecado e no livramento da pena. A graça está relacionada com a misericórdia de Deus, em distinção da sua justiça. Esta é uma graça redentora no sentido mais fundamental da expressão. É a causa última do propósito eletivo de Deus, da justificação do pecador e da sua renovação espiritual; é a prolífica fonte de todas as bênçãos espirituais e eternas.” Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 394


2- Designa a provisão que Deus fez em Cristo para a salvação do homem.

“b. Em segundo lugar, o termo “graça” é empregado como um designativo da provisão objetiva que Deus fez em Cristo para a salvação do homem. Cristo, como Mediador, é a encarnação viva da graça de Deus “E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade”, Jo 1.14. Paulo tem em mente a manifestação de Cristo, quando diz: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens”, Tt 2.11. Mas o termo não é aplicado somente ao que Cristo é, mas também ao que Ele mereceu para os pecadores. Quando Paulo fala, repetidamente, nas saudações finais das suas epístolas, da “graça de nosso Senhor Jesus Cristo”, ele tem em mente a graça da qual Cristo é a causa meritória. Diz João: “...a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”, Jo 1.17. Cf. também Ef 2.7.” Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 395


3- É empregada para designar o favor de Deus demonstrado na aplicação da obra da redenção pelo Espírito Santo.

“c. Em terceiro lugar, a palavra “graça” é empregada para designar o favor de Deus como é demonstrado na aplicação da obra da redenção pelo Espírito Santo. É aplicada ao perdão que recebemos na justificação, um perdão dado gratuitamente por Deus (...).” Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 395



PERSEVERANÇA DOS SANTOS

“A doutrina da perseverança dos santos tem o sentido de que aqueles que Deus regenerou e chamou eficazmente para um estado de graça não podem cair nem total nem definitivamente, mas certamente perseverarão nele até o fim e serão salvos para toda a eternidade.” Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 501


“Somos capazes de perseverar somente porque Deus opera em nós, com nossas vontades livres. E, porque Deus está operando em nós, temos a certeza de perseverar. Os decretos de Deus concernentes à eleição são imutáveis. Eles não mudam porque ele não muda. Todos os que ele justifica, ele glorifica. Nenhum dos eleitos jamais é perdido.”R.C. Sproul, Eleitos de Deus; tradução de Gilberto Carvalho Cury. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pág. 132.



PROVAS BÍBLICAS DA DOUTRINA DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS

As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e niguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. Jo 10.27-29

Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas; porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. Rm 11.28-29

Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. Fp 1.6

e, por isso, estou sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia. 1Tm 1.12



PROVAS POR INFERÊNCIA

Extraído e adaptado de Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 502-503.

- A doutrina da eleição tem início nos planos eternos de Deus, elaborados antes da fundação do mundo, está em curso, com a pregação ativa do Evangelho por todo o mundo, e terá seu fim glorioso com o arrebatamento de todos os eleitos pelo Senhor Jesus Cristo. Nada pode impedir que este plano de Deus seja frustrado.

- A aliança da redenção foi firmada unicamente através do sacrifício de Cristo, que é poderoso e suficiente para cumprir o propósito de salvar os eleitos. Não há na Bíblia a condição de fidelidade incerta do homem.



PRINCIPAIS OBJEÇÕES À DOUTRINA DA PERSEVERANÇA DOS SANTOS

1- Não se harmoniza com a liberdade humana.

“Essa objeção parte da falsa pressuposição de que a verdadeira liberdade consiste na liberdade da indiferença, ou no poder de fazer escolha contrária em questões morais e espirituais. Contudo, isto é errôneo. A verdadeira liberdade consiste exatamente na autodeterminação rumo à santidade. O homem nunca é mais livre do que quando se move conscientemente em direção a Deus. E o cristão está com essa liberdade pela graça de Deus.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 503


2- Leva à indolência e à imoralidade.

“Assevera-se confiadamente que a doutrina da perseverança conduz à indolência, ao abuso e até à imoralidade. Se diz que ela resulta em uma falsa segurança. Esta é, porém, uma noção equivocada, pois, conquanto a Bíblia nos diga que somos guardados pela graça de Deus, ela não fomenta a ideia de que Deus nos guarda sem que de nossa parte haja constante vigilância, diligência e oração. É difícil ver como uma doutrina que garante ao crente uma perseverança na santidade pode ser um incentivo ao pecado. Quer-nos parecer que a certeza de sucesso na luta ativa pela santificação é o melhor estímulo possível para esforços cada vez maiores.”
Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 503-504


3- É contrária à Escritura.

- Há advertências contra a apostasia que pareceriam completamente sem razão de ser, se o crente não pudesse cair.

Mt 24.12; Cl 1.23; Hb 2.1; 3.14; 6.11; 1Jo 2.6.

Estes textos servem de instrumento para exortar os crentes a manterem-se no caminho da perseverança. Não provam que aqueles a quem se dirigem irão apostatar da fé, mas simplesmente que o uso dos meios é necessário para impedi-los de cometer este pecado.
- Dizem que a Escritura registra diversos casos de apostasia concretizada.
1Tm 1.19,20; 2Tm 2.17,18; 4.10; Hb 6.4-6; 2Pe 2.1,2


“Mas estes exemplos não provam a alegação de que os crentes verdadeiros, de posse da verdadeira fé salvadora, podem cair da graça, a não ser que se demonstre primeiro que as pessoas indicadas nestas passagens tinham a verdadeira fé em Cristo, e não uma simples fé temporal, não arraigada na regeneração. A Bíblia nos ensina que há pessoas que professam a fé verdadeira e que, todavia, não pertencem à fé, Rm 9.6; 1Jo 2.19; Ap 3.1. João fala sobre alguns deles: “Eles saíram de nosso meio”, e, à guisa de explicação, acrescenta: “entretanto, não eram dos nossos; porque,se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco”, 1Jo 2.19.” Louis Berkhof, Teologia Sistemática; traduzido por Odayr Olivetti. 4ª edição. Revisada. São Paulo: Cultura Cristã. 2012. p. 504


“Repetimos nosso aforismo: Se nós temos, nunca perdemos; se perdemos, é porque nunca tivemos. Reconhecemos que a Igreja de Jesus Cristo é um corpo misto. Há joio que vive lado a lado com o trigo; cabras que vivem lado a lado com as ovelhas. A parábola do semeador deixa claro que as pessoas podem ter uma experiência de falsa conversão. Elas podem ter uma aparência de fé, mas aquela fé pode não ser genuína.
Conhecemos pessoas que se “converteram” muitas vezes. Cada vez que há um culto evangelístico na igreja elas vão até o altar e se “salvam”. Um ministro contou sobre um homem em sua congregação que foi “salvo” dezessete vezes. Durante um encontro de reavivamento, o evangelista fez um chamado ao altar daqueles que queriam ser plenos com o Espírito. O homem que havia se convertido tantas vezes dirigiu-se ao altar novamente. Uma mulher da congregação gritou: “Não o encha, Senhor! Ele vaza!”.” R.C. Sproul, Eleitos de Deus; tradução de Gilberto Carvalho Cury. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. pág. 134.



CONCLUSÕES

- A graça comum reprime o poder destrutivo do pecado, mantém em certa medida a ordem moral do universo e distribui em vários graus dons e talentos entre os homens.

- Meios de ação da graça comum: a luz da revelação de Deus, governos, opinião pública, punições e recompensas divinas.

- Frutos da graça comum: é sustada a execução da sentença divina; restrição do pecado; preservação de alguma percepção da verdade, moralidade e religião; a prática do bem público e da justiça civil; bênçãos naturais.



CONCLUSÕES

- A extensão da graça especial é determinada pelo decreto da eleição; a graça especial remove a culpa e a penalidade do pecado, muda a vida interior do homem, e gradativamente o purifica da corrupção do pecado; a graça especial é irresistível; a graça especial renova completamente a natureza do homem, tornando-o capaz e desejoso de aceitar a oferta de Cristo, a graça comum opera apenas de modo racional e moral.

- Definições da graça de Deus na obra da redenção: é um atributo de Deus; designa a provisão que Deus fez em Cristo para a salvação do homem; designa o favor de Deus demonstrado na aplicação da obra da redenção pelo Espírito Santo.

- Perseverança dos santos: aqueles que Deus regenerou e chamou eficazmente para um estado de graça não podem cair nem total nem definitivamente, mas certamente perseverarão nele até o fim e serão salvos para toda a eternidade.